Por AP de Los Angeles | Via Valor Econômico, 28/05/2013
Milhares de pessoas foram às ruas no sábado em 436 cidades de 52 países para pressionar pela rotulagem de alimentos processados contendo ingredientes transgênicos. As demonstrações tiveram como alvo a multinacional americana Monsanto, uma das líderes mundiais no desenvolvimento de sementes modificadas geneticamente de modo a tornar as plantas mais resistentes a herbicidas, insetos e outras pragas, além de tolerantes a estresse hídrico e calor [estas últimas estão apenas na promessa, e as primeiras geram plantas e pragas resistentes].
Sob o slogan “É meu direito saber”, os manifestantes da “Marcha contra a Monsanto” demandaram a identificação da transgenia nas embalagens, apesar de muitos governos federais e cientistas afirmarem que a tecnologia é segura.
O debate tem ganhado fôlego sobretudo nos Estados Unidos, país com a maior adoção da biotecnologia nas lavouras de milho, soja e algodão. Atualmente, o FDA, órgão do governo americano que regulamenta medicamentos e alimentos, não exige a rotulagem.
A principal argumentação para a identificação é que as sementes modificadas estão sendo carregadas pelo vento e contaminando lavouras convencionais e orgânicas. Na semana passada, o Senado americano rejeitou por maioria uma emenda que requeria a rotulagem. A Organização das Indústrias de Biotecnologia, lobby de Monsanto, DuPont Pioneer, Syngenta e outras, afirma que a identificação obrigatória confundiria os consumidores, levando-os a pensar que o produto não é seguro.
Iniciativas estaduais, no entanto, apontam para o caminho inverso. Em Vermont e Connecticut, os legisladores decidiram que cabe às empresas alimentícias fazer a distinção nas embalagens. Paralelamente, a Whole Foods, gigante varejista de alimentos orgânicos e naturais nos Estados Unidos, afirmou que todos os produtos vendidos nos seus supermercados do país passarão a adotar o mesmo procedimento a partir de 2018.
No Brasil, a rotulagem é obrigatória desde 2003, com a publicação do decreto nº 4680, que obrigou empresas da área da alimentação a identificarem – com um “T” preto sobre um triangulo amarelo – o alimento com mais de 1% de matéria-prima transgênica.
Sediada em St. Louis, a Monsanto afirma que respeita o direito de expressão pública, mas mantém que suas sementes ajudam os agricultores a elevar a produtividade no campo (produzir mais alimentos) na mesma área plantada, o que permite conservar recursos naturais como água e energia. Mas críticos à tecnologia argumentam que as alterações genéticas podem levar a problemas de saúde e ao meio ambiente. Não há ainda, porém, uma série histórica longa o suficiente para permitir conclusões definitivas sobre o assunto.