A reportagem abaixo mostra a voracidade da Monsanto em controlar o mercado global de sementes, e assim, nossa comida. A múlti segue comprando empresas sementeiras em busca do monopólio também na área de hortaliças.

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Brasil Economico | Luiz Silveira, 11/08/10

Conhecida globalmente pelas sementes transgênicas para culturas agrícolas como a soja e o milho, a Monsanto está avançando em um negócio menor, mas com grande potencial: as sementes de hortaliças.

São embriões de verdura, legumes e frutas que até 2012 vão se tornar tão relevantes no balanço mundial da Monsanto quanto a soja, segundo o planejamento estratégico da companhia.

“No Brasil isso vai levar bem mais tempo para acontecer, porque a produção de soja é muito grande”, pondera o diretor de hortaliças da multinacional no Brasil, Álvaro Peixoto.

Mas o crescimento no Brasil tem sido forte. De 2007 até agora a divisão de hortaliças praticamente dobrou de faturamento, segundo Peixoto.

Embora não divulgue números, o executivo calcula que a Monsanto tenha hoje 25% do mercado brasileiro de sementes de hortaliças, que é estimado em US$ 200 milhões anuais.

A companhia acaba de dar um passo importante no Brasil, com a conclusão da integração comercial da De Ruiter, empresa de sementes de hortaliças adquirida globalmente em 2008.

As marcas De Ruiter e Seminis (comprada em 2005) foram reestruturadas, tanto em seus portfólios quanto na estrutura de pesquisa e desenvolvimento.

Os produtos das duas empresas foram redistribuídos entre as marcas. A De Ruiter agora fica apenas com tomate e culturas protegidas (sob estufas ou coberturas) e a Seminis nomeia todos os produtos para as outras culturas.

“Somamos o alto potencial dos materiais da De Ruiter à nossa maior capilaridade de distribuição”, informa o executivo.

O portfólio oriundo da De Ruiter responde por apenas 10% das vendas no Brasil atualmente, mas Peixoto diz que as pesquisas da companhia agregam um forte potencial à linha da Seminis.

Para dar uma ideia de como o posicionamento estratégico da Monsanto mudou com relação ao segmento, basta lembrar que a empresa vendeu a divisão de hortaliças da Sementes Agroceres (adquirida em 1998) para a própria Seminis, que viria a comprar sete anos depois.

Neste ano fiscal de 2010, que termina em 31 de agosto, a companhia deve faturar globalmente cerca de US$ 850 milhões com sementes de hortaliças, cerca de 6% acima de 2009.

“No Brasil o crescimento é bem maior”, diz Peixoto. A meta é crescer 12% ao ano nos próximos cinco anos, enquanto o mercado total de sementes de hortaliças deverá crescer a um ritmo anual entre 6% e 7%.

Pesquisa

Na área de pesquisa, a integração também permitiu a criação de estruturas maiores e mais ágeis. “Só no tomate temos agora 25 pesquisadores dedicados”, afirma Peixoto.

A Monsanto destina 15% do faturamento com hortaliças para pesquisa e desenvolvimento, enquanto a média da empresa é de 10%.

Além disso, o foco em culturas estratégicas adotado pela Monsanto contribuiu para concentrar os esforços tecnológicos e comerciais nos mercados mais lucrativos.

Das 65 culturas com as quais a Seminis trabalhava, a Monsanto manteve apenas 25. No Brasil, incluindo a aquisição da De Ruiter, são 18.

Apesar dos investimentos, a Monsanto não trabalha com pesquisas de transgenia nas hortaliças, como faz nas outras culturas. Segundo Peixoto, o motivo é o fato de haver ainda muito potencial de ganho de qualidade e produtividade a partir do melhoramento convencional.