Palestra de Magda Zanoni foi realizada no auditório da Emater/RS-Ascar, em Porto Alegre, durante lançamento da Campanha Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida
EcoAgência/NEJ/RS (Via blog da Campanha no DF)
Por Adriane Bertoglio Rodrigues – jornalista Emater*
Foi lançada a Campanha Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida no RS, que reúne diversas organizações e entidades. A cerimônia aconteceu na sede da Emater/RS-Ascar, na noite desta segunda-feira (24). Com o auditório lotado, mais de 100 pessoas assistiram ao filme O Veneno Está na Mesa, dirigido por Sílvio Tendler, acompanharam a palestra da bióloga e socióloga Magda Zanoni,e debateram projetos e ações desenvolvidas no Estado. A abertura do lançamento foi prestigiada pelo delegado da Superintendência Regional do MDA, Nilton Pinho De Bem, e pelo diretor de Crédito do Banrisul, Guilherme Cassel, entre outras representações de movimentos sociais e ambientais. Também participaram integrantes da Associação Nacional de Pequenos Agricultores de Cuba, que fazem intercâmbio no RS.
Durante sua palestra, rica em argumentos que comprovam todos os males causados pelos venenos agrícolas, Magda Zanoni afirmou que a biotecnologia veio para reforçar a venda de agrotóxicos. “E conseguiu”, argumentou. Ela acrescentou: “o glifosato, herbicida muito usado na soja transgênica, não é o maior dos males. Estão misturando ao glifosato adjuvantes que chegam a ser três vezes mais tóxicos”.
No entender da pesquisadora Magda Zanoni, a relação entre os agrotóxicos e os transgênicos é estreita. Em relação aos agrotóxicos temos muitas pesquisas e informações sobre contaminações e casos de morte, explicou. Já sobre os transgênicos ainda não foram produzidos estudos conclusivos comprovando que são inofensivos à saúde humana e ao meio ambiente. “Ao contrário”, complementa. “Um pesquisador que conheço trabalhou durante cinco meses em testes com camundongos alimentados com transgênicos. Nesse tempo, constatou aumento no volume do fígado, do pâncreas, redução das hemáceas e complicações renais. Esse mesmo tipo de teste em camundongos é realizado pela Monsanto em apenas 11 dias”.
Desafiar o poder público – Representando o governador Tarso Genro, o diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, salientou a importância da Campanha. “É preciso desafiar o poder público em todos os níveis, até porque os governos têm um papel estratégico, que possibilita promover o avanço e o acúmulo de conhecimentos”, defendeu Paulus, ao citar eventos como o realizado nesta terça-feira (25) em Ijuí, sobre transição de sistemas de produção de grãos, e, na quarta-feira (26), em Taquara, sobre sistemas agroflorestais. “Através de momentos como este e de eventos que provoquem o despertar da consciência de técnicos, agricultores e consumidores, é que poderemos garantir qualidade de vida para todos”, destacou o diretor. Ele finalizou com uma frase de José Lutzenberguer, (pioneiro/fundador da Agapan), que atenta para a importância de se manter ações sustentáveis. “Não podemos considerar como progresso o que não somo para a facilidade humana”.
O vídeo mostra depoimentos de agricultores que optaram por não usar agrotóxicos. Do RS, tem agricultores de Caiçara, Paraíso do Sul, Agudo, Boa Vista das Missões e Iraí, na comunidade Sanga dos Índios, que desafiam as transnacionais químicas e se contrapõem ao modelo da chamada Revolução Verde. O site EcoAgência também é mencionado.
Alertas para a saúde – De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os hortigranjeiros preocupam, pois recebem altas doses de agrotóxicos, muitas vezes proibidos, e são consumidos in natura. Os alimentos mais contaminados são beterraba (33% de contaminação), alface (38%), mamão (39%), abacaxi e couve (44%), morango (51%), pepinos (55%), uva (56%) e pimentão (80%). Nos 10 anos, entre 1998 e 2008, a venda de agrotóxicos aumentou 140%. “Não é à toa que são 5,2litros por pessoa/ano”, informa o vídeo, que será disseminado pelos participantes.
Outro fator que favorece o crescente consumo de agrotóxicos é o estímulo fiscal oferecido pelos governos, que dá descontos de 60 a 100% para as empresas químicas. “Faltam financiamento e políticas públicas para os pequenos agricultores, para que eles aumentem e diversifiquem a produção, provocando a baixa no preço dos orgânicos”, critica Dario Milanez, da Via Campesina. Ele questiona a expansão de monocultivos, como a soja, “que ocupa mais da metade da terra agricultável no Brasil. A expansão da soja, a transgenia e o aumento do uso de agrotóxicos é suficiente para trazer ainda mais riscos para a saúde das pessoas e para a contaminação do ambiente”.
O chefe de Gabinete da Emater/RS, Jaime Weber, afirma o compromisso da Instituição em mudar essa realidade, e diz lamentar erros médicos em diagnósticos de contaminação, prescrevendo serem casos de leptospirose. “Isso ocorre na região do fumo”. Para Jaime, “cada vez mais precisamos buscar informações e disputar por um modelo mais saudável”. Para isso, ele sugere repensar a militância, pressionar os governos e construir alianças estratégicas com os municípios. “Precisamos debater com conteúdo e informação”.
O pioneirismo do RS na promulgação da Lei Estadual Contra os Agrotóxicos, na década de 80, foi destacado pelo presidente da Agapan, Francisco Milanez, ao criticar a lei nacional como “uma cópia mal feita”. Ele defende o repasse dos royalties dos transgênicos para resolver o “conclamado problema da fome no mundo”.
Programas de crédito de incentivo à produção orgânica no RS devem ser anunciados em breve pelo Banrisul. A informação é da representante da instituição, Simone Azambuja, ao citar o Rio Grande Ecológico, que será recriado para custear a compra de sementes crioulas e para investimentos na agroecologia.
Atualmente, o Comitê Estadual Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida integra 30 entidades, “mas outras estão convidadas a participar”, salienta um dos coordenadores, o estudante Edmundo Oderich. A próxima reunião do comitê será na segunda-feira (31), às 18h30, na sede da PGDR (Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural), ao lado do DCE da Ufrgs, em Porto Alegre.
Ao final do debate, foi anunciada a realização do XII Seminário Estadual sobre Agroecologia XI Seminário Internacional sobre Agroecologia, de 28 a 30 de novembro, no auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa do RS, que tem como tema “Um outro olhar para o desenvolvimento”. Também foi citada a realização, em Pelotas, do lançamento regional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, no dia 23 de novembro, na Faculdade Agrícola São Maciel.
* Colaboração de Juarez Tosi (EcoAgência).