Leitores do Jornal da Ciência da SBPC criticam artigo publicado pelo presidente da CTNBio

JC e-mail 4639, de 07 de Dezembro de 2012.

Opinião do Leitor

Comentário de Domingos SL Soares sobre o artigo “A segurança alimentar e a desinformação do consumidor, de Flávio Finardi Filho“, publicado no JC Email nº 4638 de 6 de dezembro de 2012.

A “correta informação ao consumidor”, a respeito dos alimentos transgênicos (OGMs), preconizada pelo senhor Flávio Finardi Filho, presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), parece querer se fundamentar no execrável “argumento de autoridade”, garantido pelo fato de que – em suas próprias palavras – “os membros e assessores técnicos da comissão são cientistas e pesquisadores renomados, doutores especialistas nas questões de segurança dos processos de transformação nas áreas humana, animal, vegetal e ambiental”.

Mas não é isso que interessa, e isso não basta. Para começar, devemos saber quais são, e quais foram, nos últimos dez anos, por exemplo, as instituições públicas e privadas responsáveis pelos financiamentos das pesquisas de todos os membros da CTNBio. Isto nos daria uma ideia da isenção científica dos membros. Em pleno século XXI é demais exigir confiança absoluta em quem quer que seja. O senhor Flávio Finardi Filho pede muito, portanto, quando requer confiança cega por parte do consumidor brasileiro.

Comentário de Cristiano Kern Hickel sobre o mesmo artigo.

Vejamos, seguindo um processo de alto nível de sofisticação e detalhamento, com rigorosos critérios de padrões internacionais, eu afirmo: é leviandade afirmar que a desacreditada CTNBio é imparcial ou livre de enganos, bem como sugerir que a aceitação de OGMs tenha aumentado. Os supermembros e assessores técnicos da comissão, supercientistas, pesquisadores renomados e doutores especialistas também são seres humanos, dotados de opinião própria, de ideologias e de ego e, portanto, passíveis de falhas, parcialidade e corruptibilidade.

Também acredito que, se existe alguma incompreensão do consumidor, por certo não é falta de informação, mas sim por falta de interesse. Observe-se que quase ninguém se importa em ler os ingredientes, dos poucos que lêem, boa parte não enxerga o que está escrito e outra parte têm dificuldade em vencer a inércia e abrir mão do produto ou encontrar alternativa caso haja algum ingrediente não desejado. Em todas as redes de supermercados que tenho visitado nos últimos anos, encontro um corredor repleto de biscoitos em que 100% deles contém gordura trans. Até mesmo aqueles tracionais amanteigados tiveram a manteiga substituída. Não se salva um único! Até o pão de queijo da padaria contém gordura trans! E quem se importa com isso? Podemos chamar isso de “aceitação” do consumidor?

Falta de opção, falta de interesse, prioridade no preço, propaganda enganosa ou que induz à escolha errada são algumas das variáveis que precisam ser observadas para que não se cometa o erro de afirmar que consumo está direta e linearmente relacionado com “aceitação”. Estamos consumindo milho geneticamente modificado que não é seguro, segundo pesquisas as quais são mais confiáveis que as metodologias da CTNBio. As pessoas sabem disso, foi reportagem de programa popular de TV de grande audiência. Também é reportagem recorrente de TV e jornais a quantidade de resíduos de venenos nos alimentos. E daí? Deixamos de consumir por isso? O que esse comportamento significa? Somos um povo pacífico e passivo, um prato cheio aos interesses ativos.

Abaixo segue o artigo original do presidente da CTNBio que deu origem às críticas acima:

JC e-mail 4638, de 06 de Dezembro de 2012.

A segurança alimentar e a desinformação do consumidor, artigo de Flávio Finardi Filho

Flávio Finardi Filho é presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), especialista em segurança dos alimentos e pesquisador do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Universidade de São Paulo (USP). Artigo publicado no Correio Braziliense de hoje (6).

Os organismos geneticamente modificados (OGMs) – ou transgênicos – são uma realidade no agronegócio mundial e brasileiro. A maior parte da soja e do milho, matérias-primas de alimentos industrializados, é de origem transgênica e foi importante no processo de consolidação do País em potência agrícola. Aprovado recentemente, o feijão transgênico figurará, em breve, no rol dos produtos utilizados pelo brasileiro, assim como cana-de-açúcar e eucalipto, já em fase de estudos.

Se, por um lado, os OGMs se firmaram no agronegócio, o mesmo não se pode dizer quanto ao conhecimento dos consumidores sobre eles, como no aspecto da segurança dos alimentos. E é sobre esse ponto que vale esclarecer a posição da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), instância colegiada vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

A CTNBio é responsável pela avaliação científica de biossegurança dos transgênicos. O processo envolve altos níveis de sofisticação e detalhamento, seguindo rigorosos critérios de padrões internacionais. Os membros e assessores técnicos da comissão são cientistas e pesquisadores renomados, doutores especialistas nas questões de segurança dos processos de transformação nas áreas humana, animal, vegetal e ambiental.

As análises, baseadas em aspectos científicos, não sofrem nenhum tipo de influência, seja ela política, seja por parte de empresas. Quando um OGM é aprovado pela CTNBio, a chancela leva em conta características nutricionais, toxicológicas, alergênicas e ambientais, entre outras.

Quanto à desinformação ao consumidor há muito a ser feito. É comum vermos pessoas confundindo transgênicos com gordura trans e atribuindo o seu cultivo ao aumento do uso de agroquímicos. No entanto, é fato que a aceitação dos OGMs tenha aumentado nos últimos anos, mas fica claro que a discussão sobre o assunto deve ser fomentada pela imprensa, indústria, empresas de biotecnologia e o próprio governo, sempre com o intuito de desmitificar as informações equivocadas existentes, a começar pela rotulagem de alimentos.

É inegável que o consumidor tem o direito de saber se um produto que está em sua mesa contém OGMs, mas o rótulo com a letra T dentro de um triângulo amarelo não ajuda a esclarecê-lo sobre a segurança e inocuidade, já cientificamente analisados pela CTNBio. Podemos afirmar que os transgênicos são tão seguros quanto os análogos convencionais, pois foram testados exaustivamente antes de aprovados.

O aspecto positivo na questão é a quebra de paradigmas e de comportamento em países historicamente contrários ao seu consumo, principalmente na Europa. Recentemente, grupos de agricultores europeus manifestaram-se a favor da adoção de OGMs, ótima notícia para o Brasil, hoje um dos grandes produtores e exportadores mundiais de alimentos transgênicos. Ainda há longo caminho a ser trilhado, mas com a correta informação ao consumidor, aliada ao aumento dos recursos e investimentos em pesquisas e novos projetos, o Brasil pode ampliar sua referência em biotecnologia.