De: Alderi Emídio de Araújo

Data: 7 de junho de 2011 10:08

Assunto: Campanha permanente contra os agrotóxicos…e pela vida?

Para: contraosagrotoxicos@gmail.com

Bom dia Senhores.

Entre as mais importantes descobertas da humanidade estão sem dúvida, os antibióticos e o fungicida. Desde que Alexis Millardet, descobriu em 1885 as propriedades fungicidas da calda bordalesa, a história da agricultura mundial tomou um novo rumo. Os enormes prejuízos causados

aos produtores pela ação de fungos sobre plantas produtoras de alimentos deixou de ser um flagelo que induzia a fome, a miséria e as migrações em massa. Foi assim que o fungo Phytophthora infestans, agente causal da requeima da batata, causou a morte de cerca de 2 milhões de ingleses no século XVIII e produziu uma migração em massa de ingleses para os EUA para fugirem da fome.

Desde essa época, uma enorme quantidade de moléculas direcionadas ao controle de pragas agrícolas foram sintetizadas por diferentes empresa. Durante muitos anos os produtos apresentavam alta toxicidade e eram aplicados em altas doses. Os resíduos no solo poderiam durar até 30 anos. Um evolução significativa nesse aspecto foi observada nas últimas décadas. Hoje, a cada dia, as doses necessária para a obtenção de controle efetivo de pragas tem sido menores e a eficiência de controle maior, reduzindo o volume dispensado no ambiente. Há que se considerar, sem dúvcida, que uma conjunção de fatores tem contribuído para isso, devendo-se destacar, sobretudo, uma maior consciência dos mercados consumidores, e nesse particular, os movimentos ambientalistas que cumprem um papel importante no processo.

Entretanto, considerar o banimento dos agrotóxicos como a solução para a alimentação saudável é uma atitude, no mínimo infantil, para não dizer irresponsável. No momento em que escrevo essa mensagem, pelo menos um indivíduo vinculado a esse movimento estará consumindo um produto que, sem o uso de agrotóxicos, não estaria em sua mesa. É bom lembrar que dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que, na ausência do controle de pragas pelo uso de agrotóxicos haveria uma redução de cerca de 40% na produção de alimentos.

Além disso cumpre destacar que os dados a respeito do consumo brasileiro de agrotóxicos são distorcidos para enganar a população desinformada. O Brasil consome cerca de US$ 90,00/ha de agrotóxicos, ao passo que o Japão, por exemplo, consome US$ 850,00 e a França US$ 200,00. Portanto, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos em volume e não em quantidade por área. Isso se explica pelas dimensões continentais do país. Também é bom destacar que tem sido observada uma redução no uso de agrotóxicos em alguns países desenvolvidos como os EUA, país também de dimensões continentais que perde para o Brasil em consumo por uma razão que a cegueira proposital dos movimentos ambientalistas insistem em não ver. O uso em larga escala de variedades transgênicas que exigem menor volume de aplicação de produtos para o controle de pragas.

Gostaria também de acrescentar que o Brasil possui enormes contingentes de pessoas morando nas cidades. Na Década de 60 eram 80% no campo e 20% nas cidades. Hoje, de acordo com dados do último censo do IBGE, são 84% nas cidades e 16% no campo. Apenas em São Paulo são 19 milhões de habitantes na capital e região metropolitana. Qual a proposta do movimento para alimentar toda essa gente? Os alimentos orgânicos custam os olhos da cara, não constituem produto de massa e ocupam um nicho de mercado destinado a uma fatia abastada da população.

Ao invés de propor o banimento do uso de agrotóxicos, os movimentos sociais deveriam propor o seu uso correto, porque trata-se de uma tecnologia indispensável à obtenção de elevadas produtividades necessárias ao atendimento de um mercado consumidor cada vez maior. E não são apenas para frutas nobres que são expostas às mesas dos ricos, mas sobretudo para o arroz, o feijão o milho e o trigo que está todo dia na mesa dos pobres.

Precisamos refletir sobre posições extremadas que não conduzem à solução dos problemas e criam apenas factóides. Se as entidades pretendem fazer uma campanha contra o uso de agrotóxicos, devem ficar à vontade, mas proponham uma solução para a segurança alimentar porque se o caminho a ser tomado for o proposto, a população pobre morrerá de fome. Afinal, quantas toneladas de produtos orgânicos estão disponíveis nas feiras livres e nas gôndolas dos supermercados para a população de baixa renda colocar à sua mesa? Vocês dirão, sim, mas nós vamos produzir. Quanto será produzido e em qual o horizonte temporal? Neste sentido proponho alterar o nome da campanha para “Campanha Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Fome”, porque pela vida ela não é.

