Segue uma piada disfarçada de notícia.
Não é só que a distância mínima estabelecida é várias vezes menor do que o raio de polinização do milho. A desmoralização é maior porque ninguém mesmo vai obedecer as normas irrelevantes, e os vizinhos prejudicados pela poluição transgênica, na prática, vão ficar a ver navios. Enquanto isto, os cientistas da CTNBio e as autoridades fiscalizadoras se lavam as mãos como Pilatos e vão para a cama dormir em paz, já que fizeram as regras e “alertaram” os agricultores, como se lê na matéria a seguir.
Enviado por David Hathaway
Quanto aos refúgios de milho convencional, necessários para prevenir o surgimento de populações resistentes ao veneno do milho inseticida*, a CTNBio resolveu de ante-mão que isto seria o cúmulo da precaução, e não fez regra alguma sequer para inglês ver.
* Sobre refúgios, ver por exemplo texto escrito por quem gosta de um transgênico, mas que não ignora um mínimo de ecologia.
MS Notícias, 15/06/2009 – 19:04
SFA/MS alerta sobre regras para cultivo de milho transgênico
Os Serviços de Defesa e Fiscalização Agropecuária da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SFA/MS), alertam os produtores sul-matogrossenses sobre as exigências da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, para o cultivo de milho transgênico (BT) em todo o Território Nacional. As regras foram publicadas na Resolução Normativa CTNBio Nº 4, de 16 de agosto de 2007, regulamentando as distâncias mínimas entre cultivos comerciais de milho geneticamente modificado e milho convencional, visando harmonizar a coexistência dos sistemas de produção.
A legislação vigente, permite cultivos de milho com sistemas de produção diferentes, em áreas vizinhas, obedecendo distância igual ou superior a 100 (cem) metros ou, alternativamente, 20 (vinte) metros, desde que o produtor plante uma bordadura com no mínimo, 10 (dez) fileiras de milho convencional de porte e ciclo vegetativo similar ou igual ao milho BT (geneticamente modificado). Essa é a regra básica que permite a coexistência dos sistemas, ou seja: A distância mínima de isolamento a ser observada para o cultivo de milho geneticamente modificado.
As cultivares de milho e linhagens geneticamente modificados, BT 11, Guardian e BTCry1F507, que propiciam resistência ao ataque de lagartas (lepidóptera), inscritos no Registro Nacional de Cultivares (RNC/MAPA), estão devidamente autorizadas para plantios comerciais em todo o País.
Fonte: SEDESA/SEFAG – SFA/MS
Não há piada alguma na questão da coexistência. O milho, polinizado pelo vento, pode cruzar com outros pés de milho a uma distância relativamente grande, mas a PROBABILIDADE que isto aconteça, mantidas as regras de coexistência estabelecidas para cultivos visando a produção de GRÃOS é muito pequena. Uma pequena fração dos milhos convencionais próximos aos plantios transgênicos pode cruzar com estes, mas na média da lavoura os grãos não vão jamais conter mais que 1% de milho GM, a menos que o agricultor colha apenas o que está no limite das duas lavouras e teste aí a presença de transgene.
O problema maior é para a produção de sementes. A lei, contudo, estabelece para estes casos um afastamento muito maior, não apenas de cultivos GM mas de qualquer outro cultivo. Semente é coisa séria e plantar grão no lugar de sementes pode dar muito desgosto ao agricultor. No caso dos milhos crioulos, o agricultor sabe que deve escolher espigas de pés distantes de plantios de outras variedades que não a sua. Algumas vezes ele poderá, de propósito, plantar variedades distintas bem próximo com o fim de obter variedades mistas interessantes.
Tudo isso é muito bem conhecido há mais de 50 anos. O David parece desconhecer a coisa, infelizmente.