VALOR ECONÔMICO, 03/07/2012

A Monsanto pretende ampliar em cinco vezes a taxa cobrada pela soja RR2; o preço da semente de milho transgênico quintuplicou em quatro anos

Estimulada pelo avanço dos transgênicos no país, a produção de sementes certificadas cresceu 23% na safra 2011/12, encerrada no último fim de semana. Segundo o balanço anual da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), obtido com exclusividade pelo Valor, as sementeiras produziram mais de 2,99 milhões de toneladas no período – um recorde.

As sementes certificadas são aquelas produzidas para o mercado, com garantia de procedência, parâmetros de qualidade e cobrança de royalties pelas tecnologias nelas embarcadas. No Brasil, disputam espaço com as chamadas sementes “salvas”, guardadas pelos próprios produtores rurais de uma safra para outra, uma prática ainda legal [Esta prática não é ilegal, vide inciso XLIII, do art. 2 da lei 10.711/203 “semente para uso próprio: quantidade de material de reprodução vegetal guardada pelo agricultor, a cada safra, para semeadura ou plantio exclusivamente na safra seguinte e em sua propriedade ou outra cuja posse detenha, observados, para cálculo da quantidade, os parâmetros registrados para a cultivar no Registro Nacional de Cultivares – RN”].

Os agricultores usaram 1,66 milhão de sementes certificadas na safra 2011/12, um aumento de 22% sobre a temporada anterior. O número ainda está distante do pleno potencial do mercado brasileiro, estimado pela Abrasem em 2,55 milhões de toneladas na última temporada. Mesmo assim, sua participação vem crescendo ano após ano – na última safra, avançou 3 pontos percentuais, a 65,1% de todas as sementes cultivadas no país. Foi a maior taxa de utilização já registrada no Brasil.

Juntas, as culturas de milho, soja e algodão representam mais de 77% do mercado brasileiro de sementes. Na última temporada, o cultivo de híbridos com certificação de origem cresceu 44%, para 281,2 mil toneladas. Sua participação no plantio total da safra aumentou de 87% para 91%.

O plantio de sementes certificadas de soja cresceu 23,5%, para 1 milhão de toneladas. Sua participação saltou de 64% para 67% do total cultivado. Já o uso de sementes comerciais de algodão avançou 7,7%, para 11,48 mil toneladas – de 51% para 55% do total.

Segundo o presidente da Abrasem, Narciso Barison Neto, o crescimento do mercado brasileiro de sementes é impulsionado pelo rápido avanço na adoção da transgenia no país. “Há uma relação direta entre a introdução da biotecnologia e o uso de sementes certificadas. À medida que o conteúdo tecnológico da semente aumenta, o produtor passa a enxergar mais valor nesse insumo”, explica.

Liberados oficialmente apenas em 2005, os transgênicos já representam 80% das sementes de milho, 60% das de soja e 55% das de algodão vendidas no país, segundo a Abrasem. Até o início da década passada, as sementes certificadas eram responsáveis por apenas 70% do milho, 55% da soja e 30% do algodão plantados no país.

Barison lembra, porém, que a adoção dos transgênicos de modo ilegal, antes da aprovação da Lei de Biossegurança (2005), estimulou o uso de sementes “piratas”, principalmente no Sul do país. “No Rio Grande do Sul, apenas agora estamos recuperando os níveis registrados no fim dos anos 1990”.

O presidente da Abrasem afirma que a taxa de utilização das sementes certificadas está perto de alcançar todo o potencial do mercado de milho, mas ainda tem espaço para crescer nas principais culturas. Em até cinco anos, sua participação deve chegar a 90% na soja e 70% no algodão, prevê.

Na última safra, o mercado brasileiro de sementes movimentou cerca de R$ 4 bilhões, segundo estimativa da Abrasem. Apesar do crescimento de 14% em relação à safra anterior (R$ 3,5 bilhões), trata-se de uma fatia ainda pequena do mercado mundial, estimado em cerca de US$ 37 bilhões (R$ 74 bilhões) pela organização ISAAA.

Contudo, esse valor deve crescer de modo mais acentuado nos próximos anos, diante do aumento esperado dos royalties pagos à indústria de biotecnologia, que deve lançar uma gama de novos transgênicos no país já a partir da safra 2012/13.

Só a Monsanto, que deve lançar suas novas variedades de soja geneticamente modificadas, pretende ampliar em cinco vezes a taxa cobrada pelo uso de sua tecnologia, que promete aumentar a produtividade das lavouras. “Desde que os primeiros transgênicos de milho foram lançados no país, há quatro anos, o preço das sementes de ponta quintuplicou”, afirma Barison.