A Secretaria de Desenvolvimento Rural do Mato Grosso informou que destinará excedente de milho produzido no estado para a produção de etanol. A crise dos alimentos que estourou em 2008 foi em grande parte atribuída à política estadunidense de desviar o grão do abastecimento alimentar para o dos carros. A medida baixou a oferta do cereal no mercado e fez seu preço subir, afetando a população mais pobre. Destaca-se na matéria do Diário do Mato Grosso reproduzida abaixo que o ténico da unidade Agroenergia da Embrapa lista uma série de desvantagens da transformação de milho em combustível.

Em tempo: como será que se define “excedente de milho”?

Em tempo 2: 2008, ano da crise dos alimentos, foi também o recorde histórico mundial de produção de milho.

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DIÁRIO DE CUIABÁ – MT  |  02/08/2010

Usinas vão aproveitar grão excedente

Da Reportagem

O governo do Estado pretende viabilizar a utilização do excedente de milho para a produção de etanol em Mato Grosso. A produção de milho, que também tem ajudado os produtores de soja a manter a produtividade da terra, encontra condições favoráveis e o excedente – que este ano chegou a 3,1 milhões de toneladas – tende a ser uma constante nos próximos anos.

“Há uma proposta do Estado em fazer o etanol de milho, a tendência é passar esse excedente para a produção do combustível”, revela uma fonte da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado, acrescentando que a capacidade instalada do Estado, que tem produção voltada a outros biocombustíveis como o etanol de cana-de-açúcar e biodiesel, poderá ser adaptada para a obtenção do novo produto.

A tendência de crescimento da produção de milho para os próximos anos, segundo os técnicos do governo deve atender à demanda pelo combustível.

Amplamente utilizada nos Estados Unidos, a produção do combustível a partir do milho é um processo menos eficiente que o utilizado no Brasil, que parte da cana-de-açúcar, segundo Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia.

De acordo com o pesquisador, a experiência de produzir o combustível é válida por se tratar de uma a partir de excedentes do grão. No entanto, ele enumera desvantagens do produto obtido a partir do milho, como a baixa produtividade, custo superior ao etanol da cana e balanço energético inferior.

Os estudos mostram que um hectare de milho produz 3 mil litros de etanol. Segundo o pesquisador, “esse volume equivale à metade da produção das maiores indústrias de etanol de cana no Brasil”. Além disso, a produção a partir do milho exige a aplicação de uma enzima, indispensável no processo e que encarece o produto final.

A questão ambiental também é desfavorável ao uso do etanol de milho. Para Molinari, “a quantidade de carbono emitida pelo combustível – desde sua produção até a queima nos motores – é quase nove vezes menos absorvida pela própria planta que a do etanol da cana-de-açúcar”.

O último levantamento de safra da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) aponta produção de 7,5 milhões de toneladas de milho na safra 2009/10, no Estado, com aumento de 17,01%% na área plantada, que avançou de 1,64 milhão de hectares para 1,919 milhão de hectares. A produtividade fechou em 3,940 mil Kg/ha. (MM)