Do G1 MT, 29/03/2012

Leandro J. Nascimento

A introdução da nova variedade de soja transgênica no mercado brasileiro pela Monsanto, a Intacta RR 2 PRO, em substituição à RR (Roundup Ready), predominantemente utilizada nas lavouras do país já movimenta o setor produtivo. A empresa ainda não definiu o valor que será cobrado pela tecnologia e pretende defini-lo após encontros com representantes do setor. Em Mato Grosso, uma reunião está programada para a sexta-feira (30) junto à Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), em Cuiabá.

Na unidade federada, a maior parcela das áreas destinadas à oleaginosa é ocupada pela transgenia. Entre as safras 2010/11 e 2011/12, o percentual cresceu de 57% para 70%. Em números, avançou de 3,7 milhões de hectares para alcançar quase 5 milhões de hectares, conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). De acordo com o presidente da Aprosoja, Carlos Fávaro, somente os produtores de Mato Grosso pagam, em royalties pelo uso da soja RR, o lucro equivalente a 5 milhões de sacas de soja colhidas.

O dirigente defende a adoção da transgenia nas lavouras como forma de alavancar a produção e ter o produtor rural disponibilidade de contar com variedades resistentes aos insetos e tolerantes, por exemplo, ao herbicida Glifosato. Ele diz que a definição de custos para a utilização das sementes de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) deve ocorrer em consenso.

Para Fávaro, a maior preocupação do setor produtivo do estado consiste não no valor a ser taxado pela Monsanto. Mas sim como será cobrado.

“Temos que garantir o direito de propriedade intelectual para quem pesquisou. Eles têm que ser remunerados por isso. A questão é de como cobrar. O valor o mercado regula. Agora, o benefício que vamos ter, se for viável pagar o custo dos royalties o produtor vai arcar”, ponderou Carlos Fávaro.

Segundo o representante, há pontos a serem definidos. Entre eles, o pagamento de royalties da soja por produtores que não utilizaram as variedades transgênicas nas lavouras. “Tem a questão de contaminação, segregação. O produtor que não comprou e não usou a semente se tiver a soja contaminada vai ter que pagar por ela. São pequenos problemas que precisamos resolver”, frisou o presidente da Aprosoja.

De acordo com a Monsanto, a nova variedade está pronta para venda, mas aguarda aprovação em países do mercado internacional.

FOLHA DE SÃO PAULO, 29/03/2012

Monsanto aposta em nova soja para manter receitas

Semente transgênica mais produtiva deve substituir variedade predominante no Brasil, a qual terá patente expirada em 2014

Voltada para o país, soja propicia ganho de R$ 347 por hectare e pode estar disponível em 2012/13, diz empresa

A Monsanto aposta todas as fichas na nova soja que em breve colocará no mercado, a Intacta RR2 PRO.

A nova variedade transgênica substituirá a RR (Roundup Ready), que tem os dias contados para o término da patente e o direito de cobrar royalties.

Os direitos de propriedade intelectual sobre a soja RR terminam em 2014, segundo a Monsanto. Para compensar essa perda de receita, a empresa confia na substituição da antiga semente pela nova.

“Toda vez que você traz inovação ao mercado, tem de representar um verdadeiro ganho de produtividade. Porque, se a produtividade for igual à antiga e a antiga for de graça, o produtor vai continuar na antiga”, disse à Folha o presidente mundial da Monsanto, Hugh Grant.

Desenvolvida para a necessidade das lavouras brasileiras, usualmente atacadas por lagartas, a nova soja combina a proteção contra insetos e a tolerância ao herbicida glifosato, usado para controlar plantas invasoras.

Pronta para venda, mas à espera de aprovação na China e na Europa -principais clientes do Brasil-, a nova soja passou pelos primeiros testes nesta safra. Os resultados animam a Monsanto.

“Existe uma forte convicção de que essa soja vai ter maior produtividade consumindo menos insumos”, afirmou Grant, que esteve no Brasil nesta semana para o lançamento do produto.

A empresa semeou a nova variedade nas lavouras de 500 produtores espalhados pelo país. O resultado médio foi uma produtividade de 6,6 sacas a mais por hectare em relação a outras variedades.

Por ser resistente à lagarta, a nova semente permite, ainda, um ganho extra de R$ 70 por hectare na redução de pulverizações, uso de máquinas e custos dos inseticidas.

Após colher os resultados de todos os produtores envolvidos nesse primeiro plantio experimental, a Monsanto estima um ganho de R$ 347 por hectare para os agricultores.

Dois produtores procurados pela Folha vivenciaram situações diferenciadas. Um deles, de Mato Grosso do Sul, diz que as vantagens são evidentes no combate à lagarta, pois a região onde está, Caarapó, tem alta incidência desses insetos nas lavouras.

