Boletim n. 9

Bem vindas e bem vindos de volta! No Boletim deste mês quase não couberam as notícias. As sementes crioulas marcaram presença forte na mídia. Fizemos uma seleção cuidadosa e você lerá: Novos transgênicos, velhos agrotóxicos; Controvérsias no cultivo e comercialização do trigo transgênico; Resistências latinoamericanas, da Moratória no Peru a práticas agroecológicas no Brasil e na Argentina; e O legado de Percy Schmeiser na luta contra a Monsanto. Além disso, outras matérias: dicas de leitura, premiação para quem cuida da agrobiodiversidade e a pauta da Agroecologia nas eleições municipais.

  

Matéria especial

Novos transgênicos, velhos agrotóxicos

Em 1962 o prêmio Nobel de medicina foi para Francis Crick e James Watson, a dupla que descobriu a famosa estrutura de dupla hélice do DNA, o chamado código genético da vida (na verdade foram três pesquisadores, mas essa é outra história). Em 1970, o prêmio Nobel da paz foi para Norman Borlaug, tido como o pai da Revolução Verde. Semanas atrás, as laureadas com o Nobel de química foram Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, pesquisadoras reconhecidas por terem desenvolvido a técnica de edição genética chamada Crispr (lê-se crisper). Revistas científicas, como Science e Nature, consideram a técnica “revolucionária” por promover modificações genéticas precisas e que poderão alterar genes humanos, eliminar doenças e abrir novos campos de terapias genéticas.

Quem não saiu de cena nos 50 anos que separam esses dois prêmios foram os agrotóxicos, base da Revolução Verde e produtos que tiveram seu uso ampliado com a adoção das sementes transgênicas. É o modelo agroalimentar dominante que molda os usos dessas velhas e novas tecnologias. Para continuar esse debate, clique e leia a matéria especial preparada para esse boletim.

  

Sementes crioulas na mídia

Controvérsias do trigo e do pão

No dia 07 de outubro de 2020, a Argentina tornou-se o primeiro país a aprovar a comercialização de trigo transgênico: a variedade HB4, que pertence à gigante do agro, Bioceres. Embora as autoridades sanitárias argentinas tenham aprovado a comercialização, o início efetivo dos plantios depende do aval do Brasil, maior importador do trigo argentino. Na análise de Ana Polmar, ativista e integrante do Exaltación Salud trata-se de uma afronta à soberania argentina para decidir sobre sua saúde, sua alimentação e sobre uma variedade transgênica que poderá ser incorporada ao pão, alimento diário da população.

Clique e ouça: O Governo Nacional aprovou o trigo transgênico na Argentina: veneno para todos

Dias depois…

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) organizou no dia 22 de outubro de 2020 uma Audiência Pública sobre o pedido de liberação comercial para importação e uso na alimentação do trigo transgênico proveniente da Argentina. A preocupação com a rejeição por parte dos consumidores, contudo, fez com que representantes da indústria alimentar refutassem a proposta. Em entrevista, o agrônomo Gabriel Fernandes destacou uma série de pontos preocupantes: a contaminação das sementes de trigo pelas variedades transgênicas, tal como aconteceu com a liberação das variedades transgênicas de milho e soja; a resistência que as sementes de trigo transgênicas possuem ao agrotóxico da Bayer glufosinato de amônio, mais tóxico do que o glifosato; e a relação de dependência estabelecida entre Brasil e Argentina.

Resistências lationoamericanas

No Peru, o Congresso decidiu no dia 20 de outubro último ampliar por 15 anos o prazo de vigência da Lei N° 29811, que estabelece Moratória à entrada de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) no país. A ampliação da Moratória, até 2035, é uma vitória da agrobiodiversidade e de seus guardiões!

No Brasil, não faz muito tempo, escrevemos uma matéria especial sobre as mulheres guardiãs da agrobiodiversidade no Paraná e a rede de solidariedade em tempos de pandemia. Pois é: as sementes crioulas cultivadas e produzidas por elas chegaram até quase duas mil famílias, moradoras de 23 comunidades do campo e da cidade.

Na Argentina, experimentos inéditos no país com milho crioulo, conduzidos pelo Grupo Agricultura Integral, comprovaram que é possível obter melhores resultados em qualidade e rendimento com a utilização de fertilizantes orgânicos e manejos de baixo custo. Para os envolvidos, os resultados apontam para a possibilidade de construção de uma agricultura livre de transgênicos e venenos e adequada à realidade camponesa.

Lembrança importante!

No Brasil, há diversas experiências conduzidas por técnicos/as e agricultores/as familiares, que demonstram as elevadas produtividades obtidas com o uso de sementes crioulas e de práticas agroecológicas. Selecionamos para leitura dois estudos sobre essas experiências, um no Sul e outro no Nordeste.

No Canadá

Faleceu o agricultor Percy Schmeiser, que ficou conhecido internacionalmente por sua luta contra a Monsanto. Acusado pela empresa de uso inadequado de sementes de canola, o agricultor moveu uma ação judicial, que chegou à Corte Suprema canadense, afirmando, ao contrário, que seus cultivos com sementes melhoradas há mais de 50 anos por ele e sua família haviam sido contaminados pelas variedades transgênicas da empresa. Confira uma entrevista antiga na qual o agricultor conta sobre essa batalha.

  

Recomendamos:

 

Partilhar e estimular a participação no Prêmio #AHistoriaQueEuCultivo, voltado para guardiãs e guardiões da agrobiodiversidade no Brasil, dando reconhecimento e visibilidade a quem cuida e conserva a agrobiodiversidade. Atenção, o prazo para envio dos vídeos se encerra dia 10 de dezembro!

A Campanha Agroecologia nas Eleições é uma iniciativa da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Fruto de uma pesquisa inédita que identificou mais de 700 políticas que apoiam a agroecologia e agricultura familiar no campo e na cidade, a Campanha fomentou o debate público durante as eleições municipais, com olhar especial para Municípios Agroecológicos e Políticas de Futuro.

  

EXPEDIENTE

Sementes Crioulas é uma iniciativa da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia

Edição: Helena Rodrigues Lopes e Gabriel Bianconi Fernandes
Pesquisa e redação: Helena Rodrigues Lopes e Gabriel Bianconi Fernandes
Produção: Adriana Galvão Freire
Revisão: Silvio Gomes de Almeida, Paulo Petersen e Luciano Silveira
Diagramação: ig+ Comunicação Integrada

Gostou deste Boletim? Escreva pra gente suas sugestões e comentários: revista@aspta.org.br
Confira as edições anteriores em: https://pratoslimpos.org.br/?cat=608