JC e-mail 4597, 04/10/2012

Estudo sobre mandioca geneticamente modificada é retirado por falta de dados

Um estudo que no ano passado assegurou ter encontrado uma maneira de aumentar o conteúdo nutritivo da mandioca – alimento rico em energia, porém pobre em proteínas – foi retirado depois que os pesquisadores não conseguiram encontrar quaisquer dados de apoio que respaldassem suas afirmações.

A pesquisa, publicada na PLoS ONE em janeiro de 2011, foi citada pelo menos cinco vezes.

Texto traduzido pelo professor Nagib Nassar a partir do original em SciDev.net

Os autores afirmaram ter criado uma mandioca geneticamente modificada (GM) que continha um gene chamado zeolin, com o qual se aumentava o teor de proteína em 12,5% e que, potencialmente, permitia que a planta fosse “capaz de fornecer de proteínas vegetais de baixo custo para alimentação humana e animal, além de ter aplicações industriais”.

No entanto, o estudo foi recolhido este mês, após os autores não conseguirem encontrar o gene zeolin em plantas de estudos posteriores. O aviso de recolhimento diz que “uma investigação institucional revelou que quantidades significativas de dados e documentação de suporte alegados pelos autores não puderam ser encontrados” e que “a validade dos resultados não pôde ser verificada”.

A mandioca é um alimento básico em muitos países em desenvolvimento, mas o seu conteúdo nutricional é baixo – especialmente em proteína e micronutrientes. Pesquisadores do Laboratório de Biotecnologia Agrícola Tropical do Centro Donald Danforth afirmavam que estavam prestes a superar essa deficiência com a mandioca GM.

O principal autor do estudo, Mohammed Abhary, deixou o Centro de Danforth em meados de 2011 e seu autor correspondente, Claude Fauquet, não respondeu ao pedido do SciDev.Net de comentar o assunto.

Em declarações ao blog Retraction Watch, o presidente de Danforth, James Carrington, admitiu que questionamentos surgiram logo após a publicação do artigo, quando os pesquisadores tentaram ampliar os resultados. Carrington disse que uma análise mais sistemática “indicou que os materiais publicados no documento não correspondiam ao que foi descrito, e que os materiais que foram descritos não puderam ser encontrados”.

Rodomiro Ortiz, professor de fitomelhoramento e biotecnologia da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, disse ao SciDev.Net que o caso confirma a necessidade de não apenas ter rigor na pesquisa inicial, mas também de repetir as experiências antes da publicação. “É lamentável termos chegado a essa situação, mas [a retirada do estudo] era necessária para manter os valores éticos da investigação científica”, acrescenta.

Ortiz se mostrou cético quando o Scidev.Net lhe pediu um comentário independente sobre o estudo em 2011 e na época o pesquisador disse que seria necessário investigar muito mais as variedades selvagens e nativas da mandioca, por constituírem uma fonte importante de genes biofortalecedores da raiz, em vez de usar a modificação genética.