Para combater os problemas provocados pela soja transgênica tolerante a herbicidas, as empresas anunciam a criação de mais uma soja transgênica tolerante a herbicidas.

 

Depois do glifosato, teremos sojas tolerantes a imidazolinonas (desenvolvida em parceria pela Basf e pela Embrapa), sojas tolerantes a sulfonilureias (da Coodetec), soja tolerante ao dicamba (desenvolvida pela Monsanto com a Basf) e, se a CTNBio quiser, até “soja laranja” tolerante ao 2,4-D, componente do famoso agente laranja da guerra do Vietnã (saiba mais – Boletim 530).

 

A última “inovação” deste grupo é a soja tolerante ao herbicida HPPD, desenvolvida em parceria pela Syngenta e pela Bayer.

 

É o que informa reportagem do Valor Econômico de 08/04/2011 que segue logo abaixo (disponível na íntegra em Pratos Limpos).

 

Uma observação que faltou à matéria do Valor (abaixo) foi a de que, nos EUA, já está sendo verificada resistência de Amaranthus (caruru) ao HPPD. A resistência do mato ao produto foi comprovada por pesquisadores da Universidade de Illinois em julho de 2010 e divulgada em diversos meios eletrônicos nos EUA (por exemplo, AgWeb, 19/07/2010). A novidade da Syngenta e da Bayer é mais uma tecnologia que decerto não vai longe, mas deixará grandes estragos.

VALOR ECONÔMICO, 08/04/2011

Alexandre Inacio

O aumento da resistência de ervas daninhas ao glifosato fez com que duas gigantes do mercado de defensivos, sementes e transgênicos se unissem para desenvolver uma nova tecnologia para a soja. Ontem, a alemã Bayer CropScience e a suíça Syngenta anunciaram um acordo global para desenvolver uma semente de soja resistente ao herbicida HPPD. Os valores envolvidos no projeto não foram divulgados, mas a expectativa é que o produto seja lançado nos EUA na segunda metade desta década.

 

O HPPD é a sigla para a enzima hidróxi fenil piruvato dioxigenase. O defensivo, que leva o mesmo nome, age sobre essa enzima, interrompendo o ciclo de fotossíntese, matando assim as plantas expostas a ele. Com a tecnologia, a soja ganhará tolerância ao defensivo, sobrevivendo mesmo após as aplicações, que matará apenas as ervas daninhas.

 

Pelo acordo, a Syngenta e Bayer combinarão suas tecnologias já existentes e experiências no setor para desenvolver o novo sistema de tolerância ao herbicida. Cada uma das partes, no entanto, terá o direito de adotar a estratégia comercial que for mais conveniente. As duas multinacionais terão a co-propriedade da tecnologia, podendo utilizá-la dentro de suas respectivas linhas de produtos, podendo, no futuro, licenciá-la para outras companhias.

 

Em nota, o diretor-executivo da Syngenta, Davor Pisk, disse que a nova tecnologia transgênica “será uma ferramenta importante para os produtores de soja que enfrentam pressão crescente com ervas daninhas resistentes”. “Vai ampliar as opções disponíveis para agricultores e expandir a oportunidade no mercado para nosso herbicida líder”, disse Pisk no comunicado. Ainda em nota, Lykele van der Broek, diretor-executivo da Bayer CropScience disse que com a colaboração a empresa permitirá um complemento ao portfólio de herbicida para a soja.

 

A decisão em criar uma soja tolerante a um novo herbicida decorre o rápido crescimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato. Estimativas das indústrias indicam que já existam hoje pelo menos onze espécies de ervas daninhas resistentes ao glifosato nos Estados Unidos. O problema já cobriu uma área de quase 3 milhões de hectares na última safra e as expectativas é que atinja mais de 15 milhões de hectares em 2013.

 

O princípio da tecnologia que está sendo desenvolvida pelas empresas europeias é semelhante à criada pela americana Monsanto, com o glifosato. A diferença, contudo, é que o glifosato inibe a produção de uma enzima que sintetiza aminoácidos necessários ao desenvolvimento dos vegetais.

 

Também no caminho de ser uma alternativa ao glifosato, a alemã Basf desenvolveu em parceria com a Embrapa uma soja resistente a seu herbicida. A tecnologia foi liberada em 2009 e tinha previsão de lançamento na safra 2011/12. O lançamento foi adiado em um ano para que fossem obtidos os registros nos países importadores.