A soja chamada de brasileira é uma parceria da BASF com a Embrapa.

A matéria mostra que a coexistência não é possível nem entre os transgênicos, e que a contaminação irá ocorrer ao longo da cadeia de produção.

A empresa afirma que espera aumentar o uso de seu herbicida com a entrada de sua semente no mercado E a promessa de que os transgênicos iriam reduzir o uso de agrotóxicos?

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GAZETA DO POVO, 25/10/2011, por José Rocher

A primeira soja transgênica brasileira, a Cultivance, está praticamente pronta para a multiplicação de sementes, mas essa etapa só deve deslanchar a partir da aprovação do consumo na China e na União Europeia. Conforme a Embrapa Soja, que desenvolve o projeto com a multinacional alemã Basf, é necessária a liberação em ambos os mercados, principais importadores, para que não haja problemas com a produção comercial, liberada pela Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia (CTNBio) desde 2009.

A previsão inicial, de que a alternativa chegasse aos produtores brasileiros nesta safra de verão, vem sendo adiada. A estimativa agora é de que o cultivo em larga escala comece daqui dois anos. Com o uso da semente, a Basf pretende ampliar a comercialização dos herbicidas que acompanham a nova tecnologia, também chamados de Cultivance.

O chefe de Pesquisa e Desen­­volvimento da Embrapa Soja, José Renato Farias, explica que, se a soja Cultivance for produzida em escala antes da aprovação do consumo no mercado externo, seus traços genéticos podem aparecer em cargas de exportação. Para isso, bastaria que um caminhão com restos de grãos não autorizados no exterior fosse usado para transportar uma carga de soja até os portos marítimos. A contaminação colocaria em risco as vendas do país. Poderia resultar em embargos sanitários e, consequentemente, em prejuízos astronômicos.

O quadro é novo para o Brasil. Nos casos da soja transgênica RR, cultivada em escala comercial desde 2006/07 – e dos milhos geneticamente modificados que se difundiram a partir de 2008/09 –, a liberação da CTNBio ocorreu após a aceitação dos mercados importadores. Nos últimos cinco anos, o Brasil acelerou seu processo de avaliação de novas sementes transgênicas. Colocou-se à frente dos importadores. Porém, a partir de agora, o aval da CTNBio não basta para que as alternativas ganhem os campos agrícolas. Os mercados consumidores é que passam a “liberar” o cultivo.