VALOR ECONÔMICO, 22/11/2010

Ao longo das últimas décadas, a indústria de defensivos registrou uma evolução em seus produtos. Não apenas o volume das doses aplicadas sobre um hectare de lavoura ficou menor, como a toxicidade desses produtos diminuiu.


Em 2008 o Brasil passou a ser o maior consumidor de venenos agrícolas do mundo. Onde está a redução alegada pela indústria?

Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) mostram que, nos anos 60, o Brasil usava, em média, 2,1 quilos de herbicida por hectare. Nesse mesmo período, os produtores usavam, em média, 1,4 quilo de fungicida e 1,1 quilo de inseticida. Quarenta anos depois, o uso médio de herbicida caiu para 242 gramas, de fungicida, para 185 gramas e de inseticidas, para 69,75 gramas por hectare.

“No começo, o objetivo da indústria era criar um produto que fosse eficiente contra o maior número possível de pragas e tivesse o efeito residual o mais longo possível para diminuir o número de aplicações”, diz José Roberto Da Ros, presidente do Sindag. Com o passar do tempo, a legislação dos países evoluiu e o mercado passou a exigir produtos mais especializados. “Dessa forma, o efeito do produto seria só sobre determinada praga, sem interferir no desenvolvimento de insetos, por exemplo, que não fazem mal à lavoura”, diz.

As mudanças tiveram um custo para as indústrias. Da Ros conta que para se chegar a um novo produto, nos anos 60, eram necessárias 10 mil moléculas e até oito anos. Hoje, 200 mil moléculas e ao menos 10 anos de investimentos. “O consumidor ficou cada vez mais influente e fez com que as empresas passassem a ter como meta o desenvolvimento de produtos com mínimo impacto no ambiente e máxima produtividade das lavouras”, diz Da Ros. (AI)

Contexto

Apesar dos avanços da indústria, que coloca no mercado produtos que exigem menos volumes por hectare para o mesmo grau de eficiência, o mau uso dos agrotóxicos por parte dos produtores é um problema recorrente no Brasil. Em seu último levantamento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) observou o uso indiscriminado desses produtos. De 3.130 amostras em frutas, verduras, legumes e grãos à venda para o consumidor, 29% apresentaram problemas, desde uso de defensivos não permitidos para a cultura ou sem registro no país até alto grau de resíduos de agrotóxicos no alimento. Pelo segundo ano, o pimentão teve o maior índice de irregularidades: 80% das amostras foram consideradas insatisfatórias. Em seguida estão uva, pepino e morango. Para o órgão, o resultado é bastante preocupante.