Altemir Tortelli, deputado estadual do PT/RS, agricultor, ex-coordenador da Fetraf-Sul/CUT
Demilson Fortes, engenheiro agrônomo, ecologista, assessor da bancada do PT/RS
Rádio Solaris, 30/04/2013
O Conselho do Feaper, no dia 23 de abril, aprovou por maioria, colocar milho transgênico no programa Troca-Troca de Sementes. Esta decisão pode trazer grandes impactos, muitos ainda não dimensionados. As entidades e os órgãos do governo estadual ao aprovarem a proposta, avalizam e aceleram a disseminação de uma tecnologia polêmica e discutível do ponto de vista ambiental, econômico e social.
Mas, necessitamos mesmo de milho transgênico? Acreditamos que não. Analisamos que esta não é uma boa opção para construir uma agricultura familiar sustentável e uma produção de alimentos que dê segurança e soberania alimentar ao Brasil. O Estado deve apoiar e promover os sistemas ecológicos sustentáveis e não os transgênicos, porque estes reforçam o poder das corporações agroquímicas e a dependência. Pelos riscos associados, alguns evidentes, outros potenciais, defendemos que está é uma opção equivocada, portanto, somos contrários.
Temos muita diversidade de milho variedade, algumas desenvolvidas pela pesquisa e outras sementes crioulas, conservadas, adaptadas e melhoradas pelos agricultores ao longo de centenas de anos. O transgênico pode contaminar geneticamente estas variedades, que podem ser perdidas. Também, ao ser detectado gene transgênico na planta, o agricultor passa a pagar royalties, aumentado o custo, a exemplo da soja. Há estudos que ligam transgênicos a riscos à saúde, logicamente, quem consome vira cobaia; faltam pesquisas epidemiológicas.
No entanto, o debate é para além do milho. Discute-se concepção de desenvolvimento, prioridades, opção tecnológica, segurança e soberania alimentar, agrobiodiversidade e a nossa responsabilidade e relação ética com tudo isso.
Defendemos que se há riscos ecológicos irreversíveis, o princípio da precaução deve orientar a opção. Sociedade e agricultores perdem com os transgênicos, que traz riscos e reforça o modelo agrícola predatório e insustentável. Ilude-se quem acha que dependência e riscos ajuda os agricultores.
Não é sensato colocar em risco o futuro e o estratégico pelo imediato. Disputa-se algo que envolve o futuro da alimentação da humanidade. Por certo, os gestores públicos deveriam saber que tecnologias não são neutras.
Seria bom prestar atenção no alerta de Pat Roy Mooney: ‘quem domina as sementes, domina a humanidade’. Há caminhos que não devemos seguir.