Lançamento do Movimento “Ciência Cidadã”, no FÓRUM INTERNACIONAL CIÊNCIA E DEMOCRACIA” Cúpula dos Povos – Rio+20

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Vivemos uma mudança de natureza dos riscos, das disparidades e dos perigos criados pelos modos dominantes de produção e de consumo. A globalização do livre mercado acentua as ameaças e pretende submeter a pesquisa e o desenvolvimento técnico às exigências do capital. Estes últimos anos, a acumulação de crises (a fome endêmica, a insegurança alimentar, explosões nucleares, Tchernobyl, Fukuschima, mortes por amianto, vaca louca, OGM, clonagens, agrotóxicos, aquecimento global, agricultura intensiva e exclusão dos pequenos agricultores e camponeses, erosão da biodiversidade, indisponibilidade de água, superexploração dos recursos naturais do planeta) provocada por uma sociedade inspirada em uma única visão produtivista mostrou a necessidade de levar em conta outros interesses e riscos do que os até então definidos pelos atores tecno-industriais. Nosso olhar sobre os embates a respeito do conhecimento evoluiu.

Frequentemente surge a desconfiança dos cientistas e interrogações sobre suas responsabilidades, sendo estas o sintoma de um fenômeno mais profundo.

Constata-se a crescente contestação da ciência e da peritagem, a renovação das mobilizações sociais em vários países do mundo e, consequentemente, numerosas iniciativas de envolvimento de profanos na pesquisa dos experts ou ainda a vigilância do público no que se refere à aplicação das descobertas científicas que conduziram a um excessivo poder da ciência e de suas instituições.

Diante da mercantilização dos conhecimentos e da matéria viva, da desconsideração do saber popular, estas mobilizações e iniciativas desencadearam um sobressalto democrático e um novo pacto social para uma ciência cidadã, responsável e solidária.

Longe de se reduzir a um “aumento das crenças irracionais” ou a uma falta de informação ou de “cultura científica”, pesquisadores, técnicos e movimentos sociais que reconhecem a necessidade da democratização da Ciência, afirmam que uma ciência para todos deve se construir com todos, em um diálogo com os conhecimentos outrora desvalorizados.

Na verdade, a questão não é nova. Estamos convencidos da existência de profundas interrogações sobre o papel das ciências nas opções de desenvolvimento. Elas aparecem nos debates recentes sobre o progresso, o desenvolvimento, o crescimento, o consumo, a saúde, o trabalho, o peso dos objetivos econômicos no curto prazo na definição das políticas científicas, e o desvio do conceito de inovação (um conceito a ser reinventado?) sempre sob o mais implacável rigor científico. Os fatos avassaladores relacionados às desregulamentações monetárias destes últimos anos produzem um efeito ampliado sobre essas interrogações.

Todavia, estes debates estão ainda marcados por um enfoque pontual, parcial, limitado.

É chegado o momento de posicionarmo-nos diante do lugar das ciências e tecnologias para atuarmos neste universo de crise global. Ambiental mas também societal, cultural e econômica que caracteriza o mundo atual.

Esta posição deve contar com as reflexões e análises das ciências humanas e sociais. A exclusão de suas análises e avaliações não é mais concebível na reorientação da inovação e mais fundamentalmente das ciências e tecnologias. Não queremos seguir sendo apenas legistas do passado, mas legisladores do futuro.

Abolimos a eliminação dominante das controvérsias que devem ser estimuladas como formas de resistência ao determinismo da inovação e da tecnociência.

OBJETIVOS

1. Reunir os pesquisadores, os cientistas críticos e os cidadãos engajados (ou não) nas lutas sociais da agricultura, da alimentação, da habitação, da saúde e do ambiente.

2. Associar, em uma reflexão e uma ação transversal de democratização da ciência e da peritagem, e o empoderamento da sociedade civil, daqueles atores mais capacitados ora isolados na organização compartimentada da ciência e da tecnologia.

3. Elaborar, propor, promover novas formas de fazer ciência em democracia, com a participação dos sujeitos (Convenções de Cidadãos, pesquisa participativa, Fóruns populares de educação científica, lojas de ciências, tecnologias sociais…) e submetê-las aos legisladores quando a ocasião se apresentar.