Movimento na internet já mobilizou dois milhões de pessoas. Elas acusam a multinacional de usar sementes transgênicas para obter monopólio da indústria alimentícia. Brasil produz soja, milho e algodão transgênicos
Terra, 28/05/2013
Uma série de protestos contra a Monsanto mobiliza manifestantes em várias partes do mundo. As demonstrações, que começaram no Facebook, ganharam as ruas de 52 países em 436 cidades e mobilizaram até 2 milhões de pessoas no último fim de semana. No Brasil, onde a empresa mantém uma unidade de produção, os protestos não tiveram muita repercussão.
A “Marcha contra a Monsanto” já tem novas datas agendadas – a próxima acontece em julho. Os manifestantes acusam a Monsanto de fazer uso de sementes modificadas para obter o monopólio da indústria alimentícia e de forçar a dependência dos agricultores. Para atingir esse objetivo, a empresa teria se infiltrado no política e na área científica. Ativistas alegam ainda que a produtora global tenta patentear a vida e coloca em perigo a saúde dos consumidores.
A multinacional contesta as acusações. “O uso da engenharia genética é segura”, alegou Ursula Lüttmer, da Monsanto Alemanha. Em entrevista à DW, ela afirma que a segurança da tecnologia já foi comprovada em diversos estudos. E ainda: os manifestantes se recusam a aceitar esse fato e fazem uma “leitura seletiva” das informações.
A empresa se defende dizendo que os investimentos visam à agricultura sustentável, que ajude a produzir mais, além de proteger os recursos e promover um melhor padrão de vida. Lüttmer disse ainda que até hoje não foram encontradas quaisquer desvantagens para os seres humanos, animais e meio ambiente.
Transgênico liberado no Brasil
Nenhum outro grupo prioriza tanto investimentos em alimentos geneticamente modificados como a Monsanto. A companhia também tem a política de comprar outras empresas menores e, por isso, fica cada vez maior. Críticos dizem que se trata de um “quase monopólio”. No Brasil, a multinacional está instalada desde 1963 e produz sementes transgênicas de soja, milho e algodão.
Na Alemanha, o cultivo de plantas geneticamente modificadas é proibido até para fins de teste. Em outras partes da Europa, as sementes da batata transgênica Amflora, da empresa Basf e o MON 810, um tipo de milho produzido pela Monsanto, são liberadas. As áreas de cultivo no continente, por outro lado, são pequenas em comparação com a América do Sul e do Norte.
Briga por lucro deixa empresas revoltadas
Inicialmente, muitos agricultores dos EUA estavam entusiasmados com o sucesso econômico que a Monsanto prometeu. As plantas geneticamente modificadas e o herbicida correto seriam as garantias de lucro fácil para o produtor. No entanto, os agricultores precisam comprar novas sementes a cada ano. A tentativa de fazer a multiplicação da semente por conta própria, alega a Monsanto, configura uma violação de patente.
Ao mesmo tempo, aponta a especialista em transgênico Stephanie Töwe, do Greenpeace, o agricultor precisa lutar contra o aumento da resistência das sementes. “É por isso que o uso de agrotóxicos tem aumentado drasticamente nos Estados Unidos nos últimos anos. Brasil e Argentina também entraram na lista por causa do plantio da soja e do milho geneticamente modificados”, diz Towe. Isso explica o desenvolvimento de novos transgênicos, capazes de suportar mais pesticidas.
O Greenpeace considera este ciclo “perverso”: “Estas plantas precisam ser testadas em animais nos laboratórios, como se fossem medicamentos. Existem plantas suficientes no mundo que podem ser cultivadas sem precisarem de tais testes.” A organização considera sementes geneticamente modificadas desnecessárias, com riscos potenciais que geralmente não podem ser estimados.