Perdas ameaçam competitividade de soja convencional brasileira

Em Cuiabá (MT), durante congresso, especialistas discutiram futuro cultura.

Desperdícios influenciam diretamente no desempenho da oleaginosa.

G1 MT, 24/06/2012

A pressão exercida pela transgenia nas lavouras brasileiras pressionou a área ocupada com soja geneticamente não modificada. A cada safra cai a participação dos materiais livres enquanto na outra ponta aumenta-se a participação dos GMs. Somente na safra passada, a área de transgênicos no país cresceu 20% ou 4,9 milhões de hectares a mais, puxado pela oleaginosa em 20,6 milhões de hectares, milho com 7,3 milhões de hectares e o algodão, 600 mil hectares, indicou último relatório do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA).

Mesmo com a tradicional disputa entre as variedades o país conserva o título de maior produtor de soja e derivados não GMs do mundo, com produção voltada especialmente às demandas da União Europeia e Ásia. Na temporada 2011/12 no Brasil, 28% da área de soja foram plantados com cultivares livres, de acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange). Mas apesar de produzir soja livre, o que chega ao destino final (como mercado externo) não reflete em sua totalidade o volume colhido no campo, alerta Ivan Domingos Paghi, diretor-técnico da Abrange.

Em alguns casos, até 50% dos grãos convencionais perdem-se em função de fatores como dificuldades na segregação, problemas infraestruturais. De uma média de 18 milhões de toneladas anualmente produzidos com soja convencional no país somente 6 milhões chegam até o consumidor final, estima Ricardo Souza, diretor-executivo da Abrange. “Se observamos que 28% da produção são de não transgênico e exportamos 6 milhões de toneladas, certamente a soja acaba se perdendo ou por questões logísticas, de contaminação, colheita”, destaca.

O desafio dos produtores que optam pela utilização da soja livre é manterem-se distantes da contaminação pelos grãos geneticamente alterados. “As empresas organizam sua produção, os agricultores a logística e os portos preparam-se para receber a produção. É uma questão de controle de qualidade”, pondera o diretor da Associação.

Riscos de contaminação pelos materiais transgênicos também ampliam as chances de produtores de convencionais perderem a produção. Podem ocorrer a partir de diferentes fatores como a utilização de máquinas em lavouras transgênicas e posteriormente encaminhadas para trabalhar em áreas livres, além de armazéns, lembram os representantes da Abrange.

“O que se contamina é preciso vender como transgênico e pagar royaltie”, cita ainda Ricardo Souza. Para Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho no Brasil (Aprosoja), prevenir-se contra a contaminação de grãos requer altos investimentos e que, nem sempre, estão acessíveis ao produtor rural.

“Não é simples, pois você não está 100% livre da não contaminação. É muito dinheiro que se precisa ter para uma estrutura diferente”, reforça Silveira.

A imposição exercida pela transgenia vai continuar incidindo sobre a sojicultura brasileira. Mas para a Abrange, cabe ao produtor tomar a decisão de aderir – ou não – às culturas. “Não somos contra a tecnologia, mas desde que se mantenham as opções [de escolha] ao produtor”, menciona Ivan Paghi.

Em cima do muro
No mercado de sementes, que anualmente reduz a oferta de variedades livres, garantir a disponibilidade de não GMs é o primeiro passado para manter a sobrevivência dos produtores convencionais. Mas para a Abrange, as empresas devem ‘sair de cima do muro’. Ou seja, decidirem-se sobre qual nicho de mercado pretendem trabalhar.

“É o primeiro passo, pois já são poucas as sementeiras. Hoje o Brasil tem em torno de 600 sementeiras e quem produz soja transgênica ganha pelo produto e também pelos royalties. O perigo é o produtor ficar refém disso”, pondera Ivan Paghi.