Agricultores familiares de municípios da região Centro-Sul, responsável pela maior produção de fumo do Paraná, e de municípios do Planalto Norte de Santa Catarina enviaram aos ministérios públicos (MPs) dos municípios, ao Ministério Público Estadual do Meio Ambiente e às secretarias de Estado da Agricultura e Saúde denúncia sobre problemas graves enfrentados na safra de fumo deste ano. Os agricultores afirmam que o uso abusivo de um tipo de agrotóxico, em desacordo com a legislação, resultou na contaminação e morte de várias outras culturas e plantas existentes na região.
Além do dano ambiental, a contaminação das lavouras ameaça o futuro econômico dos agricultores agroecológicos da região. Segundo o técnico agrícola André Emílio Jantara, da ONG Assessoria a Serviços e Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), os agricultores correm o risco de perder a certificação como produtores de alimentos orgânicos e ter prejuízo com investimentos de quatro anos que trabalharam até converter a unidade produtiva de convencional para a agroecologia. Sem a certificação, os agricultores perderiam o direito ao adicional de 30% que recebem na venda de alimentos ecológicos para programas governamentais que abastecem escolas, creches, asilos e entidades filantrópicas da região.
O engenheiro florestal Luiz Claudio Bona, da AS-PTA, explica que os problemas com o uso dos agrotóxicos na cultura do tabaco é sentido há vários anos, mas a situação se agravou nos últimos dois e apareceu de forma mais visível na safra 2010/2011. Eles apontam o agrotóxico Gamit como causador, uma vez que os efeitos apareceram logo após a sua aplicação, feita na época de plantio do fumo, nos meses de agosto, setembro e outubro. Outras comunidades de agricultores, nas cidades de Santa Cruz e São Borja, no Rio Grande do Sul, já culparam o mesmo veneno por situações semelhantes.
‘Bolha de veneno’
“Depois da aplicação, parecia que tinha se formado uma bolha de veneno no ar, que foi se espalhando”, conta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmeira, Vilmar Agostinho Sergiki. De acordo com ele, verduras, plantas medicinais, folhagens mantidas dentro de casa ficaram esbranquiçadas ou tiveram as folhas amareladas. O efeito foi sentido até mais de 800 metros da aplicação e até em plantas isoladas dentro de matas.
Os agricultores culpam a indústria fumageira pela situação. A bula do agrotóxico Gamit, conforme registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, recomenda sua utilização a uma distância mínima de 800 metros de outras culturas. Mas, de acordo com a denúncia protocolada junto ao Ministério Público e assinadas em nome do Coletivo Triunfo, não é o que ocorre.
Segundo o técnico agrícola André Emílio Jantara, da ASPTA, técnicos e engenheiros agrônomos das empresas fumageiras receitam o veneno aos fumicultores, e esses são obrigados a utilizá-lo em decorrência de obrigações estipuladas nos contratos com as empresas. Eles afirmam, ainda, que os agrônomos fazem o receituário sem fazer um diagnóstico da área onde ele será aplicado, o que contraria o decreto 4.074/02. Assim, na maioria dos casos, as plantações de fumo ficam a menos de 50 metros de outras lavouras.
Fonte: Folha Web – via Rural Centro, 18/03/2011.