Cordialmente,

Alderi.

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MENSAGEM DO PROFESSOR LUIS CARLOS PINHEIRO, EX-PRESIDENTE DA EMBRAPA

RESPOSTA AO PESQUISADOR

“A manifestação do sr. Alderi é, antes de mais nada, ingênua, para não dizer ignorante: defender os transgônicos na produção de alimentos é, além de inúmeros inconvenientes, aceitar a destruição da biodiversidade e, por consequência, da vida. Logo, quem está a favor da morte não somos nós e sim quem predica os transgênicos. Se as doses dos venenos são menores, é porque são mais concentrados e, portanto, mais letais.É a mesma FAO, 2007, que informa morrerem por ano, 20.000 pessoas intoxicadas por agrotóxicos, número seguramente muito maior. Levantamento realizado pela Secretaria de Saude de Santa Catarina registra que, enquanto os óbitos por câncer, nas diversas profissões, varia de 0,9 a 6,7%, nos trabalhadores agrícolas é de 23,7%. Poderia seguir citando números incontestes para mostrar a agressividade e a inconveniência dos agrotóxicos à saude humana.

Mas, acho oportuno indicar ao sr. Alderi e aos pesquisadores o sequinte:

  1. Os agrotóxicos são usados para “controlar as pragas”. Na natureza não há “pragas”, há organismos que ocorrem em consequência de erros humanos, com técnicas absolutamente equivocadas, como tem sido a orientação da maioria das pesquisas agrícolas, tanto vegetais como animais, sempre no interesse das multinacionais e não dos produtores;
  2. Tanto a calda bordalesa,como a calda sulfocálcica, como o sulfato de nicotina, são elaborados com substâncias naturais, ao passo que os agrotóxicos são produtos sintéticos (desde a descoberta do DDT por Paul Miller, Suiça 1939), portanto alheios, estranhos, à natureza.
  3. Há uma lei ecológica primária: O TAMANHO DA POPULAÇÃO É IGUAL À SUA DISPONIBILIDADE DE ALIMENTO;
  4. Quando se pratica a monocultura fertilizada com produtos de alta solubilidade, produz-se uma iatrogenia (doença produzida pela cura) gerando uma proteólise na seiva das plantas. Aí, é inexorável a presença maciça da “praga”, que é atraida pela proteólise;
  5. O equipamento enzimático das “pragas” é rudimentar ou inexistentes e não consegue diregir substâsncias mais complexas (Chaboussou, 1.982). Atacam as culturas sempre que se usam produtos de alta solubilidade;
  6. Pela ação do ciclo etileno no solo (Widdowson, 1.993) as plantas se nutrem adequadamente e, finalmente, pela transmutação dos elementos à baixa energia (Kervran, 1.972), um solo bem manejado e com nível biológico correto, dispensa fertilizantes;
  7. Em uma palavra,hoje a agroecologia sim, é capaz de produizir os alimentos limpos e na escala que a humanidade necessita.

Para orientação do sr. Alderi, em meu projeto Alegria de Pastoreio Racional Voisin, Taquara, RS, em 38 anos de atividade, `à exceção dos carrapaticitas ( usador muito parcimoniosamente) jamais usei qualquer agrotóxico e o nível de P solúvel do solo, passou de 0,98 ppm em 1.955, para 28 ppm em 1.999 (dados confirmados por pesquisa), sem adição de fertilizantes.

Portanto a Campanha contra o uso de agrotóxicos é a favor da vida e, atualmente, apesar do mundo do agronegócio negar, já temos tecnologia em escala capaz de, nos tempos adequados, produzir os alimentos limpos que a humanidade necessita. A propósito, é oportuno lembrar que, segundo a FAO 2009, há no mundo um bilhão de famintos (apesar do controle da Phytophthora infestans….) e não é por falta de alimentos e sim porque há um contingente humano que não tem poder aquisitivo para comprar os alimentos, contingente este vítima do perverso sistema capitalista, do qual as multinaconais dos transgênicos e dos agrotóxicos são beneficiárias e, pela lei imoral de patentes os nossos germoplasmas naturais estão sendo pirateados por essas organizações, comprometendo nossa soberania alimentar. Conhece imoralidade maior?

Luiz Carlos Pinheiro Machado, ex-presidente da Embrapa

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