Quanto à produtividade, ficou difícil a aferição porque a soja foi muito prejudicada pela seca na região.

Outro produtor, de Campos de Júlio (MT), diz que a produtividade é maior e superou em quatro sacas a do plantio de outras variedades.

PREÇO

A Monsanto estuda quanto vai cobrar pela tecnologia. O valor dos royalties será discutido com os produtores, a partir dos ganhos obtidos, em discussões que começam amanhã, em Mato Grosso.

“A primeira pergunta não é o quanto custa. A primeira pergunta é: o quanto a nova soja rende?”, diz Grant.

Caso a aprovação da variedade por China e Europa saia nos próximos meses, a comercialização da nova semente poderá ocorrer já na safra 2012/13.

Do G1 MT,

Área com soja transgênica cresce em Mato Grosso e chega a 70% da safra

Plantio de áreas com soja transgênica atingiu 4,9 milhões de hectares.

Em 2010/11 estado utilizou 3,7 milhões de hectares para os OGM.

Cresceu a área destinada à soja transgênica em Mato Grosso. Na safra 2011/12 foram ocupados com os Organismos Geneticamente Modificados 70% dos 6,98 milhões de hectares reservados à cultura. Na prática, foram semeados 4,9 milhões de hectares, segundo identificou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em 2010/11, a transgenia estava presente em 57% das lavouras, ou 3,7 milhões de hectares.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho em Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro, a utilização da soja transgênica pode aprimorar o desempenho da lavoura. “A biotecnologia vai trazer avanço de produtividade, o que não vemos com tanta capacidade na convencional, pois ela está chegando no limite”, declarou o representante, ao G1.

“A biotecnologia é fundamental e veio para ficar. Certamente a expansão é natural. É isso que vai garantir o acesso ao alimento”, frisou ainda Carlos Fávaro. Atual campeão na produção de soja, Mato Grosso é o estado que mais produz o grão. Somente para esta safra, os agricultores devem ser responsáveis pela introdução de 22,1 milhões de toneladas de soja no mercado, conforme a estimativa do Imea.

Em Sorriso, a 420 quilômetros de Cuiabá, o produtor Laércio Pedro Lenz apostou na utilização da soja modificada geneticamente. A área de aproximadamente 900 hectares é ocupada com os chamados OGMs. Para ele, a soja transgênica permite o melhor manejo. “Com a transgênica o manejo é mais fácil, como o controle da erva daninha. É a variedade com resistência ao glifosato”, pontuou o agricultor, que também preside o Sindicato Rural da cidade.

De acordo com Lenz, estima-se que 70% das áreas destinadas à soja em Sorriso sejam ocupadas também pela transgênica. Mas apesar do crescimento da área de soja em Mato Grosso, o setor produtivo fala em manter também a área convencional, conforme explica o presidente da Aprosoja, Carlos Fávaro.

“É claro que Mato Grosso tem que usar uma única oportunidade. De manter parte de sua produção convencional para atender nichos de mercado. Paraná e Rio Grande do Sul são 100% transgênicos. Nossos dois maiores competidores mundiais, a Argentina e Estados Unidos, também. Se tivermos de 20% a 30% com convencional, certamente vamos atender um nicho na Europa. Mas o mercado vai precisar remunerar muito bem esses produtores”, frisou Fávaro.

Em nível Brasil

O crescimento da transgenia em Mato Grosso também acompanhou o cenário brasileiro. No ano passado, a área com os OGMs no país evoluiu em 20%, ou 4,9 milhões de hectares a mais. Em todo país, foram plantados 30,3 milhões de hectares.

A soja transgênica ocupou 20,6 milhões de hectares, seguida pelo milho com 9,1 milhões de hectares e o algodão, 600 mil hectares, segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA).

Para o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange), Ricardo Sousa, dois fatores podem ter contribuído para o avanço das culturas transgênicas, a exemplo da soja: a falta de sementes convencionais e a busca do produtor pelo aperfeiçoamento.

Mas conforme o dirigente, optar por culturas convencionais é obter vantagens, como o não pagamento de royalties pelo uso das sementes. “Não somos contra nenhuma tecnologia. Mas os produtores [convencionais] enxergam nos não transgênicos uma possibilidade de acesso ao mercado, competitividade em relação aos vizinhos Estados Unidos e Argentina, que também têm soja”, frisou Sousa.

Para a coordenadora adjunta do Instituto Centro de Vida em Mato Grosso (ICV), Karin Kaechele, é preciso ver a evolução da área transgênica com ressalvas. “É mais pelo lado social, uma escassez de sementes não transgênicas. O risco de não se ter a opção não transgênica. Sabemos também dos problemas de ficar dependendo de uma companhia. Mato Grosso poderia se destacar por uma produção de soja não transgênica”, manifestou.