A afirmação foi feita em evento da Confederação Nacional da Agricultura relizado dia 01 de julho em Brasília. Além de defender a produção de transgênicos, o candidato tucano também defendeu a produção de agrotóxicos genéricos no Brasil. Dilma Roussef e Marina Silva foram convidadas mas não participaram do Encontro com os presidenciáveis, que virou palco exclusivo para Serra.
Abaixo as reportagens dos jornais Valor Econômico e O Globo sobre o encontro.
VALOR ECONÔMICO, 02/07/2010.
Em encontro na CNA, Serra promete instituir defensivo agrícola genérico
Raquel Ulhôa, de Brasília
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, anunciou aos representantes do agronegócio, com quem debateu, em Brasília, que pretende “montar um mecanismo de crédito de prevenção e compensação, inclusive naquilo que o mercado não consegue fazer por si só: preços garantidos e seguro rural. “Garanto a vocês: vamos ter seguro rural, preços garantidos que funcionem.”
Anunciou também que implantará o “defensivo agrícola genérico”, lembrando a ação desenvolvida por ele quando ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, em relação aos medicamentos. Disse também que vai investir em pesquisa no setor de biotecnologia, para produzir o transgênico brasileiro, livrando o país da dependência da propriedade intelectual de outros países. Foi o que ele chamou de “transgênico verde-amarelo”.
Serra criticou as adversárias Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) pela ausência no encontro de presidenciáveis organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Comparando-as a “iogurte” ou “marca de bebida”, Serra disse que um candidato a presidente tem que expor e debater ideias, e não fazer campanha só com publicidade.
Único a se submeter às perguntas dos representantes do agronegócio, Serra disse o que o setor queria ouvir. “A agropecuária tem segurado a inflação, mantido a estabilidade e diminuído o desequilíbrio externo do Brasil. É a galinha dos ovos de ouro do desenvolvimento do Brasil”, afirmou. “Nos últimos 40 anos, a produtividade da terra agrícola multiplicou-se por três. Isso é demonstração de muita vitalidade. Verdadeira galinha dos ovos de ouro. Temos que alimentá-la, fortalecê-la, e não exauri-la”, completou.
Sem contraponto, Serra foi pródigo em críticas ao governo federal. Repetindo uma acusação constante, disse que o Estado e as agências reguladoras foram “apropriadas pelo setor privado, que são os partidos políticos e os sindicatos”. Para ele, a ocupação das agências por indicação política transformou-as em “ponto de ônibus”.
Com essa constatação, defendeu o que chamou de “estatização do Estado brasileiro”: despolitizar, despartidarizar os órgãos estatais, para que sirvam aos interesses públicos. Disse que há problemas de gestão e planejamento. “Não existe isso no Brasil. Hoje é anarquia”, afirmou.
Criticou de forma dura a relação do governo federal com o Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST) – segundo ele, um “movimento mantido pelo governo federal” – e prometeu segurança jurídica no campo. Para o tucano, o movimento de invasões não é de reforma agrária. “É de natureza revolucionária, socialista. As pessoas que pensam assim devem ter plena liberdade de pregar suas ideias. Sou contra que usem dinheiro do governo para isso”, disse.
Ele cobrou “coerência” e “clareza” do governo a respeito de sua posição em relação ao MST. “Não adianta por o boné numa hora, e em outra tirar o boné e esconder na gaveta.”
Serra defendeu medidas de incentivo para o produtor recuperar a mata ciliar, que deve ser considerada reserva legal. “Não vai dar para enfrentar a questão ambiental no Brasil sem alguém pagar. E quem paga? Quem polui. Tem que introduzir uma política de incentivos para recuperar matas ciliares. Se elas não forem consideradas reserva, não serão recuperadas”, disse.
O evento na CNA foi o primeiro compromisso público de Serra ao lado do candidato a vice-presidente em sua chapa, o deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Sentado na primeira fila, sem tirar o olho do twitter, Costa passaria quase despercebido, não fosse por uma homenagem feita por um produtor rural e por um episódio contato pelo próprio Serra em suas considerações finais, que causou certo constrangimento.
A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), lamentou a ausência de Dilma e de Marina, esta com a alegação de que não teve conhecimento prévio das perguntas. Ela entregou a Serra um documento com o que o setor espera do próximo presidente e apresentou os quatro principais problemas enfrentados: insegurança jurídica, política de crédito que não atende às necessidades, falta de infraestrutura logística e conflito com as exigências de preservação ambiental.
A uma pergunta sobre se é possível uma conciliação entre “as posições radicais que opõem ambientalistas versus agropecuários”, Serra foi cauteloso. “Considerou um fio da navalha muito difícil”, mas defendeu a busca de um caminho, um debate de ideias, que não resulte em perda para um dos lados. “Nessa questão dos conflitos que envolvem o setor agropecuário, acho possível encontrar soluções no chamado jogo de soma positiva”, disse. O candidato do PSDB defendeu uma máxima, da qual se disse seguidor: “A hipocrisia é a concessão que o vício traz à virtude. É melhor ser hipócrita do que ter um vício.”
