DCI, 02/02/2012
Alternativa possível é o uso de produto do grupo estrobilurina, cujo problema é valer três vezes mais por aplicação (R$ 30), segundo a Fundecitrus – São Paulo Araraquara
A substituição do fungicida carbendazin – utilizado nos laranjais brasileiros, mas restrito nos Estados Unidos, que são os maiores importadores da fruta – terá impacto negativo no custo de produção da próxima safra. As lavouras atuais, em geral, já foram pulverizadas com este defensivo, que se tornou um fator impeditivo ao desembarque da commodity nos EUA e no Canadá.
Uma das alternativas para o carbendazin – cuja função é prevenir a laranja das doenças pinta-preta e estrelinha – está no grupo químico da estrobilurina, que custa até três vezes mais no mercado nacional. As aplicações do carbendazin custam de R$ 10 a R$ 12 cada; já as de produtos com estrobilurina chegam a custar R$ 30, de acordo com um pesquisador do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
“Em vez de um produto que custa “xis”, teremos produtos de três “xis” (sic), agravando o custo para o produtor”, analisou o presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas. “Aumentam os problemas para o produtor, e ele fica com menos alternativas para fazer a rotação de produtos” – os fungicidas devem ser eventualmente trocados, pois os microorganismos criam resistência.
É por volta de fevereiro e março que termina a pulverização de fungicidas nos laranjais, o que daria margem à substituição do carbendazin já para a próxima safra. No entanto, “a safra seguinte já sofreu algumas pulverizações. Haverá concentrações menores, mas o carbendazin ainda estará presente num prazo de dois anos”, afirmou Viegas.
O presidente da Citrus-BR, Christian Lohbauer, que representa a indústria de suco de laranja no Brasil, discorda desse prazo. “O que a gente pretende fazer nos próximos dias é iniciar um trabalho com os produtores, para que eles comecem a retirar a utilização do carbendazim da produção”, disse ele.
Lohbauer acredita que, com as medidas de adequação, a laranja brasileira poderá ser exportada “com resíduo zero [de carbendazin]” para os EUA em um período de 12 a 18 meses. “Nós oferecemos, nas negociações com os EUA, um plano de retirada desse produto do mercado”, disse Lohbauer.
Discordância
No ramo da citricultura desde 1986, o citricultor André Abrantes possui 55 mil pés de laranja em sua propriedade, na região de Araraquara (SP), uma das principais regiões da citricultura nacional. Para Abrantes, o Brasil não tem mais que se sujeitar às normas norte-americanas.
“Acredito que já passou da hora de mostrar o quão sério a gente é. Temos as maiores indústrias do mundo e precisamos provar o que fazemos a cada dia”, frisou o produtor.
Produção paulista
A exigência dos Estados Unidos de se retirarem os fungicidas aplicados há vinte anos nos pomares brasileiros poderá afetar o mercado de produtores de laranja no Estado de São Paulo. Citricultores de Araraquara buscam uma solução para deixar de lado o carbendazin, mas reconhecem que qualquer mudança na lavoura a esta altura vai gerar aumento do custo da produção do suco e do combate às doenças.
Segundo os produtores, os gastos começam na compra de outros fungicidas, o que aumentará os custos em até 50% – a produção dos agrotóxicos também deve causar impacto no trabalho dos produtores. Especialistas informam que as opções de fungicidas disponíveis no mercado, como a estrobilurina, precisam ser usadas com orientação.
“O produtor precisa sempre procurar a melhor opção para qualquer tipo de plantação”, explicou o engenheiro agrônomo José Hugo Campos de Lima ao DCI. A orientação da Câmara Setorial da Agricultura, ligada ao Ministério, é substituir imediatamente o carbendazin. “O mercado [norte-]americano é tradicional, assim como o brasileiro, e por isso temos que arcar com as exigências”, afirmou o engenheiro.
Histórico
Os problemas enfrentados pelo suco brasileiro começaram porque os EUA não aceitam este tipo de fungicida desde 2009. No fim do ano passado, a agência americana que controla os alimentos foi avisada da presença do carbendazin e desde então vem fazendo testes na mercadoria que chega do Brasil. Atualmente, os EUA importam 15% da produção brasileira; o restante é enviado a países asiáticos e europeus.
Esta semana, navios que levavam suco brasileiro não puderam desembarcá-lo nos EUA nem no Canadá por causa da presença de carbendazin em níveis acima dos permitidos pelos países do norte. Onze carregamentos foram barrados – seis deles, no Canadá. Cinco navios estavam com suco brasileiro que apresentava quantidade de carbendazim acima do permitido pelos americanos.
Do total que seria exportado aos Estados Unidos, apenas 30% entraram no mercado norte-americano ao longo desta semana, segundo a Agência Estado.