Agência Brasil, 23/10/2011
Gilberto Costa
Brasília – A liberação comercial da semente de feijão, do tipo carioquinha, geneticamente modificado e desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) esvaziou o discurso dos opositores aos transgênicos, opina o pesquisador da estatal Francisco Aragão.
“Durante muitos anos, as pessoas que são contra essa tecnologia sempre disseram que é uma tecnologia para grandes produtores, para commodities [produtos básicos de comercialização no mercado financeiro], e feita apenas por empresas multinacionais. O feijão mostra que não é isso, mas uma tecnologia para os programas de melhoramento, até para subsistência”, assinala Aragão.
O feijão GM Embrapa 5.1 é resistente ao vírus do mosaico dourado (transmitido por um inseto popularmente conhecido como mosca-branca), principal praga que ataca a cultura no Brasil e na América do Sul. Segundo o pesquisador, o organismo geneticamente modificado (OGM) “terá repercussão mais forte entre os pequenos produtores”, responsáveis por sete de cada dez grãos de feijão produzidos no Brasil e sem recursos para fazer o controle químico do vetor que transmite o vírus.
“O pequeno agricultor vai deixar de jogar veneno, vai deixar de se intoxicar e de poluir o meio ambiente”, complementa o presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Edilson Paiva.
Segundo ele, a “Embrapa é uma das poucas empresas públicas no mundo que podem enfrentar a concorrência de multinacionais”, diz se referindo às empresas norte-americanas Monsanto e Pioneer, à DuPont (de capital francês), à suíça Syngenta e às empresas alemãs Basf e Bayer. Diferentemente das grandes companhias, a Embrapa não cobra royalties das suas sementes.
O Brasil é um dos maiores importadores de feijão do mundo, compra da Argentina, da Bolívia e da China. Segundo Francisco Aragão, a Argentina já demonstrou interesse pela semente desenvolvida pela Embrapa.
Aragão salienta que a semente ainda não está disponível para a comercialização, pois é preciso fazer o registro da variedade no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o que depende de “novos ensaios” (testes).
Na avaliação do pesquisador do Laboratório de Engenharia Ecológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) José Maria Ferraz, as avaliações sobre o feijão e os eventuais efeitos do consumo não são suficientes. Segundo ele, foram feitos testes apenas com dez animais (ratos) por 35 dias.
“É um número insignificante, nenhuma revista do mundo aceitaria um artigo para a publicação com o número pequeno assim”, reclama Ferraz que é pesquisador aposentado da Embrapa, e membro da CTNBio.
O presidente da CTNBio assegura que o feijão da Embrapa não traz riscos. Segundo Edilson Paiva, o transgênico “tem exatamente as mesmas proteínas e as mesmas concentrações médias de nutrientes que o feijão convencional”.
Edição: Lílian Beraldo