Monsanto e cia prometeram mundos e fundos com suas novas sementes, mas os resultados práticos estão aí: prejuízos milionários arcados pelos produtores e um ambiente cada vez mais encharcado de venenos.
“o custo adicional para controle de azevém e buva resistentes, com herbicidas ou medidas alternativas está entre R$ 140 e R$ 585 milhões por ano”
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Agrosoft, 15/05/2013
A produção de grãos, principalmente de soja no Sul do Brasil, vem de lavouras que utilizam sementes transgênicas, com o uso do herbicida glifosato em larga escala como forma de facilitar o manejo de plantas daninhas na lavoura. Contudo, esta prática tem resultado no aumento de casos de resistência de plantas daninhas aos diversos herbicidas disponíveis no mercado.
Somente no Rio Grande do Sul, biótipos de azevém e de buva resistentes ao glifosato estavam presentes em mais de 80% das lavouras de soja na última safra. Custos adicionais e perdas no rendimento de grãos estimados em R$ 1,15 bilhão. Os números estão no levantamento realizado por pesquisadores e cooperativas para monitorar a dispersão do problema no Estado.
O herbicida glifosato vem sendo utilizado há mais de 20 anos pelos agricultores, principalmente na dessecação da vegetação para formação da palhada, indispensável para implantação do sistema plantio direto. A introdução da soja transgênica, resistente ao glifosato, foi rapidamente aceita e adotada pelos produtores. Isso se deve, principalmente, ao fato do glifosato ser um herbicida eficiente sobre a maioria das espécies daninhas, relativamente de fácil aplicação e de baixo custo. Atualmente, são realizadas de duas a três aplicações de glifosato por ciclo da soja, uma na dessecação e uma ou duas na pós-emergência da cultura.
Os dois primeiros casos de resistência ao glifosato no Brasil foram identificados no Rio Grande do Sul (azevém em 2003 e buva em 2005). Depois disso, dispersou-se rapidamente por todo o Estado e também para Santa Catarina e regiões frias do Paraná. Em 2010 e 2011, foram identificados biótipos de azevém com resistência múltipla, tanto ao glifosato como a herbicidas inibidores da enzima Acetyl-CoA Carboxylase (ACCase) e inibidores da Acetolactato sintase (ALS).
As resistências do azevém e da buva restringem o controle dessas espécies ao uso de herbicidas alternativos, que são menos eficientes, possuem maior custo e são fitotóxicos para as culturas. Dessa forma, o controle ineficiente de buva e azevém resistentes tem resultado em perdas de rendimento, em casos extremos, superiores a 45%.
Diagnóstico no Rio Grande do Sul
Uma ação conjunta da Embrapa Trigo e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) junto com 28 cooperativas e revendas do Rio Grande do Sul, está monitorando e mapeando a dispersão das resistências de azevém e buva no Estado, com coleta de sementes e levantamentos nas áreas infestadas.
“Os locais de coleta de sementes são georeferenciados e as plantas originadas dessas sementes, usadas em estudos de ecofisiologia e determinação das bases genéticas da resistência. As informações são utilizadas na elaboração de mapas de dispersão das resistências. Após elaboração dos mapas, são enviados alertas e indicações de manejo específicas para cada região e realizados cálculos do custo da resistência, ajudando a assistência na decisão de quando e qual produto aplicar”, explica o professor e pesquisador da UFPel, Dirceu Agostinetto.
A partir dos levantamentos, identificou-se que, na safra 2012 de soja, os biótipos de azevém e buva resistentes ao glifosato estavam presentes em mais de 80% das lavouras do Rio Grande do Sul. Além disso, os biótipos de azevém resistentes aos inibidores da ACCase e da ALS, além de glifosato, estavam em mais de 30% das lavouras. A presença de azevém com resistência múltipla e de buva resistente ao glifosato elimina a possibilidade de uso dos principais herbicidas utilizados para controle dessas espécies. Com isso, aumentou a presença dessas plantas daninhas nas lavouras.
