Assim avança o controle das multinacionais sobre as sementes, que definem as estratégias de melhoramento genético e lançamento de cultivares de acordo com seus interesses na venda de insumos. Restam cada vez menos opções para os agricultores.

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VALOR ECONÔMICO, 07/03/2013

Por Gerson Freitas Jr. | De São Paulo

A Bayer CropScience anunciou ontem mais um passo em sua estratégia para crescer em sementes de soja no Brasil – um mercado no qual ainda é incipiente.

A múlti alemã oficializou a aquisição do banco de germoplasma da Agropastoril, de Cascavel (PR), e um acordo para comprar a unidade de sementes de soja da Agrícola Wehrmann e a sua divisão de melhoramento genético (a Wehrtec), com sede em Cristalina (GO). A multinacional não revelou quanto desembolsou nos dois negócios.

A Bayer CropScience já havia adquirido outras duas companhias de perfil semelhante – a CVR, em 2010, e a Soytech, no ano seguinte. Com isso, a múlti tenta criar um banco de germoplasma que a permita acelerar o desenvolvimento de novas variedades e a sua pesquisa com transgênicos.

Desde que decidiu entrar no mercado de sementes, hoje dominado por Monsanto, DuPont e Syngenta, há apenas quatro anos, a gigante do setor químico elegeu como prioridades os mercados de soja e trigo, o que colocou o Brasil no centro de sua estratégia global.

“A área plantada com soja no Brasil deve alcançar cerca de 40 milhões de hectares até 2020, ante 28 milhões cultivados na última safra”, justificou o presidente da Bayer CropScience para a América Latina, Marc Reichardt, em entrevista ao Valor.

“Temos planos muito ambiciosos para expandir e finalmente ser um líder em sementes de soja no Brasil. Estamos muito bem posicionados para isso”. Segundo o executivo, a empresa possui um amplo portfólio de produtos geneticamente modificados em processo de desenvolvimento.

Entre eles, a Bayer estuda uma variedade de soja resistente ao nematoide (verme que ataca as raízes das plantas) e plantios tolerantes a novas classes de herbicidas. Ele não revelou, porém, quando esses produtos serão submetidos a registro no Brasil.

Apenas três meses depois de assumir a cadeira de CEO global da Bayer CropScience, o irlandês Liam Condon desembarcou ontem em São Paulo para sua primeira visita ao país. “O Brasil é um dos quatro “países-alvo” [mercados considerados prioritários do ponto de vista de investimento] para a Bayer. Acreditamos que o mercado de soja vai dobrar nos próximos 20 anos e queremos participar desse crescimento”, afirmou. Estados Unidos, Índia e China são os outros países-alvo da companhia.

No ano passado, as vendas da Bayer CropScience no Brasil cresceram 38% em moeda local, para R$ 3,085 bilhões (cerca de € 1,2 bilhão). Contudo, a maior parte da receita ainda está atrelada ao mercado de defensivos agrícolas. Em 2012, o segmento respondeu por quase 80% do faturamento global de € 8,4 bilhões, enquanto a participação das sementes foi inferior a 12%.

Em 2012, a Bayer CropScience registrou um crescimento nominal de 15% (12,4% considerando os ajustes de câmbio e portfólio). O resultado foi puxado pelas vendas para América do Norte e América Latina (bloco que inclui ainda os países da África e do Oriente Médio), que cresceram respectivamente 26,5% e 18,5%, em termos nominais, seguida por Ásia, com avanço de 11,4%, e Europa, com 8%.

Embora cresça menos, a Europa ainda é o principal mercado da companhia em volume de vendas (€ 2,7 bilhões), seguida por América do Norte (€ 2,15 bilhões), América Latina (€ 2,13 bilhões) e Ásia (€ 1,3 bilhões)

“Ficamos muito felizes com esse desempenho. Foi um ano bom para o mercado, com os preços das commodities em patamares ainda elevados”, afirma Condon. Para 2013, pondera o executivo, o cenário é menos favorável. Segundo ele, os mercados de defensivos e sementes tendem a desacelerar ao longo do ano. “A expectativa é que cresçamos apenas um dígito ao ano”. “Estamos falando de um setor cíclico. Tivemos dois anos de crescimento na casa dos dois dígitos, o que é inédito, então achamos que em algum momento o mercado vai desacelerar”, afirma Condon.

Segundo ele, o mercado ainda deve se manter aquecido no primeiro semestre, mas pode perder força no segundo, caso a previsão de uma safra recorde nos Estados Unidos se confirme. “Se isso acontecer, os preços das commodities tendem a cair, o que pode desestimular os investimentos por parte dos produtores”, explicou.

Condon ponderou, no entanto, que as vendas de defensivos e sementes para a América do Sul e do Norte (sobretudo, os Estados Unidos) devem continuar a crescer de maneira acelerada, provavelmente na casa dos dois dígitos – “se o mercado concordar”. “Ainda é cedo para fazer qualquer avaliação sobre a safra americana”. “Se tivermos alguma desaceleração, será na margem”, concorda Reichardt.