FEIRA DO FLAMENGO: Praça José de Alencar, esquina das ruas Marquês de Abrantes e São – Salvador, às terças-feiras.

FEIRA DE BOTAFOGO: Praça Joia Valansi, na Rua Muniz Barreto, em frente ao nº 448. Todos os sábados.

FEIRA DO CATETE: Praça do Poeta, na Rua do Catete, esquina com a Silveira Martins, às quintas-feiras.

FEIRA DA COBAL DO HUMAITÁ: Rua Voluntários da Pátria, 448. Todos os dias.

FEIRA DA GLÓRIA: Praça do Russel, aos sábados

FEIRA ORGÂNICA DO ITANHANGÁ: Estrada da Barra da Tijuca nº 1990, na Barra da Tijuca

A informação é do jornal O Globo, 04/05/2010.

por Camila Nóbrega | É dia de feira, quem quiser pode chegar, já dizia o refrão da música do Rappa. Mas, ao contrário do que a letra prega, foi-se o tempo em que qualquer dia era dia de feira, quarta-feira, quinta-feira, não importava a feira. Hoje, com a chegada de cada vez mais feiras de orgânicos às cidades grandes, saber que tipo de feira se frequenta é o que mais importa.

No Rio de Janeiro, por exemplo, as opções se multiplicam, mas, em vez de se render às barraquinhas instaladas na esquina mais próxima, pode-se escolher uma forma mais saudável de alimentação. No final do mês passado, por exemplo, a prefeitura concedeu licença a novas feiras de orgânicos para os bairros de Flamengo, Botafogo e Catete.

Apesar de pequenas, já são novas opções. Essas feiras especializadas são oportunidade para pessoas como o produtor Enéas de Oliveira, morador de Petrópolis, mostrar o diferencial no seu trabalho. Há mais de 30 anos, ele trabalha com agricultura no município e sequer sabe direito pronunciar (sic) o nome de agrotóxicos comumente utilizados em plantações como as suas. Nunca precisou “dessa coisa estranha de usar tanto veneno, enquanto a natureza pode muito bem dar conta das pragas que ela mesma cria”, explicou ele: — Comecei a acompanhar o trabalho do meu pai ainda criança e nunca usamos química alguma. A gente faz um controle, e coloca algumas folhosas, como a rúcula, entre as plantações. Os insetos não gostam de rúcula. Assim, a gente vai arranjando jeitos de fazer com que o bicho não venha. Há 30 anos, havia muito menos pragas nas plantações.

O que trouxe mais pragas foram os agrotóxicos — reclama o vendedor. À frente da aquarela que se forma com os diversos tipos de legumes, verduras e frutas que ficam expostos em sua barraca, ele exibe orgulhoso o selo de certificação da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO), o que significa, no bom e claro português de Enéas, que sua produção não precisa de veneno para dar bons frutos. E, por trás da barraca que ele montou na nova feira do Flamengo, às terças-feiras, na Praça José de Alencar, está o trabalho de 36 famílias. São cerca de cem pessoas que trabalham na Região Serrana do Rio de Janeiro e têm na agricultura familiar a única fonte de renda. O pré-requisito para permanecer no grupo, que recebe o nome de Biohorta, é respeitar todas as regras da ABIO, já que todos os produtores possuem o selo de certificação do órgão.

Enéas, sua mulher e os outros membros dessa rede de produtores se dividem para participar de feiras de orgânicos ao redor do estado e fazer entregas para um número de pessoas que cresce. A renda por família tem aumentado e, segundo ele, chega hoje a dois salários mínimos. Uma das pessoas que tem contribuído para o aumento do consumo de orgânicos é a dona de casa Rita Quintas. A carioca, que há anos frequenta a maior feira de orgânicos do Rio, na Glória, foi uma das que mais comemorou, ao ver as barracas instaladas no Flamengo: — Conheço o Enéas há muitos anos, assim como os outros produtores. Há mais de dez anos, li um artigo sobre os orgânicos, e mudei minhas compras lá em casa. Depois disso, fiz parte da Cooperativa Conatura, de trabalhadores e conservadores da natureza, e hoje sou mais uma divulgadora dos benefícios dos orgânicos para minha família e amigos. Sinto muita diferença no sabor e na aparência dos alimentos. E a questão da feira ainda é maior do que isso. É muito bom ter acesso às pessoas que plantam aquilo que vou comer, existe uma relação de cumplicidade e até cobrança. Nos supermercados, a coisa é completamente diferente. E, afinal de contas, estamos falando da comida que vai parar nas nossas mesas.

Durante a feira do Flamengo, que por enquanto conta ainda com apenas seis barracas e tem licença para apenas alguns meses, os donos das barracas se revezavam para atender dois tipos principais de demandas: de um lado, aqueles que conhecem os orgânicos de longa data e passam horas escolhendo até um molho de salsinha; de outro, pessoas que, curiosas, tiravam dúvidas sobre a diferença entre os orgânicos e os legumes e verduras que sempre compraram. A aposentada Teresa da Fonseca, de 70 anos, enquadrou-se no segundo grupo. E garantiu que saiu de lá sabendo tudo sobre os orgânicos: — Eu já tinha ouvido falar, mas não sabia o que era. Cheguei aqui e fiquei maravilhada com o cheiro e a cor dos alimentos — disse ela, mostrando cada pontinho esverdeado dos talos de um brócolis exposto em uma barraca. Nossa, há quanto tempo não vejo um alimento bonito assim. No mercado, tem que ficar catando e é difícil de achar. Às vezes, nem parece que vai alimentar de verdade. Hoje vim sem dinheiro e não pude comprar, mas vou voltar aqui outras vezes. Vi que é um pouco mais caro, um brócolis está em torno de R$ 3, e o dinheiro lá em casa é curto, mas vai valer a pena — disse, sorridente.

Segundo o coordenador das feiras, Renato Martelleto, a demanda por produtos sem agrotóxicos e não transgênicos tem crescido muito, mas falta apoio dos órgãos públicos para se estabelecer novas feiras: — No Rio, há uma lei que proíbe a criação de novas feiras. E os produtores não têm espaços comuns. Precisamos do apoio da população para continuarmos esse trabalho, por isso criamos um abaixo-assinado. É uma relação do produtor com o consumidor, o que traz vários benefícios. As pessoas precisam ficar atentas para escolher como vão se alimentar. E, para reduzir o preço, é só aumentar a escala de produção.

No Sul, os orgânicos já alcançam os mesmos preços dos alimentos de supermercados.

Essa é a nossa meta no Sudeste. Além do Flamengo, a feira está sendo realizada em Botafogo, na Rua Muniz Barreto, na Praça Joia Valansi e em breve no Catete, na Praça do Poeta, sempre das 7h às 14h.

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