GAZETA DO POVO, 06/12/2011.
Plantas geneticamente modificadas controlam parte dos insetos, mas, sem uso de veneno, outras pragas podem se reproduzir com mais frequência
Por Cassiano Ribeiro (O repórter viajou a convite da FMC)
O ganho de terreno do milho transgênico está sendo um filão de mercado para as indústrias agroquímicas que atuam no Brasil. Diante da tendência praticamente irreversível da utilização de sementes geneticamente modificadas (GM) nas lavouras, as empresas aproveitam o momento para lançar produtos e serviços, com aplicação direcionada especificamente a essas variedades.
A projeção da Expedição Safra Gazeta do Povo é que a área com milho transgênico no Brasil tenha saltado de 76% no ano passado para 90% nesta safra de verão. As apostas dos produtores estão sustentadas na promessa de maiores rendimentos do cereal GM.
A escolha por transgênicos deixa, por outro lado, a lavoura mais suscetível a pragas e doenças não controladas pela tecnologia inserida na semente, alerta o agrônomo e assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. “É muito difícil uma variedade transgênica oferecer altos rendimentos e ao mesmo tempo garantir sanidade”, afirma.
O quadro representa uma contradição, uma vez que boa parte dos milhos transgênicos produzem proteína que elimina insetos e, assim, prometiam dispensar controle químico. A questão é que essa proteína não elimina todas as pragas. Algumas delas, acabam inclusive ganhando força.
É de olho nesse quadro que a norte-americana FMC comercializa, a partir deste mês, um inseticida voltado ao tratamento de sementes de milho transgênico. Com a meta de abocanhar 8% do mercado de tratamento de sementes com inseticidas em oito anos, a empresa aposta agora no Rocks, um inseticida que promete dupla ação no controle das principais pragas que afetam as lavouras em sua fase inicial de desenvolvimento: contra mastigadores e sugadores.
Uma barreira química oferecida pelo produto impede que os mastigadores (como as lagartas) entrem em contato com as plantas. Os sugadores (como o percevejo) são exterminados ao entrarem em contato com o agrotóxico. “O Rocks tem ação sistêmica e de contato”, resume Gustavo Canato, gerente de produto da FMC.
Ele lembra ainda que os efeitos do produto tem duração de quatro semanas, período em que há maior infestação de pragas, e a aplicação deve ser feita na semente, antes do plantio. Segundo Canato, o controle das principais pragas que atacam as lavouras de soja e milho na etapa inicial de desenvolvimento pode garantir até 45% do potencial produtivo para a oleaginosa e 38% para o cereal.
Mudança dá novo estímulo ao uso de semente tratada
A necessidade de aplicação de agrotóxicos complementares às tecnologias transgênicas dá novo estímulo ao tratamento de sementes, que se consolidou nas últimas duas décadas em todo o Brasil. Em pelo menos dois terços das lavouras de soja e milho, essa prática já vem sendo adotada, conforme estimativas das indústrias.
Cerca de 80% dos agricultores brasileiros adotam tratamento de semente atualmente, avalia o gerente de Produto da FMC, Gustavo Canato. Ele considera que, há uma década, esse índice era de 20%.
“Com o tratamento, o produtor consegue economizar até 50% no uso de agrotóxicos nas lavouras de soja”, calcula Canato. A variedade Intacta, da Monsanto, que só deve entrar no mercado em 2015, tende a ser um dos alvos do inseticida Rocks, lançado pela FMC inicialmente para o milho.
A alemã Bayer, uma das maiores agroquímicas do mundo, também aposta na maior adoção do tratamento de sementes por parte dos agricultores. Anunciou que disponibilizará grãos tratados na indústria. O tratamento na fazenda exige treinamento específico e pode incorrer em desperdício, considera a empresa. (CR)