[Veja também reportagem do Jornal Nacional sobre o caso]

REYNALDO TUROLLO JR.
DE SÃO PAULO

Dois agrotóxicos chegaram ao mercado nacional sem terem passado pela avaliação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que atesta sobre eventuais danos do produto à saúde humana.

Essa fase de avaliação é obrigatória para os produtos obterem o registro no Ministério da Agricultura, mas foi “pulada”. Sem o aval da Anvisa, os agrotóxicos não poderiam chegar às prateleiras.

Um dos dois produtos beneficiados é o Diamante BR, inseticida para lavoura de cana-de-açúcar fabricado pela Ourofino Agronegócios.

A empresa é a mesma que, no ano passado, emprestou um jatinho ao então ministro da Agricultura Wagner Rossi, do PMDB, no episódio que acelerou sua queda. A família do político tem ligações com a Ourofino.

Além do desgaste, o uso da aeronave para deslocamentos particulares custou a Rossi uma censura na Comissão de Ética Pública da Presidência.

O outro produto que não passou pela avaliação da Anvisa é o fungicida Locker, da FMC Química do Brasil, usado no plantio de soja.

As fábricas das duas empresas ficam em Uberaba (MG).

O Locker teve registro publicado no “Diário Oficial da União” em junho, mas estava no mercado desde março. O Diamante BR teve registro publicado em 26 de setembro.

Além desses dois produtos, há irregularidades com ao menos outros três, que não chegaram a ter o registro final no ministério, mas receberam o aval da Anvisa sem passar por avaliação. Dois deles são da Ourofino: o Seguro BR e o Coronel BR.

VENDA PROIBIDA

As vendas do Diamante BR e do Locker só foram proibidas após o Ministério da Agricultura publicar no “Diário Oficial da União”, em 17 de outubro, a suspensão do IAT (Informe de Avaliação Toxicológica) desses produtos –documento expedido pela GGTox (Gerência-Geral de Toxicologia) da Anvisa.

A medida só ocorreu porque o gerente da GGTox, Luiz Cláudio Meirelles, começou a investigar por que razão certos produtos sem avaliação estavam ganhando o IAT.

Meirelles denunciou suspeita de corrupção e irregularidades no órgão em carta publicada numa rede social.

Segundo ele, houve até a falsificação de sua assinatura para liberar os produtos sem análise. A denúncia de Meirelles foi revelada ontem pelo jornal “O Globo”.

Na carta, Meirelles diz ter feito a denúncia. “Não recebi qualquer orientação da diretoria [da Anvisa]”, afirmou.

Então, decidiu solicitar à diretoria a exoneração do gerente de Avaliação de Riscos, Ricardo Augusto Velloso –publicada em 22 de outubro.

Na semana passada, Meirelles foi surpreendido com sua própria exoneração.

OUTRO LADO

Em nota, a direção da Anvisa afirmou que a demissão de Meirelles “não tem relação direta” com as apurações.

A Anvisa reconheceu que o ex-gerente denunciou a situação em setembro, e disse que levou o caso à corregedoria.

O Ministério Público começou a investigar em outubro, após receber denúncia, e a PF ontem, a pedido da Anvisa.

Velloso, exonerado da Gerência de Avaliação de Riscos, disse que desconhece a falsificação de assinaturas para liberação de produtos.

Velloso afirma ainda que prestou todos os esclarecimentos durante as apurações internas na Anvisa, ao contrário do que afirmou Meirelles no texto da carta aberta.

A reportagem não conseguiu falar ontem com responsáveis por FMC e Ourofino.

Colaborou a Sucursal de Brasília