JC e-mail 4061, de 27 de Julho de 2010

O uso de transgênicos foi o tema discutido na primeira sessão do “Ciência em Ebulição”, realizada nesta segunda-feira na 62ª Reunião Anual da SBPC, em Natal (RN)

A estreia da atividade “Ciência em Ebulição” na Reunião Anual colocou em confronto dois especialistas em biossegurança, com posições opostas. O presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Edilson Paiva, e o professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Rubens Nodari apresentaram, durante sessão realizada na tarde desta segunda-feira (26/7), argumentos favoráveis e contrários à liberação de alimentos transgênicos no país.

Para Edilson Paiva, primeiro a apresentar suas argumentações, o Brasil já está atrasado no que se refere à adoção de alimentos geneticamente modificados. O aumento da produtividade garantido pela tecnologia de transformação genética pode, a seu ver, garantir a segurança alimentar do país. “Estamos atrasados 10 anos em relação a outros países. Não podemos mais esperar uma situação de meio ambiente degradado e insegurança alimentar”, disse.

Já o pesquisador da UFSC Rubens Nodari deixou claro que sua posição não é contrária à tecnologia, mas sim ao modo como os produtos geneticamente modificados têm sido aprovados pela CTNBio. Segundo ele, a comissão não tem respeitado as exigências para liberação de transgênicos e não tem adotado o princípio da precaução, que na sua avaliação é a base da ciência.

Para Paiva, no entanto, a exigência de comprovação de risco zero e segurança absoluta é incompatível com a atividade científico-tecnológica. “Transformam o princípio da precaução no princípio da obstrução. Na dúvida, faça nada”, argumentou o agrônomo. Em resposta, Nodari rebateu: “Na dúvida, temos que usar a ciência para conhecer os riscos. A decisão para a dúvida deve ser mais ciência.”

Com relações aos riscos ambientais, Nodari destacou que o desenvolvimento de sementes transgênicas mais resistentes a herbicidas aumenta o risco de envenenamento alimentar e ambiental. Os cruzamentos sucessivos e as possíveis contaminações, explicou o pesquisador, podem prejudicar o desenvolvimento de inovações e melhoramentos e afetar a diversidade genética das espécies.

Além disso, na avaliação do professor da UFSC, a CTNBio se nega a considerar os possíveis danos à saúde humana causados pelo aumento da utilização do herbicida glifosato nas lavouras transgênicas. Edilson Paiva rebateu a acusação e afirmou que a tecnologia transgênica, ao contrário, diminui a necessidade de aplicações de herbicida.

Com a lavoura convencional, explicou o agrônomo, o agricultor necessita usar uma combinação de produtos e ampliar o número de aplicações. Já com a nova tecnologia, seria necessária apenas uma aplicação de glifosato. “Com essa tecnologia, demos flexibilidade e segurança. Ele [o agricultor] está adotando essa tecnologia não porque dá mais dinheiro, é porque diminui risco, custo, movimentação de máquinas. Não existe agricultor na face da terra que não vá querer usar esse tipo de tecnologia”, garantiu.

O presidente da CTNBio criticou ainda o fato de os argumentos contrários aos transgênicos sejam utilizados apenas quando se tratam de alimentos – e não no que se refere, por exemplo, a fármacos desenvolvidos com organismos geneticamente modificados.

A discussão foi mediada pelo diretor do Instituto Nacional do Semi-Árido (Insa), Roberto Germano da Costa, que controlou o tempo de respostas dos participantes, de acordo com o formato previsto para o “Ciência em Ebulição”. Até sexta-feira, serão discutidas em sessões no mesmo formato mais duas temáticas: o estabelecimento de cotas nas universidades e mudanças climáticas.

(Daniela Oliveira, do Jornal da Ciência)

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‘Ciência em ebulição’, estratégia da SBPC para estimular debate

26 Jul 2010 | 18:08 h

Redação portald24am

Temas polêmicos, como cotas para negros em universidades serão discutidos por cientistas com opiniões contrárias. Primeiro debate foi hoje, sobre transgênicos.

Natal – Uma das maiores novidades na 62ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal, é a sessão “Ciência em ebulição”. São debates envolvendo dois cientistas com opiniões antagônicas sobre um determinado tema. O evento está sendo realizado no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A ideia é que cada cientista apresente seu ponto de vista em 15 minutos, em seguida farão perguntas entre si, com direito à réplica. O público também poderá participar com questões dirigidas aos debatedores. As discussões serão organizadas por um mediador.

“O objetivo é mostrar que a dúvida faz parte do processo de aquisição do conhecimento científico e que o espírito crítico precisa ser desenvolvido, pois sem ele não há ciência”, disse Marco Antonio Raupp, presidente da SBPC. Os debates serão das 13h às 15h, no Anfiteatro A, da Escola de C&T da UFRN.

O primeiro tema da série, “Biossegurança e Transgênicos”, foi debatido nesta segunda-feira, por Edilson Paiva, presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), e Rubens O. Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Roberto Germano Costa, do Instituto Nacional do Semi-Árido (INSA) foi o moderador.

Paiva é um dos cientistas que assinaram a “Carta aberta de cientistas brasileiros”, documento de 2003 encaminhado ao presidente Lula e ao Congresso, no qual os signatários pediam que não houvesse impedimento ao desenvolvimento de transgênicos no Brasil.

Para ele, é fundamental que haja rapidez na aprovação de novas variedades de transgênicos. Assim como na carta de 2003, o presidente da CTNBio sustenta que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não pode atrapalhar as atividades de modificação genética.

Rubens Nodari afirma que é “realmente uma leviandade liberar Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), sem que seja exigido o estudo de análise de risco adequado”. Ele abordou aspectos sobre a lei de Biossegurança n.º 11.105/2005 e opinou sobre a participação da sociedade na discussão do tema.

“O estudo de impacto ambiental é garantido pela Constituição Federal e quem tem esse poder é a CTNBio. Ela tem que exercê-lo da melhor forma possível e se constituir no órgão ambiental dos transgênicos”. Para Nodari, a sociedade ainda está distante, embora melhor informada sobre a questão. “Quanto mais informações por parte da sociedade em geral, mais qualificado será o debate”.