Mauro Zafalon | Folha de S. Paulo, 05/04/2011

 

Os que optaram pela soja transgênica nesta safra tiveram custos 2% maiores e, em algumas regiões, estão recebendo menos pelo produto.

 

Já os que plantaram a soja convencional chegam a ter renda de R$ 100 a mais por hectare. Em algumas regiões, o produtor teve remuneração de R$ 4,50 a mais por saca.

 

As informações são da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), com base em dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).

“Se não houver reação dos produtores, a soja transgênica vai ocupar 100% da área. Depois, fica difícil voltar”, diz Glauber Silveira, produtor e presidente da entidade.

 

Silveira está ciente das dificuldades da manutenção da área de soja convencional no Estado. A Embrapa, depois de uma década com fraca presença no Estado, está de volta, participando do Programa Soja Livre, que tem ainda as participações da Aprosoja e da Abrange (Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados).

 

O objetivo é fortalecer a produção de soja convencional no Estado. Atualmente, os produtores têm dificuldades para obter novas variedades de soja convencional nas empresas de semente locais.

 

PREÇO MAIOR

 

Enquanto os produtores têm dificuldades para obter semente convencional, a soja transgênica não deixa de ser atraente, diz Silveira. O manejo é mais fácil, a produtividade é semelhante à da convencional e os custos não são tão elevados, diz ele.

 

A esperança para os produtores que ainda preferem a soja convencional é que as coisas começam a mudar. Nesta safra, os sojicultores conseguiram até R$ 4,50 a mais pela soja convencional.

 

Esse “plus”, se concretizado nas próximas safras, será um atrativo para os produtores. Mas Silveira lembra que esse “plus” é “coisa recente”.

 

Alexandre Cattelan, da Embrapa Soja, alerta para os problemas que o avanço da soja transgênica pode trazer à cadeia produtiva. Se o plantio não for mantido entre 20% e 25% da área com soja convencional, toda a cadeia de sustentação desaparece.

 

Na avaliação dele, haverá redução de investimentos em sementes, em defensivos e, inclusive, em pesquisas.

Silveira concorda com Cattelan e diz que é preciso manter corredores específicos para a soja convencional, como o do oeste do Estado. É preciso manter uma estrutura produtiva que inclui sementeiras, armazéns e transporte.

 

Para ele, a soja convencional deve ser mais bem remunerada e tem de ser dividida entre tradings, produtores e entidades de pesquisas.

 

A manutenção da soja convencional é importante até para o produtor ter direito sobre qual tipo plantar.

 

A decisão do que plantar, porém, nem sempre é fácil. O próprio Silveira diz que ainda está indeciso sobre o que fazer na safra 2011/12: convencional ou transgênica?

 

A decisão virá só depois de feitos os cálculos na ponta do lápis. Aí ele vai ver se o “plus” para a soja convencional veio mesmo para ficar.