Entidades ambientalistas pedem a não distribuição das sementes transgênicas pelo Troca-Troca e o investimento em Bancos de Sementes para garantir a soberania alimentar e nutricional dos gaúchos

Por Eliege Fante – especial para a EcoAgência, 25/05/2013

Os representantes de entidades ambientalistas e estudantes que realizaram a Marcha contra a Monsanto hoje (25), em Porto Alegre (RS), entregaram um documento ao Secretário Executivo do Gabinete do Governador, Itiberê Borba, e também ao ex-presidente da Agapan e coordenador do Programa de Sustentabilidade do Governo, Francisco Milanez. No Salão dos Espelhos do Palácio Piratini, eles receberam uma cesta com variedades de milho crioulo, ofertadas pelo agricultor da Associação Agroecológica, Vilmar Menegat, provenientes do banco de sementes crioulas com grande biodiversidade que ele mantém.

O documento descreve os problemas vigentes gerados pela multinacional Monsanto nos países onde comercializa os transgênicos e os agrotóxicos, como a ameaça às sementes nativas e a biodiversidade local, o uso crescente de venenos para combater a manifestação da biodiversidade visando garantir a sua monocultura de grãos. O Brasil está prestes a conquistar em 2013, pela sexta vez consecutiva, o título de campeão no consumo de venenos, o que significa que a agricultura brasileira utiliza 20% do volume de agrotóxicos produzidos por empresas multinacionais, principalmente, a Monsanto. A ameaça à saúde é imediata e não apenas através da alimentação, mas da manipulação dessas substâncias pelo agricultor, porque a contaminação acontece pelo contato, pelo ar e pela água. Atualmente, 24 ingredientes ativos de agrotóxicos que estão entre os mais utilizados no país, já foram banidos nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e em outros países. Catorze estão sendo reavaliados e, dos dois proibidos somente o Endosulfan não poderá ser comercializado no Brasil a partir de 31 de julho de 2013. Mas, os outros onze seguem eliminando a biodiversidade, como as plantas que “dão por si”, são conhecidas dos povos tradicionais e das pessoas mais velhas devido o potencial medicinal, fitoterápico, alimentício, e muitos outros, como é o caso das Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANC’s).

Os ativistas presentes requereram um posicionamento do Estado sobre a decisão do Conselho Administrativo do Fundo Estadual de Apoio aos Pequenos Empreendimentos Rurais (Feaper), do Estado do Rio Grande do Sul (RS), no dia 23 de abril, de reintroduzir o produto transgênico da Monsanto no programa Troca-Troca de Sementes de Milho na próxima safra 2013/2014. Em 2010, entidades como o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) e o Fórum de Agricultura Familiar da Região Sul do RS, conseguiram reverter a decisão e possibilitaram a doação de cerca de 30 toneladas de milho crioulo a seis mil famílias de agricultores familiares. O pedido das entidades ambientalistas é para que o Governo impeça a introdução das sementes transgênicas nos campos da agricultura familiar pelo Troca-Troca e adote em seu Programa de Sustentabilidade o investimento em Bancos de Sementes Crioulas de modo a garantir a soberania alimentar e nutricional dos gaúchos.

O Secretário Executivo do Gabinete do Governador disse que Tarso Genro vai ter acesso ao documento e, também, à cesta que representa a biodiversidade do milho crioulo gaúcho. Itiberê Borba garantiu que o documento vai ser avaliado pelo Governo do Estado. Francisco Milanez parabenizou os ativistas e os estudantes que manifestaram-se pelas ruas de Porto Alegre contra o modelo de homogeneização da economia e da cultura pelo agronegócio, na Marcha contra a Monsanto. “A contaminação das lavouras por transgênicos é uma tragédia. Precisamos garantir o direito dos agricultores de cultivar as espécies nativas antes que a contaminação seja total e de preservar este patrimônio genético que pertence à humanidade,” disse.

O documento foi assinado pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), pela Associação Agroecológica, pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, pela Fundação Gaia – Legado Lutezenberger, pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), pela ong IGRÉ Amigos da Água, pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam), pelo Centro de Estudos Ambientais (CEA) e pela ONG Pachamama.