Com base nos mapas de dispersão e a partir de informações sobre a capacidade competitiva da invasora e o nível de dano que pode causar, foi possível estimar as perdas de rendimento e os custos da resistência em 2012, no RS. Assim, o custo adicional para controle de azevém e buva resistentes, com herbicidas ou medidas alternativas está entre R$ 140 e R$ 585 milhões por ano. Em média, as perdas são ao redor de 10%, aproximadamente R$ 1,15 bilhão no RS. Dessa forma, o retorno pelo uso das indicações de manejo está entre R$ 565 milhões a R$ 1,01 bilhão.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Leandro Vargas, os casos de resistência historicamente foram resolvidos com uso de moléculas alternativas ou com a introdução de novas tecnologias (como a soja RR). “O problema é que no momento não existem perspectivas de lançamento de novas moléculas ou tecnologia com potencial de controle eficiente do azevém e da buva. O produtor e a assistência técnica precisam estar conscientes do quanto é importante buscar estratégias alternativas para controle dessas espécies, que passam obrigatoriamente pelo manejo correto dos herbicidas e pelo próprio sistema de manejo da lavoura”, alerta Vargas.
Tem solução?
Os pesquisadores têm avaliado o cultivo consecutivo, ou seja, sem períodos de pousio das áreas de lavoura, como a melhor estratégia de controle de plantas daninhas. Culturas como trigo, centeio, canola, aveia e soja, que apresentam elevada capacidade de cobertura do solo com reconhecido efeito alelopático, podem diminuir o número de plantas de buva e azevém em até 65%, quando comparado a áreas de pousio.
O uso de estratégias como sobre-semeadura de aveia em lavouras de soja e cultivo de culturas concomitantes, a exemplo de Brachiaria ruziziensis cultivada juntamente com o milho, também apresentaram excelentes resultados.
“O uso dessas práticas associadas à alternância e à associação de diferentes mecanismos de ação herbicida, juntamente com o monitoramento e a eliminação mecânica ou manual de plantas daninhas sobreviventes aos tratamentos herbicidas, resultou em controle total das daninhas”, comemora Leandro Vargas.
Parceiros do projeto
Embrapa (unidades de Trigo, Soja, e Milho e Sorgo), Universidade de Passo Fundo (UPF), UFPel, CCGL-Tec, Cotrijal, Cotrisoja, Cotriel, Cotrimaio, Getagri Assessoria Agrícola, Cooperativa Agrícola Tupanciretã (Agropan), Cotrijuí, Camera, Cotricampo, Cooperativa Tritícola Santa Rosa (Cotrirosa), Coopermil, Comtul, Planta Sul Insumos Agrícolas, Cooperativa Tritícola Sarandi (Cotrisal), CooperA1, Cotrifred, Cooperjab, Cotapel, Cooperativa Agricola Nova Fiume (Coofiume), Cooperativa Tritícola Sananduva (Cotrisana), Coamur, Coppal, Camol, Coagrisol, Cooperval, Coopibi, Agrimul e Coasa.
FONTE: Embrapa Trigo
Joseani M. Antunes – Jornalista
Telefone: (54) 3316-5860
Plantas Daninhas: O custo da resistência
14 de Maio de 2013
A transgenia trouxe muitas vantagens ao homem do campo, mas também muitos problemas que hoje são difíceis de ser solucionados. O uso inadequado do glifosato levou a resistência de algumas plantas daninhas que tem sido um grande causador do aumento no custo de produção.
Os prejuízos com azevém e buva no Rio Grande do Sul, somados, chegam a quase R$ 1 bilhão.O pesquisador da Embrapa Trigo, na área de Plantas Daninhas, Leandro Vargas explica que antes do surgimento da soja RR havia alguns problemas com relação a plantas daninhas e, a transgenia veio para solucionar a resistência aos herbicidas convencionais.
No Rio Grande do Sul, a soja RR chegou em 2000 e, três anos depois já foi identificada a primeira resistência ao azevem. A partir disso, começou a se fazer alguns manejos, mas como a soja RR só foi oficializada em 2005 foram quase cinco anos em que não se pôde fazer muitos avanços tecnológicos.
Nem mesmo os produtores relatavam os problemas, porque se tratava de uma soja contrabandeada da Argentina. E assim, o azevem se alastrou por todo o Estado, ficando restrito ao Sul do país, devido ao clima frio.
