www.radioagencianp.com.br | 14/02/12

“Em todos os países onde a Monsanto conseguiu impor as sementes transgênicas, as sementes convencionais foram rapidamente sumindo do mercado.”

(3’03” / 363 Kb) – No final de dezembro de 2011 o Departamento de Agricultura do governo dos Estados Unidos (EUA) autorizou, pela primeira vez, o plantio comercial de uma variedade de milho da Monsanto geneticamente modificada para suportar condições de seca. Trata-se de uma promessa antiga das empresas de biotecnologia, mas cuja obtenção envolve um processo genético complexo e difícil de ser controlado.

Mas informações obtidas no relatório de avaliação do próprio Departamento de Agricultura que autorizou o novo milho demonstram que ele, na verdade, não funciona. Lá está escrito que a tolerância à seca conferida pelo novo milho transgênico é igual à tolerância já verificada nas variedades de milho produzidas através de técnicas convencionais de melhoramento genético.

Essa nova autorização para a variedade da Monsanto que é tão tolerante à seca quanto às similares convencionais que já existem poderia parecer inócua não fosse um pequeno detalhe: essa empresa detém o quase monopólio do mercado de sementes. Em todos os países onde a Monsanto conseguiu impor as sementes transgênicas, as sementes convencionais foram rapidamente sumindo do mercado, e muitos agricultores acabam adotando as sementes transgênicas simplesmente porque não encontram outras para comprar. Da mesma maneira, com a aprovação do novo milho transgênico tolerante a seca, é muito provável que em pouco tempo as variedades convencionais com a mesma característica, que não são patenteadas e nem implicam no pagamento de royalties, comecem também a desaparecer.

Daí vem a segunda implicação da nova autorização: assim que as sementes convencionais tolerantes à seca sumirem e a adoção da opção transgênica se generalizar, a Monsanto começará a anunciar o “sucesso” de sua tecnologia, o que a ajudará a  rebater a crítica de que, passados quase vinte anos desde que as sementes transgênicas começaram a ser cultivadas, a chamada “engenharia genética” não conseguiu cumprir suas promessas e desenvolver as famosas  plantas mais produtivas, mais nutritivas e, sobretudo, tolerantes aos solos salinos e à seca. Até agora, tudo isso era mero discurso.

Aqui está talvez o principal sentido dessa autorização: funcionando ou não, a nova variedade logo permitirá à Monsanto alardear os supostos benefícios da biotecnologia para a produção de alimentos em tempos de mudanças climáticas.

Flavia Londres é engenheira agrônoma e consultora da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.

Confira aqui o texto na íntegra.