quinta-feira, 4 de março de 2010, do HoraHnews
Guerra de Requião contra transgênicos beneficiou o Paraná

Roberto Requião tinha um sonho. Queria transformar o Paraná em uma área livre dos transgênicos, as famosas sementes que oferecem uma vantagem inicial, mas que transformam o agricultor em refém da multinacional que controla os organismos geneticamente modificados.

A rigor, não conseguiu realizar esse sonho porque muitos produtores rurais caíram no canto da sereia da produção mais barata, mas a posição marcante em favor de produtos naturais tornou o Paraná um destino procurado pelos mercados mais sofisticados, como o europeu, que rejeitam os produtos modificados geneticamente.

O Paraná ganhou com essa guerra, mas ela não foi fácil e nem indolor. No princípio Requião foi acusado de ter adotado uma posição ensandecida, movido apenas por preconceito ideológico. Seu objetivo principal, segundo seus adversários, seria o de impedir que multinacionais americanas, em especial a Monsanto, tivessem lucros estratosféricos.

Requião retrucava que estava agindo movido pelo princípio da precaução. “Se eu estiver errado será fácil corrigir o erro. Bastará adotar a transgenia. Mas se eu estiver certo e a adoção das sementes transgênicas resultar em prejuízos irreversíveis para a nossa agricultura, nada poderá absolver a minha omissão”, dizia o governador.

De omisso Requião jamais poderá ser acusado. Sua guerra contra os transgênicos esteve próxima de uma guerra real, com todos os seus horrores. O Porto de Paranaguá foi fechado aos transgênicos e a polícia mobilizada para identificar plantações clandestinas de soja transgênica.

Nesse front o governo não colheu vitórias porque a Justiça avaliou a questão com base nas normas estabelecidas pela União e estas se tornaram, cada vez mais, abertas a transgenia. O porto paranaense e as lavouras do Estado acabaram tendo de se abrir.

Entretanto, o rescaldo dessa batalha foi altamente positivo. O Paraná se tornou um dos Estados em que os transgênicos tiveram a menor penetração. Empresas importantes, como a Sadia, passaram a recusar produtos transgênicos e o Estado conseguiu delimitar as áreas com produção modificada.

Ao longo do tempo algumas das profecias apocalípticas do governador se revelaram certeiras. Era mesmo possível obter preços melhores pela soja convencional. O mercado chinês estava disposto a pagar mais pela boa e velha soja. O mercado europeu se fechou para a soja da Monsanto.

Pior ainda, as grandes vantagens alardeadas pelos vendedores de sementes transgênicas, se revelaram ilusórias. A economia de agrotóxico proporcionada pela soja Roundup Ready, resistente ao herbicida glifosato, era real, mas só no começo.

Logo as pragas agrícolas começaram a se adaptar ao glifosato e o agricultor precisou recorrer também aos herbicidas convencionais para evitar infestações na plantação.

Com isso o suposto lucro fenomenal da soja transgênica em relação à convencional escorria lavoura abaixo. As restrições cada vez maiores dos mercados internacionais se encarregaram de fazer a balança pender, definitivamente, contra a transgenia.

A luta de Requião contra os transgênicos produziu reações apaixonadas e, geralmente, pouco racionais. No auge da polêmica o mínimo que os opositores diziam do governador era que se tratava de um louco com vocação tirânica por tentar impor um ponto de vista supostamente anti-científico.

A visão que os transgênicos eram uma maravilha científica que Requião não queria aceita começa a se modificar.

Um estudo publicado na revista International Journal of Biological Sciences demonstrou que três milhos geneticamente modificados da Monsanto são tóxicos e prejudiciais à saúde. Foi o que demonstrou um estudo do Comitê de Pesquisa e Informação Independente sobre a Engenharia Genética (Criigen, com sede em Caen, na França), que participou do estudo.

Ao longo do tempo, quando as desvantagens não tão evidentes no início da transgenia começaram a vir a público, essa imagem dessa guerra mudou. Hoje em dia é comum Requião receber homenagens pelas lutas travadas nesse campo de batalha.

Em 2009, Marianne Spiller, a fundadora no Paraná da ONG Fundação Vida para Todos – Abai, que trabalha com crianças pobres e dependentes químicos, uma instituição, cuja mantenedora é da Suíça, convidou Requião a escrever para o livro que a Abai vai publicar.

“Estamos convidando pessoas que de alguma forma contribuam para a redução da pobreza, das desigualdades, como Requião. Também admiramos a garra do governador na luta contra a privatização da água, das sementes, dos bens naturais e conta os abusos dos transgênicos”, afirmou Spiller.