Por Steve Connor, Editor de Ciência

The Independent, 28/09/2010

Tradução: AS-PTA

Um inseticida usado nas culturas geneticamente modificadas extensivamente cultivadas nos Estados Unidos e em outras partes do mundo vazou para os corpos d’água do entorno das plantações.

O inseticida é produto de um gene bacteriano inserido no milho transgênico e em outros cereais para protegê-los de insetos como a broca europeia do colmo. Cientistas detectaram o inseticida em um número significativo de córregos do grande cinturão do milho do meio oeste norte americano.

Os pesquisadores detectaram a proteína bacteriana em resíduos vegetais que foram arrastados das lavouras de milho para córregos até a distância de 500 metros. Eles não determinaram quão significante é o fato em termos de riscos para a saúde humana e para o meio ambiente em geral.

“Nossa pesquisa soma-se ao crescente corpo de evidências de que derivados de milho podem se dispersar pela rede córregos e riachos e que os componentes associados às culturas transgênicas tais como as proteínas inseticidas podem atingir os corpos d’água próximos”, disse Emma Rosi-Marshall do Cary Institute of Ecosystem Studies de Millbrook, Nova Iorque.

As sementes transgênicas são amplamente cultivas, com exceção da Inglaterra e outras partes da Europa. Em 2009, mais de 85% do milho estadunidense era geneticamente modificado para repelir insetos ou para ser tolerante a herbicidas usados para matar plantas daninhas nas áreas cultivadas.

O milho transgênico tem um gene da bacteria Bacillus thuringiensis (Bt) inserido para repelir o besouro da broca do colmo. O gene Bt produz uma proteína chamada Cry1Ab que possui propriedades inseticidas.

O estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Science, analisou 217 córregos de Indiana. Os cientistas encontraram 86% dos locais contendo folhas, palha ou sabugo do cereal em seus canais e 13% contendo níveis detectáveis da proteína inseticida.

“A ligação próxima entre as áreas de milho e os córregos assegura novas pesquisas sobre como subprodutos do milho, incluindo as proteínas inseticidas, potencialmente impactam ecossistemas não-alvo, tais como córregos e outros corpos d’água”, disse a Dra. Rosi-Marshall.

Todos os locais dos córregos com proteínas inseticidas em quantidades detectáveis estavam localizados num raio de até 500 metros de uma plantação de milho. As ramificações são vastas em Iowa, Illinois, e Indiana, onde cerca de 90% dos rios e córregos – algo como 295 mil km de cursos d’água – estão também localizados dentro de um raio de 500 metros das áreas de milho.

Depois da colheita, uma prática comum é deixar os restos vegetais na área. Essa forma de “plantio direto” minimiza a erosão do solo, mas também abre caminho para resíduos de milho entrarem nos córregos das redondezas.

Obs.: Em 2007, a equipe de Emma Rosi-Marshall publicou estudo indicando que as larvas de um inseto herbívoro da ordem trichoptera que vivem nos ecossistemas aquáticos do norte de Indiana também são afetadas pelo Bt. No artigo, publicado na mesma revista científica PNAS, os autores concluíram que o plantio de lavouras Bt provoca consequências inesperadas em escala de ecossistemas.

O artigo gerou reação furiosa e imediata de cientistas pró-transgênicos. Diversos pesquisadores escreveram para as autoras, para a PNAS e para a Fundação Nacional de Ciência (NSF, em inglês) do governo americano, que financiou o trabalho de Rosi-Marshall. O trabalho foi acusado de falho, omisso, mal desenhado, entre outras coisas. Curioso que nenhuma das críticas pediu mais pesquisas ou a repetição do estudo. Os novos dados agora divulgados reforçam a tese de que as plantas transgênicas são liberadas no escuro, sem se conhecer seus reais impactos.

Saiba mais sobre o bloqueio a pesquisas independentes:

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Sobre o artigo publicado na PNAS:

Occurrence of maize detritus and a transgenic insecticidal protein (Cry1Ab) within the stream network of an agricultural landscape

<http://www.pnas.org/content/early/2010/09/22/1006925107.abstract>

1. Jennifer L. Tank a ,1,

2. Emma J. Rosi-Marshall b ,2,

3. Todd V. Royer c,

4. Matt R. Whiles d,

5. Natalie A. Griffiths a,

6. Therese C. Frauendorf a, and

7. David J. Treering b

+ Author Affiliations

1. a Department of Biological Sciences, University of Notre Dame, Notre Dame, IN 46556;

2. b Department of Biology, Loyola University, Chicago, IL 60660;

3. c School of Public and Environmental Affairs, Indiana University, Bloomington, IN 47405; and

4. d Department of Zoology and Center for Ecology, Southern Illinois University, Carbondale, IL 62901-6501

* Present address: Cary Institute of Ecosystem Studies, Millbrook, NY 12545.

1. Edited by David Pimentel, Cornell University, Ithaca, NY, and accepted by the Editorial Board August 31, 2010 (received for review May 20, 2010)

Abstract

Widespread planting of maize throughout the agricultural Midwest may result in detritus entering adjacent stream ecosystems, and 63% of the 2009 US maize crop was genetically modified to express insecticidal Cry proteins derived from Bacillus thuringiensis. Six months after harvest, we conducted a synoptic survey of 217 stream sites in Indiana to determine the extent of maize detritus and presence of Cry1Ab protein in the stream network. We found that 86% of stream sites contained maize leaves, cobs, husks, and/or stalks in the active stream channel. We also detected Cry1Ab protein in stream-channel maize at 13% of sites and in the water column at 23% of sites. We found that 82% of stream sites were adjacent to maize fields, and Geographical Information Systems analyses indicated that 100% of sites containing Cry1Ab-positive detritus in the active stream channel had maize planted within 500 m during the previous crop year. Maize detritus likely enters streams throughout the Corn Belt; using US Department of Agriculture land cover data, we estimate that 91% of the 256,446 km of streams/rivers in Iowa, Illinois, and Indiana are located within 500 m of a maize field. Maize detritus is common in low-gradient stream channels in northwestern Indiana, and Cry1Ab proteins persist in maize leaves and can be measured in the water column even 6 mo after harvest. Hence, maize detritus, and associated Cry1Ab proteins, are widely distributed and persistent in the headwater streams of a Corn Belt landscape.

Footnotes

1To whom correspondence should be addressed. E-mail: tank.1@nd.edu.

Author contributions: J.L.T., E.J.R.-M., T.V.R., and M.R.W. designed research; J.L.T., E.J.R.-M., T.V.R., M.R.W., N.A.G., and T.C.F. performed research; J.L.T., E.J.R.-M., T.V.R., M.R.W., N.A.G., T.C.F., and D.J.T. analyzed data; and J.L.T., E.J.R.-M., T.V.R., M.R.W., N.A.G., and D.J.T. wrote the paper.

The authors declare no conflict of interest.

This article is a PNAS Direct Submission. D.P. is a guest editor invited by the Editorial Board.