Representantes da Comissão de Direitos Humanos de El Salvador (CDHES) visitaram as comunidades Brisas I e II em San Miguel, El Salvador, onde se encontram as instalações abandonadas de uma ex-fábrica da Monsanto, que abriga 92 barris, cada um com 181,5 kg de toxafeno, abandonados há mais de uma década. O motivo da visita foi conhecer mais de perto o estado das pessoas afetadas pela contaminação que o toxafeno provoca e dar seguimento ao caso sob a ótica dos direitos humanos.
[O toxafeno é um inseticida que foi amplamente utilizado na década de 1970 nas lavouras de algodão, cereais e outros cultivos. Atualmente é proibido em 58 países, incluindo o Brasil, e fortemente restrito em outros 12.]
“Queremos constatar quantas são as famílias afetadas, pois através dos líderes comunitários do lugar tomamos conhecimento de que já são várias gerações de famílias têm sofrido com este problema”, explicou Brenda Rodríguez, membro da CDHES. “Vamos ver a responsabilidade que tem a empresa em deixar abandonados estes barris e também a responsabilidade do Estado por ter tolerado este problema durante tanto tempo e sido indiferente às denúncias da população”, completou.
“Nós fazemos o que podemos, já não sabemos a que instituições recorrer, todos nos advertem, nos alarmam, mas ninguém nos ajuda e nos diz a quem pedir que leve isso porque todo este tempo só nos vieram com mentiras”, assegurou Maribel Chávez, de 42 anos, habitante e líder comunitária do lugar.
Em 2007 o Ministério do Meio Ambiente obteve um empréstimo para embalar e transportar o toxafeno para fora do país, entretanto os 92 barris nunca foram removidos.
“Nós não pedimos nada, apenas nos demos conta de que isso era perigoso porque vieram o Ministério da Saúde a polícia de meio ambiente e nos preveniram. Disseram-nos que isto não nos mataria já, mas que diminuiria nossos anos de vida”, recorda Maribel.
Muitos moradores do lugar trabalharam na fábrica da Monsanto no processamento de agrotóxicos. Outros carregavam aviões agrícolas com o veneno para pulverizar cultivos de algodão.
Santos Pérez chegou à Brisas II em 1990. Sua família, uma das últimas a chegar no lugar, não possui recursos para mudar-se para outra região. Santos e sua família se vêem obrigados a consumir a água dos poços do lugar quando não têm dinheiro para comprá-la e sobrevivem com as lavouras que cultivam no mesmo lugar. Santos e sua família padecem há vários anos de alergias de pele permanentes e constantes dores de cabeça, mas não têm recursos para procurar atendimento médico.
Laura Martinez, de 69 anos, e seu esposo Cristóbal González, de 79, vivem em Brisas I há quase três décadas em situação de extrema pobreza. Cristóbal já foi diagnosticado com insuficiência renal crônica e desde então começou sua luta para viver uns dias a mais. “Quando conseguimos um dinheirinho, fazemos as diálises, quando não podemos, ficamos à vontade de Deus”, relata sua esposa com resignação.
De acordo com a população local, há alguns anos começaram a surgir vários casos de insuficiência renal na comunidade, e muitas pessoas sofrem de problemas de pele como alergias crônicas e manchas escuras.
Adaptado de:
Diário Co Latino, El Salvador, 22 e 24/08/2004.
http://www.diariocolatino.com/es/20090822/nacionales/70521/, e
http://www.diariocolatino.com/es/20090822/nacionales/70520/
Comentário: Este não é o primeiro caso que se conhece em que a Monsanto contamina comunidades pobres com suas fábricas de veneno e depois as abandona ao azar e às penúrias dos terríveis problemas de saúde provocados por seus químicos. No documentário “O Mundo Segundo a Monsanto”, da jornalista francesa Marie-Monique Robin, há outras histórias como essa bem documentadas.