Foto: Jornal de Londrina

VALOR ECONÔMICO, 15/02/2012

As restrições que a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) impôs a cargas de suco de laranja importado pelo país reduziram drasticamente as exportações brasileiras da commodity em sua tradicional forma concentrada (FCOJ) para aquele mercado. Em contrapartida, os embarques brasileiros para os EUA do suco integral de laranja pronto para beber (NFC), que tem menor possibilidade de rejeição, quase dobraram, em uma mudança de perfil que deverá durar pelo menos até o fim deste ano.

Alertado sobre a presença de um fungicida proibido nos EUA em suco importado (carbendazim), o FDA começou a parar navios e a testar as cargas de diferentes países no dia 11 de janeiro. Permitido em diversos produtores, inclusive no Brasil, o carbendazim foi banido no mercado americano em 2009. No suco pronto para beber, a presença do fungicida é diluída e seus baixos níveis de presença são aceitos pelos EUA. Já na forma concentrada e congelada, o nível sobe e ultrapassa limites que, desde janeiro, passaram a ser considerados inaceitáveis.

Com isso, as exportações brasileiras de FCOJ aos EUA somaram apenas 846 toneladas em janeiro, ante as 5,151 mil enviadas no mesmo mês de 2011, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Essas vendas renderam US$ 1,692 milhão no mês passado, muito abaixo dos US$ 8,646 milhões de janeiro do ano passado. Já os embarques de NFC ao mercado americano chegaram a 40,928 mil toneladas em janeiro, 103% mais que no mesmo mês de 2011. A receita desses embarques atingiu US$ 15,644 milhões, alta de 97,4% na mesma comparação. Houve, portanto, compensação.

As travas de Washington refletiram-se nas exportações totais do Brasil. Os embarques nacionais de FCOJ alcançaram 27,6 mil toneladas em janeiro, 21,2% menos que no mesmo mês de 2011, conforme a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). Ao mesmo tempo, as vendas de NFC ao exterior cresceram 13,3% e chegaram a 118,8 mil toneladas. O NFC ocupa de cinco a seis vezes mais espaço do que o FCOJ, por isso sua logística de transporte é mais complicada e influencia os preços, mais elevados.

Até a semana passada, a FDA já havia impedido o desembarque de 23 carregamentos de suco, 12 deles do Brasil. As cargas em questão testaram positivo para o carbendazim em níveis acima do permitido – 10 ppb (partes por bilhão). No caso das cargas brasileiras retidas, sete eram de FCOJ. O Valor apurou, contudo, que esse transtorno não deverá mais acontecer, uma vez que as grandes indústrias exportadoras – Citrosuco / Citrovita, Cutrale e Louis Dreyfus – vão evitar embarcar FCOJ aos americanos por pelo menos oito meses.

Enquanto isso, as empresas desviam cargas para outros mercados e identificam entre seus fornecedores de laranja aqueles que já não utilizam o carbendazim. Há menos de duas semanas, o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), mantido por indústrias e produtores, decidiu banir o fungicida dos pomares de São Paulo, Estado que reúne o maior parque citrícola do mundo e de onde saem mais de 80% das exportações brasileiras de suco de laranja.

As indústrias brasileiras não acreditam que os EUA compensarão todo o volume de FCOJ que deixará de ser exportado pelo Brasil com NFC. Elas trabalham com a expectativa de que os clientes operem com estoques, que devem desabar até o fim do ano, o que poderá levar os preços do FCOJ na bolsa de Nova York a novas máximas, como as observadas logo após o início dos testes da FDA. Mesmo com as disparadas, os futuros de segunda posição de entrega do FCOJ acumularam queda de 3,41% entre 10 janeiro e ontem, segundo cálculos do Valor Data.