MST – RJ

por Alan Tygel

O comitê do Rio de Janeiro realizou no dia 11 de setembro o segundo encontro de formação da Campanha Contra os Agrotóxicos. Depois de debater o modelo de agricultura baseado nos agrotóxicos, o tema desta vez foram os impactos dos agrotóxicos no meio ambiente. Os convidados para facilitar o estudo foram Denis Monteiro, da ANA – Articulação Nacional de Agroecologia, Gabriel Fernandes, da AS-PTA e André Burigo, da EPSJV/Fiocruz. O encontro ocorreu na ocupação Manoel Congo, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia – MNLM – no Centro do Rio.Os 20 militantes que dispuseram o domingo para o encontro deram uma mostra da grande abrangência da Campanha. Tivemos a presença de estudantes da Universidade Rural do Rio de Janeiro, militantes da Rede Alerta contra o Deserto Verde, do Sindicato dos Químicos, do MST, pesquisadores da UFRJ, comunicadores populares, entre outros. O material que serviu de apoio para o debate pode ser encontrado no blog Pratos Limpos.

A primeira atividade foi o debate sobre agroecossistemas, coordenado por Denis Monteiro. Segundo ele, a grande diferença desta abordagem é o olhar sistêmico sobre a agricultura, ao invés do tradicional olhar compartimentado. O eixo principal da dinâmica foi mostrar que o modelo baseado na monocultura é ecologicamente desequilibrado e doente. Neste cenário, insetos e fungos encontram um ambiente ideal para se proliferarem sem controle, e daí a necessidade do uso dos agrotóxicos. Como consequência disto, os sistemas agrícolas se tornam dependentes químicos, pois entram na espiral dos venenos: a utilização dos agrotóxicos gera resistência nos insetos e fungos, levando ao maior uso de agrotóxicos, indefinidamente.

Denis citou que quando estudou o tema na universidade, recebeu um livro que continha 50 páginas com três colunas: o tipo de cultura, as possíveis doenças e o tipo de agrotóxicos a ser utilizado. Tempos depois, o mesmo livro já havia triplicado de tamanho. “Hoje, este livro já deve ter passado das mil páginas. São mais de 600 substâncias permitidas no Brasil, e uma infinidade de ditas pragas que atingem as lavouras”.

Ainda pela manhã, foi apresentado o caso da Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. A cidade é um caso emblemático de como o modelo do agronegócio é insustentável. Umas das maiores produtores de soja do Brasil, a cidade rodeada por latifúndios atingiu um alto padrão de qualidade de vida para seus habitantes: escolas, hospitais, ruas asfaltadas, prédio públicos bem conservados. Até que em 2006, uma chuva de agrotóxicos caiu sobre a cidade, pulverizada por um avião agrícola. O “acidente” causou a destruição de todas as lavouras dos pequenos agricultores, contaminou o sistema de águas da cidade e provocou um corrida aos hospitais por conta de problemas respiratórios. Em 2009, uma pesquisa do professor Wanderlei Pignatti constatou resíduos de agrotóxicos no leite de 100% das mães que participaram da pesquisa.

A parte da tarde foi dedicada ao caso da água. A questão central do debate coordenado por Gabriel Fernandes foi a fragilidade tanto das metodologias que decidem qual o nível aceitável de uma substância na água, quanto dos testes de verificação da presença delas. Em muitos casos, o limite é colocado em função da precisão do teste de detecção, e sequer passa por algum estudo dos efetiso em seres humanos. Além disso, para vários agrotóxicos simplesmente não existe teste, ou eles são tão caros que tornam a medição inviável. E para completar o quadro caótico, muitas substâncias, quando entram em contato com a água ou com sol, mudam seu princípio ativo. Assim, mesmo que haja o teste para aquela substância, ela não será detectada. É o caso do Paraquat, que contaminou Lucas do Rio Verde. Em contato com o sol, se transforma em alpha-Paraquat, que é altamente cancerígeno.

O último tema do debate foram dois desastres ambientais ocorridos no estado do Rio de Janeiro. Ivi Tavares apresentou o caso do Endossulfan, quando em 2008 a empresa Servatis despejou 8 mil litros do agrotóxico num afluente Rio Paraíba do Sul, principal fornecedor de água do estado. O produto causou a morte de mais de 80 toneladas de peixes, e a empresa foi multada em R$30 milhões. O outro desastre abordado foi o caso conhecido como Cidade dos Meninos. Uma antiga fábrica de produtos químicos como hexaclorociclohexano (HCH), arsenito de cobre, hexaclorobenzeno (BHC), monofluoroaetato de sódio, cianeto de cálcio e diclorodifenil tricloretano (DDT), entre outros, após fechar, deixou 40 toneladas de HCH, conhecido com pó-de-broca, no local. O produto começou a ser comercializado no local e utilizado para diversos fins, inclusive como mata-piolho. Hoje, a população contaminada vive ainda o drama de ser removida do local.

O encontro foi finalizado com uma avaliação e um debate sobre os rumos da campanha. Os participantes foram convidados a integrar o comitê da campanha no Rio, para auxiliar nas ações contra os agrotóxicos no estado. O próximo encontro, em outubro, terá como tema “As doenças causadas pelos agrotóxicos”. Ainda estão programados mais três encontros: um sobre Agroecologia, e duas visitas a campo: em áreas que utilizam agrotóxicos e que fazem o manejo agroecológico. Acompanhe as atividades do comitê RJ pelo blog Pratos Limpos.