De volta à pauta oficial da indústria mundial de papel e celulose, a adoção em escala comercial de florestas geneticamente modificadas sofreu um primeiro revés na semana passada, durante a assembleia geral do FSC (do inglês Forest Stewardship Council), realizada na Malásia. Uma moção, apresentada pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestas (Ipef), com apoio de companhias brasileiras, pedia a retomada dos debates sobre a exploração de florestas transgênicas, mas acabou barrada por parte dos membros do FSC. O principal órgão certificador de manejo sustentável proíbe a existência de organismos geneticamente modificados em áreas certificadas, mas a negativa não abalou as ambições da indústria.

A reportagem é de Stella Fontes e publicada pelo jornal Valor, 04/07/2011, via IHU-Unisinos

As grandes companhia de biotecnologia admitem que essa tecnologia não estará disponível para uso comercial no curto prazo, mas destacam que é necessário que as discussões e pesquisas avancem o quanto antes, sob o risco de o Brasil, hoje líder em melhoramento genético, ficar para trás na corrida pelo eucalipto transgênico. “Já estamos prontos para o mercado. Fizemos todos os testes de performance. Mas falta a regulamentação”, disse o vice-presidente de estratégia e desenvolvimento da FuturaGene, Anthony Andrade.

No Brasil, a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), liderada por Elizabeth de Carvalhaes, também defende a retomada das discussões e o aval para ampliar pesquisas na área. Um dos argumentos apresentados por representantes da indústria é o que nos EUA os estudos estão adiantados e já caminham para o desenvolvimento de um tipo de eucalipto, geneticamente modificado, altamente resistente ao frio, o que tornaria a cultura possível em áreas hoje não exploradas. “O próximo passo do melhoramento genético é a biotecnologia”, afirmou Andrade.

Dentre os pesquisadores da área florestal, é consenso que essa tecnologia deve ser debatida e testada. Contudo, poucos se arriscam a afirmar que a adoção comercial da transgenia deverá ocorrer no curto e médio prazos. O maior desafio está na regulamentação do assunto.

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Líder mundial em melhoramento genético na área florestal, o Brasil entrou definitivamente na rota comercial das maiores empresas de biotecnologia do globo. Atentas ao potencial de negócios que podem ser gerados no país – e na possibilidade de exportar tecnologia desenvolvida por aqui -, FuturaGene, que foi comprada pela Suzano Papel e Celulose no ano passado, ArborGen, que tem International Paper e MeadWestvaco como acionistas, e SweTree estão apostando suas fichas em pesquisas que potencializem os ganhos de produtividade já alcançados pelas companhias brasileiras de papel e celulose. Duas das maiores – FuturaGene e Arborgen – contam com laboratório ou campo de teste no país. A sueca SweTree, por sua vez, elegeu o eucalipto, uma especialidade das produtoras nacionais, como foco de novos projetos.

Em conferência da Iufro (do inglês International Union of Forest Research Organization), que ocorreu na semana passada em Porto Seguro (BA), representantes das três companhias enfatizaram que tanto o país quanto o eucalipto passam por momento “particularmente positivo”. “O Brasil é onde devemos estar”, disse ao Valor o vice-presidente de estratégia e desenvolvimento corporativo da FuturaGene, Anthony Andrade. Antes, o presidente da empresa, Stanley Hirsch, já havia defendido essa posição diante de plateia de mais de 300 pesquisadores, entre os quais os mais renomados estudiosos da área florestal.

Para cientistas brasileiros, a escolha do país encontra argumentos fortes. “O Brasil se destaca em silvicultura e é líder melhoramento genético”, afirmou o pesquisador da Embrapa e responsável pela realização da primeira conferência da Iufro na América Latina, Dario Grattapaglia. Além de buscar novos negócios, as empresas recorrem à experiência das nacionais em melhoramento genético. Com uma matriz (material usado como ponto de partida) “de elite”, há mais chances de êxito nos processos de modificação genética.

Atualmente, um hectare de floresta plantada de eucalipto no país gera 12 toneladas por ano de celulose, o dobro do que se poderia alcançar na década de 70. Até 2015, as grandes companhias estimam alcançar a marca de 16 toneladas anuais, chegando a 20 toneladas em 2020 – sem levar em conta eventuais ganhos que a biotecnologia deve trazer à indústria. Outro indicador revela quão à frente da concorrência estão as brasileiras. Enquanto no Hemisfério Norte retira-se em 6 m3 de madeira por hectare de floresta ao ano, no Brasil são, em média, entre 40 e 45 m3.

Na Veracel, joint venture entre Fibria e a sueco-finlandesa Stora Enso, que opera uma fábrica de celulose na Bahia, o índice é ainda mais alto: 51 m 3 por hectare/ano.

De acordo com o fundador da empresa nacional Assistech, Teotônio de Assis, que tem passagens por Acesita, Aracruz e Fibria, é possível atingir o nível de produtividade estimado para 2020 recorrendo apenas ao melhoramento genético tradicional, já dominado por empresas como Fibria, Suzano, Veracel e Klabin. “Avançamos muito em pesquisa, capacitação de pessoal, dominamos como ninguém técnicas de clonagem. Esse conhecimento atrai as empresas de fora.”

Com escritório em Campinas (SP) e 15 campos de teste no país, a ArborGen pretende elevar a 25 o número de campos em funcionamento este ano. Segundo a gerente de pesquisa e desenvolvimento de produto da empresa, Ana Gabriela Bassa, os estudos serão estendidos para áreas na Bahia e no Tocantins. Hoje, estão concentrados em São Paulo. Até agora, o uso de biotecnologia na cultura de eucalipto tem mostrado ganhos relevantes. Há estimativa de economia de até US$ 5 mil por hectare diante da aplicação de uma tecnologia que facilita a obtenção da celulose a partir do eucalipto.

A FuturaGene, comprada por US$ 83 milhões pela Suzano – a empresa da família Feffer já detinha 8% do capital -, acabou assumindo o laboratório e o campo de testes em Itapetininga (SP) e trabalhará tanto para a controladora quanto para outras empresas. Segundo Anthony Andrade, a empresa não revela os ganhos que podem ser alcançados com aplicação. “Mas são ganhos suficientes para justificar uma aquisição de quase US$ 100 milhões.”