Adital, 08/10 | No Uruguai, plantações de milho transgênico estão contaminando plantações não geneticamente modificadas (GM). Foi o que constatou o estudo “Interpolinização entre cultivos de milho transgênico e não transgênico comerciais no Uruguai”, realizado por pesquisadores das Faculdades de Agronomia, Química e Ciências da Universidade da República.
A pesquisa apresenta o primeiro grupo de dados científicos obtidos no país em condições de cultivos reais, que contribui para avaliar a eficácia da regulamentação e dos controles aplicados na contenção da contaminação transgênica no milho. Seu objetivo de investigação científica foi fornecer elementos concretos que alimentem o debate urgente sobre a viabilidade ou não da política de “coexistência regulada” entre vegetais geneticamente modificados e não modificados.
O estudo científico comprovou que três de cinco casos com potencial risco de interpolinização deram como resultado a presença de transgênicos na lavoura não geneticamente modificada. Isto significa que esse tipo de contaminação não é casual, mas sim bastante comum quando as datas de floração coincidem e há vizinhança de cultivos de milho GM e não-GM.
Com relação a distância que deve haver entre as plantações, o estudo concluiu ainda que o estabelecimento de uma distância maior à regulamentar de 250 metros, em um dos casos analisados, não evitou que existisse interpolinização.
“Em quatro dos cinco casos com potencial risco de contaminação, a distância entre os cultivos de milho não-GM e GM foi menor à regulamentar”, revela o relatório.
A pesquisa reuniu estudiosos de várias faculdades públicas e foi financiado pela REDES – Amigos da Terra Uruguai, por meio do Programa Uruguai Sustentável. Em março, durante um simpósio na Faculdade de Ciências, os avanços da pesquisa foram divulgados. No último dia 28, os ambientalistas enviaram o estudo e uma carta a todos os ministros que fazem parte do Gabinete Nacional de Biossegurança e ao presidente da Comissão para a Gestão do Risco, Enzo Benech, a fim de pedir a revisão das normas atuais.
A carta defende que a sociedade uruguaia necessita participar de um amplo debate sobre o tema, já que a moratória estipulada contra a liberação de novos eventos transgênicos de janeiro de 2007 a julho de 2008 não deu espaço a esse debate, isso porque as organizações da sociedade civil só foram convidadas a apresentar informações por escrito.
“Nossa organização vê com preocupação a aplicação desta nova política de ‘coexistência regulada’ pelo fato de que não tiveram mudanças, para além da nova estrutura institucional, nas condições que propiciaram a moratória”. “Os impactos sociais e ambientais continuam sem ser abordados e avaliados em profundidade”, diz a carta da REDES e Uruguai Sustentável.
Também na carta enviada aos ministros e ao presidente da Comissão para a Gestão do Risco os ambientalistas manifestaram sua preocupação pelas possíveis aprovações de novos milhos transgênicos, cujas solicitações já foram aceitas para avaliação, com um marco regulatório que não garante o direito a produzir cultivos convencionais ou orgânicos porque estão sob risco real de contaminação.
As informações são da REDES – Amigos de la Tierra Uruguay e publicadas pela Adital