Já pensou como seria esse churrasco, com a carne servida em placas de petri e a cerveja em tubos de ensaio?

Exemplo claríssimo da crença de que soluções tecnológicas darão conta de resolver o atual padrão insustentável de consumo.

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Harriet McLeod, da Reuters, publicado no Valor Econômico, 01/02/2011.

Pesquisa mira ‘carne de laboratório’

No edifício de ciências básicas da Universidade de Medicina da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, o pesquisador Ph.D Vladimir Mironov tem trabalhado por uma década no desenvolvimento de uma carne de laboratório

Especialista em biologia de desenvolvimento e engenharia de tecidos, Mironov, de 56 anos, é um dos poucos cientistas do mundo envolvidos na produção de carne por meio de cultura. Um produto, acredita, que poderia resolver a crise global de alimentos derivada da escassez de terras para produção de carnes à moda antiga.

Pesquisas com carne “in vitro” ou por meio do processo de cultura já estão em andamento na Holanda, mas nos EUA são uma ciência ainda em busca de financiamento e demanda, diz Mironov.

O novo Instituto Nacional para Alimentos e Agricultura, que faz parte do USDA, não irá financiá-lo. Nem o Instituto Nacional de Saúde. “É uma clássica tecnologia que divide opiniões”, explica. “Trazer qualquer nova tecnologia ao mercado custa, em média, US$ 1 bilhão. E nós não temos sequer US$ 1 milhão”, lamenta.

Diretor do Centro de Biofabricação em Tecidos Avançados do Departamento de Medicina Regenerativa e Biologia Celular, Mironov agora conduz pesquisas basicamente sobre engenharia de tecidos ou sobre o crescimento de órgãos humanos. “Existe o fator ‘eca’ quando as pessoas descobrem que a carne está sendo criada em laboratório. Elas não gostam de associar tecnologia a alimentos”, diz Nicholas Genovese, de 32 anos, um professor visitante da área de biologia celular. “Mas há muitos produtos que comemos hoje considerados naturais, mas que são produzidos da mesma forma”. Ele enumera: iogurte, vinho e cerveja. “Mas a sociedade aceitou esses produtos”.

Mironov imagina o mundo onde biorreatores do tamanho de uma máquina de café estejam em supermercados fazendo o que ele denominou de “charlem” – Charleston engineered meat, ou carne criada em Charleston.

“Será funcional. Como você gostaria essa carne? Com um pouco de gordura, de suíno ou carneiro? Fazemos o que quiser”.

Mironov pegou mioblastos – células embrionárias que se convertem em tecido muscular – de perus e os passou por um banho de nutrientes de soro bovino em uma estrutura de quitosana (polímero comum encontrado na natureza) para desenvolver tecido da musculatura esquelética animal. Mas como garantir a qualidade suculenta e encorpada?

Genovese disse que os cientistas querem adicionar gordura. E também um sistema vascular de modo que o interior das células possa receber oxigênio e permitir o crescimento de um bife – e não apenas tiras de músculo.

A carne produzida pelo método de cultura poderia eventualmente se tornar mais barata que a carne convencional, altamente subsidiada, disse Genovese. E se a sociedade aceitá-la, o futuro terá benefícios.

Segundo o cientista, 30% da área da Terra está associada à produção de proteínas animais em fazendas. “Se iniciarmos as explorações interplanetárias, as pessoas necessitarão produzir alimentos no espaço. Mas você não pode levar uma vaca pra lá”, diz. “Precisamos olhar para essas ideias se quisermos o progresso. Caso contrário, ficaremos estagnados. Quem, 15 anos atrás, poderia imaginar o iPhone?”