Assim como nas demais culturas transgênicas, as empresas brasileiras abrirão seu banco de germoplasma de cana-de-açúcar para as multinacionais introduzirem seus genes patenteados em variedades transgênicas e com isso ampliar o mercado de agrotóxicos no Brasil. As promessas, como se vê abaixo, são velhas conhecidas: aumento de produtividade, resistência a pragas, novas gerações de transgênicos e por aí vai.
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Brasil deve ter a primeira cana transgênica do mundo
Folha de Londrina, 17 de agosto de 2010
O Brasil deve levar a mercado, em cinco anos, a primeira cana-de-açúcar transgênica do mundo. Essa é a previsão do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) para pedir à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a liberação de uma das variedades de cana geneticamente modificadas que estão sendo testadas em suas instalações em Piracicaba.
“Em 2015 devemos entrar, em Brasília, com pedido para liberação”, diz Tadeu Andrade, diretor do CTC. Após anos de pesquisa, a recente parceria firmada entre o centro financiado pelas principais usinas do país e três multinacionais da indústria de defensivos agrícolas – Basf, Bayer e Dow Chemicals – levará a cana transgênica ao mercado.
Segundo Andrade, o CTC vai disponibilizar um amplo banco de material genético, enquanto as empresas trarão seu histórico de pesquisas em transgênicos para o desenvolvimento das variedades. Elas também farão os estudos toxicológicos.
Depois de completo o ciclo da cana – que varia de cinco a seis anos – o ganho de produtividade que a variedade transgênica proporcionará será dividido entre a própria usina, que ficará com a maior parte, o CTC e as empresas. “Haverá um rateio, mas os detalhes ainda não estão definidos”, diz Andrade.
Produtos – A primeira variedade transgênica do CTC deve ter como característica a resistência à praga da broca da cana. Nesse caso, o ganho de produtividade pode chegar a 25%, diz Andrade.
Depois, deve ser lançada uma variedade resistente a herbicida ou que reúna esses dois benefícios – resistência a pragas e a herbicidas. O CTC também já desenvolve cana com tolerância à seca e uma variedade com maior teor de açúcar.
Essas características, pertencentes à primeira geração de transgenia, seguem os modelos já desenvolvidos e aplicados pelas multinacionais em outras culturas, como soja, milho e algodão.
O CTC formou a sua primeira cana transgênica há 13 anos e, nesta nova fase, faz testes em campo há três. Segundo Andrade, essa “demora” deve-se, em parte, pelas características da cana. “Precisamos verificar se em todo o ciclo de vida ela vai apresentar a mesma resistência. É diferente do que ocorre com os grãos, que são plantados todos os anos”, diz.
Por outro lado, a cana cultivada na região Sudeste não produz pólen, o que diminui o risco de contaminação de lavouras convencionais. “A segurança é maior na cana, o que pode facilitar a aprovação dos transgênicos”, explica.
A Monsanto também trabalha no desenvolvimento de cana transgênica. É a única empresa, além do CTC, que possui um banco genético – adquirido com a CanaVialis, em 2008.