Reportagem de Lúcio Vaz para o Correio Braziliense, 24/06/2010.

Empresa retira pedido de liberação de arroz modificado geneticamente da pauta da CNTBio. Argumento é necessidade de ampliar diálogo com membros da cadeia produtiva

“É uma decisão sábia deles. Eles iriam desgastar a própria imagem e não teriam muito a ganhar, até porque os produtores não querem” – Flávio Breseghello, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão

Pressionada por produtores, ambientalistas e pelos depoimentos de pesquisadores, a Bayer CropScience solicitou ontem à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a retirada temporária do processo do seu arroz transgênico da pauta de decisões técnicas. O Brasil seria o primeiro país a liberar a comercialização do Arroz LibertyLink (LL62), que é resistente ao herbicida glufosinato de amônio, produzido pela Bayer. O pesquisador Flávio Breseghello, da Embrapa Arroz e Feijão, afirmou ao Correio que não haveria controle sobre o arroz modificado geneticamente.

“Não tenho nada contra os transgênicos. O problema é que não teremos controle desse pela existência do arroz vermelho. Ele será cruzado com o arroz vermelho. Se um dia quisermos eliminar o arroz transgênico do campo, não vai ser possível, porque ele estará nas plantas de arroz vermelho, que também se tornarão resistentes a esse produto”, explicou o pesquisador da Embrapa. Na avaliação dele, “essa tecnologia terá vida curta, porque essa planta invasora se tornará resistente ao herbicida. Em no máximo 10 anos, o herbicida perde o efeito”.

Ambientalistas que participaram das audiências públicas na CTNBio afirmam que, com a resistência ao agrotóxico, o arroz transgênico não morrerá, mas absorverá o veneno, que irá também para os grãos. A Bayer nega esse risco de contaminação. Afirmou ao Correio que o LibertyLink já recebeu liberação total para cultivo e para uso em alimentos e rações nos Estados Unidos. “Aprovações de importação e para o consumo de arroz já foram obtidas no Canadá, no México, na Austrália e na Nova Zelândia. Além disso, já há uma avaliação científica positiva para o Arroz LibertyLink na União Europeia”, disse a empresa em nota à reportagem.

Retomada anunciada

Apesar disso, a Bayer anunciou ontem a retirada do processo de pauta na CTNBio. “Essa abordagem proativa da empresa resulta da necessidade de ampliar o diálogo com os principais integrantes da cadeia de produção de arroz no Brasil. Uma vez que se chegue a uma conclusão frutífera, retomaremos o processo de aprovação para o uso comercial do produto”, justificou a empresa.

Segundo a Bayer, a tecnologia LibertyLink foi desenvolvida no arroz para atender a demanda dos produtores por uma solução mais eficiente e sustentável no controle de plantas danosas. “Essa tecnologia, já disponível mundialmente no algodão, na canola, na soja e no milho, oferece aos agricultores mais uma alternativa de amplo espectro às soluções herbicidas já existentes, com opções adicionais para o efetivo controle de plantas daninhas de uma forma muito reconhecida, ambientalmente compatível e sustentável.”

Breseghello comentou a iniciativa da empresa: “É uma decisão sábia deles. Eles iriam desgastar a própria imagem e não teriam muito a ganhar, até porque os produtores não querem. Foi uma decisão comercial. Concluíram que os potenciais desgastes de imagem seriam maiores que os potenciais lucros. Foi uma decisão empresarial.”