ZERO HORA, 03/08/2012

A nova geração da soja transgênica

Ainda aguardando a aprovação da China, nova tecnologia da Monsanto divide opiniões por causa do custo

Para a Monsanto, será a revolução nas lavouras de soja do país. Para os produtores gaúchos, apesar da expectativa com a chegada ao mercado, uma tecnologia cara e pouco testada para justificar euforia e um valor cerca de seis vezes maior dos royalties. Segunda geração da soja transgênica da Monsanto, a Intacta RR2 mereceu, segundo a empresa, o maior trabalho de divulgação e de testes de campo no mundo, além de se tornar o primeiro produto a ser lançado fora dos Estados Unidos. Após ter a importação aprovada pela União Europeia em julho, aguarda apenas o aval da China, maior compradora da soja brasileira, para vender as sementes ainda a tempo da safra 2012/2013.

– Esperamos a aprovação chinesa entre o final de agosto e a primeira semana de setembro – projeta o gerente de marketing de soja da Monsanto, Marcelo Gatti.

Segundo a empresa, a nova tecnologia agrega duas vantagens à semente RR. Além da tolerância ao glifosato, tem produtividade superior e é imune às principais lagartas, uma das maiores inimigas da cultura, o que reduziria os custos da lavoura. Após seis anos de desenvolvimento, a Intacta foi testada em 500 pequenas áreas experimentais no país, sendo 89 no Estado. Os resultados no Sul, sustenta a empresa, comprovaram maior rentabilidade. A produção, na média dos três Estados da região, foi de 6,45 sacas a mais por hectare ante as demais variedades, enquanto a redução do custo com a aplicação de defensivos foi de R$ 70.

O valor de R$ 115 por hectare que a empresa pretende cobrar pela tecnologia é contestado por produtores gaúchos, pioneiros no plantio de soja transgênica no país. O presidente da comissão da soja da Federação da Agricultura do Estado, João Batista Fernandes da Silveira, sustenta que, além de o valor ser cerca de seis vezes superior ao do royalty da tecnologia atual (R$ 22 por hectare), os resultados da Monsanto não foram aferidos por órgãos oficiais de pesquisa.

– Não somos contra a tecnologia e a cobrança. Mas nos assustamos com os valores. Os testes foram realizados em apenas um ano, e o aumento de produtividade não foi certificado por nenhuma instituição pública – observa Silveira, ponderando ainda que as lagartas são um problema maior no Centro-Oeste.

Para Dirceu Gassen, gestor técnico da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto, apesar da necessidade de aguardar a resposta nas lavouras comerciais, a expectativa pelo lançamento é grande:

– Se der a resposta esperada, deve dominar o mercado. Cara é tecnologia que não funciona. Se os resultados se confirmarem, o royalty se paga.

Outra alternativa de pagamento nos próximos anos será sobre o valor da produção, 7,5% na moeda. Hoje é 2%. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura, que já discute na Justiça com a Monsanto a cobrança de royalties, é contra o pagamento na venda da produção.

caio.cigana@zerohora.com.br

CAIO CIGANA