Bem vindas e bem vindos de volta! A edição deste mês traz na pauta a conservação das sementes crioulas com foco especial nas qualidades dessas sementes como portadoras de saberes de gerações passadas e presentes da agricultura camponesa e de histórias que se projetam para o futuro, e que se tornaram possíveis somente pelo trabalho cooperativo. Você lerá sobre experiências inspiradoras de políticas de futuro presentes na gestão das conexões entre a Feira de Sementes Crioulas e a diversidade genética armazenada nos Bancos do povo Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul; e também nas histórias que as sementes crioulas nos contam sobre o presente e o futuro da produção de comida de verdade no semiárido. Confira também nesta edição o alerta vermelho sobre as técnicas de edição de genomas; a centralidade da agricultura familiar frente ao desalento da fome no Brasil e a relação entre agrobiodiversidade e pandemia. Na seção Recomendamos, preparamos uma seleção de artigos e materiais recém-publicados. Além disso, na nossa Matéria especial, é a vez e a voz da juventude camponesa na defesa das sementes crioulas na Paraíba, ecoando a Campanha Não Planto Transgênico para não Apagar minha História.

 

Matéria especial

“Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos”

Conversamos com Mateus Manassés Bezerra Nascimento, jovem agricultor experimentador de Queimadas e integrante do Polo da Borborema. Mateus falou sobre a mobilização no município e no território em torno da defesa das sementes crioulas e sobre as formas de mobilização e engajamento da juventude. “A gente vê que do nada a gente pode transformar muita coisa, são os jovens que devem assumir a responsabilidade de guardar as sementes para as gerações que ainda vão chegar”. Confira como foi essa conversa.

   Sementes crioulas na mídia

Live – Comunidades livre de transgênicos

A Rede de Sementes do Polo da Borborema se encontrará em uma live para trocar suas histórias e fortalecer sua luta em defesa das sementes, para relançar a Campanha Não planto transgênicos para não apagar minha história e para construir estratégias para organizar comunidades livres de transgênicos.

E tem mais! Na ocasião também será celebrada a chegada do Flocão da Paixão nas quitandas e feiras agroecológica do Território da Borborema.

Quando? Nesta sexta dia 21 de maio às 15h

Como participar? Pelo Facebook @polodaborborema ou pelo Youtube @ASPTAAgriculturaFamiliareAgroecologia

Políticas de futuro

A Feira de Sementes Crioulas e o Banco de Sementes do povo Guarani-Kaiowá, ambos em Juti, no Mato Grosso do Sul, fazem parte das experiências mapeadas na pesquisa “Municípios agroecológicos e políticas de futuro” promovida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). A Feira, já com 15 anos, tem sido espaço de troca e conservação da agrobiodiversidade, fortalecendo encontros entre agricultores, povos e comunidades tradicionais do Brasil e de outros países da América Latina. O povo Guarani-Kaiowá, atuante na Feira, armazena nos Bancos as sementes intercambiadas, além de suas próprias variedades tradicionais. Conforme depoimentos das pessoas diretamente envolvidas, essas iniciativas têm garantido a segurança alimentar e nutricional das famílias indígenas e a geração de renda por meio da comercialização em feiras e mercados institucionais.

Bancos de sementes e histórias

Em um cenário de erosão da biodiversidade, em que espécies e variedades de sementes adaptadas às condições locais estão desaparecendo, seja por contaminação pelos transgênicos ou pela crise climática, os Bancos de Sementes guardam a história do presente e de futuro da produção agrícola e da alimentação das famílias agricultoras do semiárido. Nesses espaços coletivos, agricultores e agricultoras familiares têm armazenado variedades adaptadas à semiaridez, que, selecionadas há gerações, respondem às especificidades do solo, de incidência solar e disponibilidade hídrica, garantindo, assim, produção e comida de verdade.

É preciso estar atentos e atentas

Sem avaliações de riscos e regulações adequadas, ao menos cinco países, dentre eles o Brasil, já liberaram a variedade milho ceroso, modificado geneticamente por meio da técnica Crispr. Grandes corporações do setor das sementes, como Dow e DuPont têm declarado que essa é apenas a abertura do caminho para a liberação de uma série de espécies e variedades geneticamente modificadas. A escolha do milho, não poderia ser diferente, deve-se à lucratividade desse tipo de semente nos mercados.

Agricultura familiar e segurança alimentar e nutricional

Os dados divulgados pela Rede Brasileira de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), no último mês, reiteram que o Brasil voltou a figurar no mapa da fome. Estamos falando de um contingente de 19 milhões de brasileiros e brasileiras que passam fome. Essa situação convive com safras recordes, como soja, milho e algodão. Não é desse “alimento”, no entanto, que a população brasileira carece. Muito ao contrário, o que se precisa são frutas, legumes e verduras, comida de verdade produzida pela agricultura familiar, diversificada, livre de transgênicos e agrotóxicos. Comida que pode chegar às populações em situação de vulnerabilidade, em grande parte com a execução efetiva e o apoio de políticas públicas já existentes, como o PAA e o PNAE.

Contra pandemias: agrobiodiversidade

Rob Wallace, autor do livro “Pandemia e Agronegócio”, discute, numa entrevista, como o processo de redução da base genética de plantas e animais está associado à produção de patógenos e doenças, inclusive a Covid-19. O epidemiologista alerta para o fato de que o modelo global de produção de alimentos e commodities promove “um processo de descampezinação, mas que devemos caminhar no sentido contrário:precisamos de mais camponeses, atores chave da promoção da agrobiodiversidade”.

   Recomendamos:

Um compilado de artigos de Silvia Ribeiro, organizado pelo Grupo ETC, que reúne 15 anos de história, desde a descoberta da contaminação por transgenia de milhos crioulos no México. Uma leitura e uma visão panorâmica para entender o contexto atual da agricultura e da alimentação.

Mais um texto sobre a conservação das espécies e variedades crioulas no México: o artigo “Redes e estratégia para a defesa do milho no México” coloca em debate o movimento social de resistência à privatização e monopolização do milho no país.

A WebSérie “Escuela de Semillas”, que, desde Buenos Aires e Misiones, na Argentina, nos conta histórias e experiências em diferentes contextos sobre a defesa das sementes crioulas e nativas e o trabalho cotidiano de Guardiões e Guardiãs na preservação desse patrimônio genético e cultural.

O Giro agroecológico, produzido pela Rede de Agroecologia do Leste de Minas Gerais, um chamado à reflexão urgente sobre o modelo hegemônico de produção agrícola e as práticas de resistência e as alternativas em construção pelas redes territoriais de agroecologia.

   EXPEDIENTE

Sementes Crioulas é uma iniciativa da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia

Edição: Gabriel Bianconi Fernandes e Helena Rodrigues Lopes
Pesquisa e redação: Helena Rodrigues Lopes e Gabriel Bianconi Fernandes
Produção: Adriana Galvão Freire
Revisão: Silvio Gomes de Almeida, Paulo Petersen e Luciano Silveira
Diagramação: ig+ Comunicação Integrada

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Confira as edições anteriores em: https://pratoslimpos.org.br/?cat=608