via Globo Rural, 11/04/2014

De acordo com autoridades, 1,45 milhão de toneladas foram rejeitadas

A rigorosa posição da China contra a importação de certas variedades de milho geneticamente modificado tem prejudicado as exportações dos Estados Unidos, justamente num momento em que o país colhe uma safra recorde. Estimativa da Associação Nacional de Grãos e Sementes, que representa a indústria norte-americana, aponta para uma queda de 85% no volume embarcado para o gigante asiático no acumulado de 2014 ante igual período de 2013, com apenas 171 mil toneladas.

Pelos dados da associação, 1,45 milhão de toneladas de milho transgênico já foram rejeitadas por Pequim, bem mais que as 545 mil toneladas anunciadas pelas autoridades chinesas e que as 900 mil toneladas estimadas pela imprensa. O prejuízo para a indústria dos EUA já chega a US$ 427 milhões, sem falar nas perdas para os produtores, informa a associação.

A China vem rejeitando carregamentos dos EUA desde meados de novembro passado, quando testes detectaram a variedade Agrisure Viptera, produzida pela Syngenta e não permitida no país. A gigante suíça vende esse tipo de milho aos EUA, Brasil e Argentina, com aprovação dos respectivos governos, desde 2011.

Além da Syngenta, outras empresas também têm sentido o impacto desse posicionamento por parte de Pequim. Recentemente, a Cargill informou que as rejeições chinesas tiveram grande peso na queda de 28% de seu lucro líquido no 1º trimestre fiscal. “É bem dramático para os EUA não abastecer o mercado chinês”, afirma o presidente da Associação de Exportação de Grãos norte-americana, Gary Martin.

Produtos transgênicos são cultivados nos EUA desde 1996, e as empresas que os produzem, como Syngenta, Monsanto e DuPont, geralmente estão alinhadas com as tradings que os comercializam, como Archer Daniels Midland (ADM) e Cargill. Agora, ambos os lados discutem quem deve arcar com os prejuízos causados pela China.

Para a Associação de Exportação de Grãos, que inclui ADM e Cargill, os riscos são assumidos pelas produtoras de sementes. A entidade também disse que se opõe a introduzir grãos transgênicos em países que não deem garantias de aprovação. A Syngenta, contudo, não atendeu às recomendações e enviou à China o milho geneticamente modificado que hoje atrapalha todo o setor norte-americano. A empresa não se pronunciou sobre a questão nem se irá arcar com os embarques rejeitados.

Alguns representantes avaliam que as negativas de Pequim têm mais fundo comercial do que de segurança alimentar. Karl Setzer, analista da cooperativa MaxYield, em West Bend (Iowa), diz que a China importa a variedade produzida pela Syngenta há três anos e só veio se posicionar contra o produto agora que começa a reduzir a dependência dos EUA, comprando também do Brasil e da região do Mar Negro. Um porta-voz da embaixada da China nos EUA negou que as rejeições tenham fundo econômico, afirmando que a lei chinesa para produtos transgênicos é “transparente”.

Maior mercado mundial para o milho atualmente, a China importou 5 milhões de toneladas do grão de diversas origens em 2013, bem mais que as 47 mil toneladas observadas em 2008, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).