Milho transgênico RR viceja em meio a lavoura de soja RR no Mato Grosso. Foto: Leonardo Melgarejo
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VALOR ECONÔMICO, 03/1/2012
Por Tarso Veloso
Os produtores de soja de Mato Grosso têm se queixado que a tecnologia Roundup Ready (RR), empregada à primeira geração de milho transgênico no país, começou a atrapalhar o plantio da oleaginosa na safra atual (2012/13)
Os produtores de soja de Mato Grosso têm se queixado que a tecnologia Roundup Ready (RR), desenvolvida pela americana Monsanto e empregada à primeira geração de milho transgênico no país, começou a atrapalhar o plantio da oleaginosa na safra atual (2012/13). Como os dois grãos são dotados da mesma tecnologia que garante resistência ao herbicida glifosato utilizado no controle de plantas daninhas, ocorre, segundo os sojicultores, uma “concorrência” entre eles no campo.
A hipótese mais aceita pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja/MT), está na mistura de sementes. Segundo o diretor técnico da entidade, Nery Ribas, o produtor deixa sobrar sementes no solo de forma involuntária quando planta e colhe o milho safrinha (de maio a setembro). Na sequência, e assim que caem as primeiras chuvas, ocorre o plantio de soja. “E o milho que ficou na terra também acaba nascendo”.
Os agricultores tratam o cultivo invasor como “tiguera”, palavra de origem tupi para designar o aparecimento indesejável dessas plantas. Segundo a Aprosoja/MT, a aplicação do glifosato para esse fim não tem eliminado com eficácia o milho das lavouras de soja, que ainda concorre por nutrientes, luz e água. A associação também ouviu relatos similares de produtores que plantam milho convencional. A suposição é que a lavoura tenha sofrido contaminação por meio da polinização de plantios transgênicos, que por precaução deveriam estar separadas por uma barreira formada por vegetação.
Assim, os produtores já se preocupam com a possibilidade de a colheita da soja sofrer prejuízos com a presença de impurezas nos grãos, o que termina por reduzir os valores pagos pelas tradings.
A entidade mato-grossense planeja fazer um acompanhamento junto a instituições de pesquisa até o fim da colheita da oleaginosa, ainda neste mês, para se certificar sobre a resistência do milho RR ao herbicida. A variedade voltou a ser largamente utilizada nessa safra, embora a mais comum seja a do milho Bt, resistente a lagartas. Por enquanto, a Aprosoja/MT tem recomendado a aplicação de um graminicida – defensivo destinado a eliminar plantas de folha estreita, como é o caso do milho, transgênico ou convencional -, o que eleva os custos de produção, que incluem ainda a contratação de trabalhadores para retirar a “planta invasora” do campo.
Segundo Luciano Fonseca, gerente de gestão responsável de produto da Monsanto, o produtor não pode descuidar do controle das “tigueras”, a despeito da tecnologia. Segundo ele, a ocorrência dessas plantas depende de fatores como a qualidade da colheita do milho e o manejo correto do herbicida em um período muito curto entre uma cultura e outra, como é o caso de milho safrinha e soja. “Grãos que ficam no solo ou espigas em formação que não são retiradas, certamente irão se desenvolver quando houver condições favoráveis de umidade e temperatura”.
Plantas invasoras em cultivos com a tecnologia RR não são uma novidade no país. Sojicultores do Sul convivem há tempos com o aparecimento de ervas daninhas como o capim-amargoso e a buva resistentes ao glifosato. Por isso, a Fundação ABC, instituição de pesquisa formada por cooperativas paranaenses, insiste em recomendações tradicionais como rotação de plantios, uso de herbicidas com princípios ativos diferentes e respeito ao calendário de aplicações.