Após a Europa questionar os estudos sobre a segurança para o consumo humano de uma variedade de milho transgênico desenvolvido em joint venture entre a Monsanto e a Cargill, as empresas discretamente desistiram de seu pedido de autorização no bloco econômico.

O milho LY038 foi desenvolvido para produzir altos teores de lisina (um aminoácido que é a base de várias proteínas), com o objetivo de suplementar a alimentação de animais — especialmente porcos alimentados com rações à base de soja e milho.

Conter a contaminação genética proveniente de variedades transgênicas de milho tem provado ser tarefa impossível. Não seria difícil imaginar o milho para ração indo acidentalmente parar nos cereais matinais. Daí a importância da avaliação da segurança do milho para o consumo humano.

As questões levantadas pelos europeus referem-se principalmente à segurança do milho LY038 quando cozido. O milho contém níveis muito elevados de lisina livre. E a lisina é conhecida por reagir no calor com açúcares e formar compostos químicos chamados “produtos finais da glicação avançada” (AGEs, na sigla em inglês), que são ligados a numerosas doenças incluindo diabetes, mal de Alzheimer e câncer. Os estados membros consideraram ser necessário solicitar mais pesquisas antes que se possa conceder uma autorização para o produto. Foram levantadas também questões sobre o aparecimento de clorose (condição em que as folhas não produzem suficiente clorofila) no milho e sobre a baixa performance de galinhas alimentadas com o milho LY038.

O MILHO LY038 já foi aprovado para uso como alimento no Japão, Coreia do Sul, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e para cultivo nos EUA, mas nunca foi cultivado. Embora o milho não seja destinado ao consumo humano, a possibilidade de contaminação via polinização faz com que a aprovação da União Europeia seja uma condição para que o milho possa ser cultivado em qualquer lugar.

Mas ao invés de conduzir as pesquisas adicionais solicitadas pela autoridade europeia, a Monsanto preferiu abandonar seu projeto de introduzir o milho no mercado europeu. A empresa diz que a decisão foi puramente comercial. Mas segundo Peter Melchett, da ONG Soil Association, cientistas independentes sempre disseram que estas características mais complexas não só seriam mais difíceis (senão impossíveis) de se alcançar através da engenharia genética, mas também, como aconteceu neste caso, gerariam novas e mais complexas preocupações de biossegurança.

A rejeição ao milho LY038 representa ainda um baque para a indústria de biotecnologia exatamente no momento e que ela está tentando demonstrar que pode desenvolver outras características transgênicas além da tolerância a herbicidas e a toxicidade a insetos. A indústria gostaria especialmente de diversificar seu portifólio com características interessantes aos consumidores finais ao invés de características interessantes apenas à agricultura industrial.

Com informações de:

– The Bioscience Resource Project News, 10/10/2009.

http://www.bioscienceresource.org/news/article.php?id=43

– GMWatch: WEEKLY WATCH number 280, 12/11/2009.

www.gmwatch.org