Agrolink, 28/03/2013
“a precaução é a melhor saída para quem não quer ter dor de cabeça com esta praga” …
Pesquisadores da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, estão trabalhando na busca por informações sobre o manejo, controle e comportamento da lagarta Helicoverpa armigera, que vem atacando as culturas de soja, milho e algodão em vários estados do Brasil e já causou prejuízos para produtores rurais, principalmente para os da Bahia, onde a incidência da praga foi altíssima nesta safra.
Após participar ativamente da identificação da espécie, agora a Fundação MT foca seus esforços em duas frentes de trabalho. A primeira é a busca por opções de manejo e controle. Além de experimento, dois pesquisadores da instituição estão na Austrália, país que já teve problemas com esta lagarta e já a tem sob controle. Eduardo Kawakami, pesquisador da Fundação MT, conta que os produtores australianos por três vezes tiveram quebra na safra do algodão por causa de problemas com pragas, inclusive a Helicoverpa, por isso hoje obedecem a risca as medidas sanitárias de manejo, conhecido como RMP (Resitance Management Plan). Esse programa tem como objetivo fundamental, evitar que ocorra o surgimento de populações de lagartas resistentes a inseticidas e principalmente as tecnologias Bts disponíveis no mercado. O pesquisador, que está na Austrália, cita que há diferenças da agricultura do Brasil e da praticada lá, mas que é possível aproveitar muito com as experiências deles.
Outras informações estão sendo levantadas pelos pesquisadores da Fundação MT. “Eles estão em contato com produtores e pesquisadores da Austrália que convivem há mais de dez anos com a Helicoverpa, conhecem o controle e podem nos dar subsídios para montarmos um plano de manejo de controle desta praga nova na agricultura brasileira. Eles também vão verificar sobre a adoção de tecnologias como uso de cultivares resistentes para combate desta lagarta”, explica Lúcia Vivan, entomologista da Fundação MT.
A segunda frente de trabalho tem o objetivo de organizar um workshop para discussão do tema passando por aspectos técnicos, manejo e controle, ameaça para o MT e experiências da classe produtora e científica com a praga.
Enquanto isso, Vivan alerta sobre a importância da classe produtora ficar atenta e tomar medidas preventivas. Monitoramento da lavoura é uma das principais recomendações enquanto não há um protocolo de manejo para controle da Helicoverpa. “Mesmo que a incidência desta praga foi pequena em Mato Grosso, a precaução é a melhor saída para quem não quer ter dor de cabeça com esta praga. Melhor agir preventivamente antes do problema se instalar no estado”.
Outra recomendação citada pela pesquisadora é uso de um produto importado liberado recentemente pelo governo brasileiro e que já é adotado no controle da lagarta em países como os Estado Unidos, Japão, União Europeia e África.
“A partir das informações que serão trazidas pelos nossos colegas da Fundação MT e mais as informações que continuamos coletando nos campos experimentais com um trabalho de investigação específico sobre a Helicoverpa, vamos poder ajudar o produtor na tomada de decisão e apresentar medidas de controle desta lagarta”, afirma a pesquisadora. Segundo ela o plano de manejo regional da praga terá como base o manejo integrado de pragas que é já usado no Brasil.
Estudo da Helicoverpa – Lúcia Vivan investiga a presença desta lagarta desta a safra 11/12. Em Mato Grosso, Vivan a encontrou na lavoura de milho na região Sul e Sudeste do estado. A presença desta praga em Mato Grosso foi considerada normal, diferente do que foi registrado na Bahia, onde desde a safra passada, ela apareceu no algodão e causou muitos prejuízos.
Nesta safra (12/13) o trabalho da entomologista começou no ciclo da soja para saber qual a espécie da praga, se era zea, gelotopoeon ou armigera. “No primeiro momento avaliei a presença de lagartas da Helicoverpa, porque a olho nu ela se parece com a lagarta da maça (Heliothis virescens). Depois com a confirmação que ela estava presente na lavoura, passei a fazer amostras para identificar a espécie”, relata a entomologista.
Um trabalho conjunto da Fundação MT, da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Embrapa possibilitou a identificação da espécie da Helicoverpa presente em lavouras além de soja, milho e algodão, nas de feijão, sorgo e milheto no Brasil.
“Nós avaliamos a presença da lagarta, realizamos coleta, fizemos separações dos machos e fêmeas, investigamos as ações dela nas lavouras, mandamos amostras coletadas nos campos experimentais para um taxonomista, e por fim o trabalho em conjunto possibilitou a identificação da espécie”, explana Vivan.
De acordo com a pesquisadora a lagarta é muito agressiva, ataca folhas das plantas, vagens e consomem os grãos, na cultura do algodão se alimenta das folhas, flores e maças. “Há relatos de produtores na Bahia que chegaram a fazer mais de seis aplicações de inseticida. É uma praga com alta capacidade para adquirir resistência. Por isso é importante a união neste momento de todos, governo, entidades de classe, instituições de pesquisa, produtores e empresas para a montagem de um plano de controle imediato da Helicoverpa”, finaliza Vivan.