O governo vai tentar convencer as autoridades da União Europeia a reduzir as exigências para a importação de carne bovina e produtos transgênicos de origem nacional. (…) Na segunda-feira, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, inicia um périplo de três dias por gabinetes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu para “dialogar” com as autoridades locais. (…)

No caso de transgênicos não liberados na UE, o ministro tentará elevar ao mínimo de 0,1% o nível de contaminação permitido para ingressar na UE. “Eles têm tolerância zero para transgênico não aprovado lá”, diz Rossi. “Mas tem alguns, que nunca vão chegar lá porque são adaptados a microclimas específicos, poderia haver tolerância de 0,1% para não eliminar a entrada. Hoje, a simples contaminação impede a venda”, observa. (…)

Fonte: Valor Econômico, 09/07/2010.

N.E.1: Chega a ser cômico o papel desempenhado pelo ministro para tentar empurrar os transgênicos para a União Europeia. A rejeição dos europeus aos transgênicos e as regras para a sua entrada no bloco já eram conhecidas desde muito antes de a Lei de Biossegurança pavimentar o caminho para a liberação dos transgênicos no Brasil. Também há muito tempo sabemos da importância do bloco nas importações de grãos do nosso país. A despeito de tudo isso, o Ministério da Agricultura (junto com a bancada ruralista) sempre foi o principal defensor da liberação e da difusão dos transgênicos nos campos brasileiros. Agora finge pensar ser fácil “negociar” com os europeus a flexibilização das regras.

O Brasil não teria perdido absolutamente nada se tivesse mantido proibido o plantio de transgênicos. Ao contrário, teria mercado garantidíssimo na Europa.

O que poderia agora fazer o ministro pensar que somos diferentes dos argentinos ou dos americanos, os outros dois grandes produtores de grãos transgênicos? Mais parece teatro para disfarçar a responsabilidade que tem o Ministério sobre os carregamentos rejeitados por contaminação.

N.E.2: Vejam a coincidência entre as declarações do ministro e os comentários da Bayer sobre contaminação: o problema não está na contaminação, mas sim no fato de ela não estar prevista e regulamentada pelas leis de biossegurança (…) enquanto permanecer um regime de intolerância (sic) em relação à contaminação, problemas como esse continuarão acontecendo [referindo-se às seguidas condenações sofridas pela empresa nos EUA].