Em sua apresentação, Serra também registrou a ausência das adversárias. “Nossa estratégia de campanha é da exposição, transparência e verdade. Há outras estratégias que não passam por aí”, disse. Depois, em entrevista, avançou. “Não pode ser só a publicidade de vender candidatos como se fosse um iogurte, uma marca de bebida. É preciso debate sobre os problemas brasileiros.”
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Sem Dilma e Marina, debate de um só
Encontro para discutir setor rural acaba sendo realizado apenas com Serra, que atacou governo
Adriana Vasconcelos, O GLOBO, 02/07/2010.
BRASÍLIA
Único presidenciável presente no debate promovido pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o tucano José Serra subiu ontem o tom das críticas ao governo Lula, em especial ao que chamou de contraditória relação mantida com o Movimento dos Sem Terra (MST). Para Serra, não dá para financiar com recursos públicos esse tipo de movimento e ao mesmo tempo condenar sua política de invasões e desrespeito às leis. A presidenciável governista, Dilma Rousseff (PT), tem condenado as invasões do MST. Dilma e a candidata do PV, Marina Silva, foram convidadas, mas se recusaram a participar do debate.
Diante da recusa das adversárias, o tucano aproveitou para cobrar delas um confronto mais direto sobre as propostas que cada uma delas apresentará ao país. Ele evitou declarar que a candidata do PT esteja fugindo do debate, mas fez questão de citar que Dilma não compareceu ao debate do UOL, se recusou a participar de um rodada de entrevistas para a Globonews e ontem não compareceu ao evento promovido pela CNA.
A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), também lamentou a ausência de Dilma e Marina: – O silêncio, de certa forma, confunde os eleitores e lhes tira a oportunidade de conhecer melhor seus candidatos.
No encontro, Serra disse que é uma “ironia” a política dos assentamentos no país.
– Muitos assentamentos são mantidos por cestas básicas, o que é uma ironia. Eles deviam estar produzindo – afirmou, criticando o MST: – O MST é um movimento que se diz de reforma agrária, quando na verdade usa essa ideia para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil. Não quero reprimir, não. Só sou contra que usem dinheiro do governo para isso. É importante a gente mostrar qual é a motivação para isso. Na verdade não é reforma agrária – afirmou Serra.
O tucano disse ainda que ele e seu partido sempre deixaram claro que eram contra a ilegalidade cometidas pelo MST, como as invasões de propriedade particulares e prédios públicos: – Nunca deixamos de dialogar. Agora ilegalidade, não. Qual é a melhor forma de tratar a questão? É solucionar os problemas que estão na origem do MST: a falta de terra e de renda desses produtores. De um lado não aceitamos ilegalidade. De outro, não deixamos de dialogar.
O que não é possível é uma discussão sobre boné quando está em questão um setor produtivo imenso do país, a agricultura familiar.
‘Temos que estatizar o estado brasileiro’
Sem citar nominalmente a adversária Dilma Rousseff, que há uma semana, em Aracaju, usou um boné do MST , Serra acrescentou: – Tem gente que veste o boné numa hora, depois guarda na gaveta. Usa o boné de manhã, guarda à tarde, uma hora fala que o juro está muito alto e tem que baixar, depois fala que está bom. Depende do público.
Eu não tenho essa característica. Numa campanha eu acho muito importante que isso seja debatido, principalmente num palco como este aqui.
Nas considerações finais, Serra condenou a falta de sinceridade e coerência do governo, o loteamento político e sindical da administração pública e falta de experiência na gestão governamental.
– Nós temos que estatizar o Estado brasileiro.
Estatizar as agências reguladoras. Porque o Estado brasileiro e as agências foram apropriados pelo setor privado, pelos partidos, sindicatos.
O caso das agências é típico.
Serra citou como exemplo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os Correios. Relatou o caso de um político que ficou sem mandato na última eleição e virou diretor da Anvisa, sem citar nomes.
– Agora vai se candidatar, saiu da Anvisa. Virou uma parada de ônibus – ironizou, em outra referência indireta, só que ao candidato do PT ao governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que deixou a agência para concorrer.
Serra destacou que “agropecuária tem sido a galinha dos ovos de ouro do desenvolvimento brasileiro”. Disse ainda que “governo não é lugar para aprender, mas para fazer”. E insistiu na necessidade de os candidatos seguirem a estratégia “da exposição, do debate e da verdade”.
– Não é só propaganda. Tem que ter um mínimo de exposição e comparação de ideias.
Não só pode vender candidatos como se fosse um iogurte ou a marca de uma bebida.