VALOR ECONÔMICO, 17/08/2012.

Os produtores brasileiros de soja apelaram ao governo federal para que ajude a Monsanto a aprovar sua nova geração de transgênicos na China, último obstáculo para que a multinacional americana comece a vender as sementes no Brasil.

A variedade já está liberada para o cultivo comercial no Brasil e [acabou de ser liberada] na Argentina, mas a Monsanto ainda precisa do aval dos importadores. Estados Unidos, União Europeia e Coreia do Sul deram o sinal verde, mas o maior comprador mundial de soja ainda não se manifestou.

A Monsanto há meses promove o novo produto, batizado de ‘Intacta RR2 Pro‘, e tinha esperança de colocá-lo no mercado antes do plantio da safra 2012/13, que começa em meados de setembro e se estende até o fim do ano. Desenvolvido especificamente para o mercado brasileiro [ué, então por que foi liberada na Argentina também??], a nova soja promete resistir ao ataque de lagartas e à aplicação do herbicida glifosato, além de render até 300 quilos por hectare a mais do que as variedades convencionais [mas os próprios produtores alegam que a pesquisa oficial não validou esses dados].

Na semana passada, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) encaminhou uma carta à ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, solicitando que o governo “faça gestão junto à embaixada da China no Brasil no intuito de garantir que os eventos transgênicos novos para a cultura da soja já aprovados no Brasil sejam aprovados também pelo ministério da agricultura daquele país”.

Segundo a entidade, a Monsanto já produziu sementes suficientes para o cultivo de 500 mil hectares e uma colheita estimada de 1,6 milhão de toneladas de soja – o que renderia à Monsanto um valor estimado em R$ 57 milhões só com o pagamento de royalties (R$ 115 por hectare). Essas sementes teriam de ser destruídas caso a aprovação da China não venha nas próximas semanas.

Glauber Silveira, presidente da Aprosoja, afirma que os produtores também vão amargar um “prejuízo” de R$ 150 milhões com a não liberação da tecnologia, considerando o ganho de produtividade esperado.

“Nossa preocupação é grande, porque deixamos de plantar variedades melhores. Novas tecnologias estão sendo lançadas, e precisamos que haja um protocolo capaz de garantir uma liberação rápida nos países consumidores”, afirma Silveira.

Segundo ele, a companhia poderia comercializar a semente, desde que fosse possível segregar a produção no Brasil. “Não haveria problema se essa soja ficasse no mercado interno, mas é difícil garantir que nada será exportado para a China”, explica.

O representante dos produtores de soja conta que a Monsanto solicitou a intervenção da Aprosoja durante um evento da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), no dia 6. A entidade, que possui um histórico de reclamações da Monsanto por causa da cobrança de royalties sobre a soja Roundup Ready, não hesitou em estender a mão. “Continuamos brigando muito por causa dos royalties, mas essa é outra discussão. É do interesse de todos aprovar essa tecnologia. Hoje é a Monsanto, amanhã é a Embrapa“, justifica.

A Monsanto nega, entretanto, que tenha solicitado qualquer tipo de manifestação dos sojicultores. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa declarou que a iniciativa partiu da Aprosoja e que aguarda os trâmites de aprovação de sua tecnologia na China. A companhia não confirma quanto já produziu da nova semente e garante que nada foi comercializado até o momento.