Em 2005, surgiu a segunda espécie resistente que foi a buva. Iniciou em Cruz Alta e se dispersou rapidamente pelo Estado, porque uma planta de buva produz mais de 200 mil sementes e é facilmente carregada pelo vento, assim, se dispersou também para Santa Catarina, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. “A buva é um produto de exportação do RS”, declara Vargas.
O pesquisar explica que as plantas daninhas ocorrem em épocas diferentes, mas são igualmente agressivas. O azevem é de inverno atingindo culturas de inverno e a buva germina em julho e agosto, atingindo a soja e o milho.
No Rio Grande do Sul, cerca de 80% da área cultivada possui azevem e, 86% da área de soja tem buva, sendo que são 4 milhões de hectares com soja. O pesquisador diz ainda que a maior parte das áreas que tem azevém, também há buva.
Custos
O controle da buva varia de R$ 4,00, a R$ 153,00 por hectare e do azevem entre R$ 40 a R$ 130,00/ha. Compondo o custo total, incluindo buva e azevém no Rio Grande do Sul, por causa da resistência, fica entre R$ 112,9 milhões a R$ 928,2 milhões. “O gasto de quase R$ 1 bilhão no Estado, encarecendo o custo de produção devido a resistência. O lucro do produtor acaba se dissipando”, observa.
Glifosato
O pesquisador da Embrapa Trigo lembra que quando a soja RR entrou no mercado, todos agricultores começaram a usar o glifosato. E isso acontece se surgir outra tecnologia e for utilizada repetidamente também vai se tornar ineficiente. “O glifosato foi usado de forma inadequada”, observa.
Perspectiva de cultivares tolerantes a herbicidas no Brasil
Entre os temas que vão ser abordados no Encontro Nacional sobre Resistência de Plantas Daninhas, que aconteceu na quinta-feira (09) em Passo Fundo estava as novas tecnologias e o que há de novidade e suas vantagens. “Mas não temos nada de novidade, esse é o recado. O produtor rural precisa fazer manejo integrado, porque no curto prazo não há uma nova alternativa tecnológica que visa a solução da resistência de plantas daninhas”, acrescenta.
Vargas explica que antes da soja RR, os produtores rurais seguiam uma série de práticas de manejo, evitando a dispersão de plantas daninhas, utilizava culturas com espaçamento reduzido, controle mecânico, sempre associado ao controle químico. Hoje, o com o glifosato, o produtor depositou toda força no químico e deixou de lado o controle cultural, controle preventivo. Esqueceu de associar estratégias de manejo e ainda, parou de fazer a rotação cultura.
[o agricultor depositou toda força no quimico porque acreditou na propaganda que alardeava, entre outras, facilidade no manejo]
No encontro também foi explicada a importância das culturas de cobertura de solo. “Para ter o controle de buva e azevem, tem que manter o solo sempre coberto, cultivar área no inverno, com aveia por exemplo. Deixando em pousio, a área ficará tomada pelo azevem e buva e não temos herbicidas para controlar isso. Tem que cobrir essa área e não dar espaço para plantas daninhas crescerem e se desenvolverem”, ressalta o pesquisador.
Milho RR
O milho RR também teve em destaque no encontro. Se trata de uma nova ferramenta, porém, se os produtores começarem a usar soja RR seguida de milho RR, vai ocasionar um aumento no número de plantas resistentes ao glifosato. O milho RR está no mercado há cerca de dois anos, mas os produtores não estão fazendo alternância de herbicida e sim, usando culturas resistentes ao glifosato. “Assim só vai piorar a situação e vamos acabar perdendo o glifosato”, alerta.
Com essas resistências, o pesquisador diz que é importante perceber que o Plantio Direto está sendo colocado em risco. “Por isso fazemos a pergunta, será que precisamos de milho RR?”, questiona, acrescentando que “quando se faz o custo de controle do milho convencional e RR, eles ficam muito próximos, em alguns casos o milho RR é até mais caro. É uma tecnologia que chega, mas que faz nos perguntar se vale a pena, porque ela traz o problema de induzir ao uso de mais glifosato, sendo que queremos reduzi-lo, ir pelo caminho oposto”, ressalta.
Fonte: Diário da Manhã – Passo Fundo/ DM/ Agrolink
http://www.esalq.usp.br/cprural/noticias.php?not_id=167