Valor Econômico, 05/06/2013
A demanda brasileira por etanol só poderá ser atendida ao longo desta década se o país fizer deslanchar a produção do etanol celulósico – o chamado etanol de segunda geração -, afirmou o empresário Bernardo Gradin, no seminário “agricultura como Instrumento de Desenvolvimento Econômico”, realizado ontem pelo Valor e pela Bayer CropScience, braço agrícola da multinacional alemã, em São Paulo.
Citando projeções da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o executivo disse que o consumo de etanol saltará dos atuais 22 bilhões de litros para algo entre 47 bilhões e 68 bilhões de litros em 2020. Nessas estimativas, a Unica considera que os carros flex representarão entre 80% e 85% da frota do país. “Mas o etanol de primeira geração não vai conseguir suprir essa demanda”, afirmou Gradin.
Gradin é um dos fundadores da GranBio, empresa que detém um megaprojeto de produção de etanol celulósico. A companhia é uma das maiores apostas dos Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)* para tornar viável economicamente a produção de etanol de segunda geração. A empresa está construindo uma unidade de etanol celulósico no Estado de Alagoas. Com previsão de entrar em operação em fevereiro de 2014, a planta terá capacidade para produzir 82 milhões de litros de etanol por ano, segundo o empresário. Trata-se da maior unidade voltada à produção de etanol celulósico do país.
Bernardo Gradin acredita que o etanol de segunda geração terá viabilidade econômica num prazo relativamente curto – de três a cinco anos. “A tecnologia já está mais presente do que os formuladores de políticas públicas pensam”, disse o empresário.
Nesse contexto, projeta ele, o biocombustível de segunda geração contribuirá com um aumento de 45% na produção de etanol. O executivo faz esses cálculos considerando uma colheita de 80 toneladas de cana por hectare. Atualmente, essa quantia é capaz de produzir 3,3 mil litros de etanol. Com o celulósico, o bagaço dessa mesma cana produziria 500 litros, enquanto que a palha da cana contribuiria com mais 1,1 mil litros.
Mas o otimismo do fundador da GranBio não é compartilhado por Pedro Mizutani, vice-presidente de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen (joint venture entre Cosan e Shell), líder na produção de açúcar e etanol no país. Segundo ele, a tecnologia pode levar até dez anos para se tornar viável, uma vez que os custos, principalmente de enzimas, ainda são impeditivos. (LHM)
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* Não custa lembrar outra grande aposta como essa em que o Estado brasileiro injetou muito dinheiro e o resultado final foi parar na mão da Monsanto:
Ministro Sérgio Resende critica venda de Alellyx e Canavialis para a Monsanto
“Não sei quanto a Votorantim colocou nessas empresas ao longo desses anos, mas o setor público colocou muito dinheiro”, disse Rezende. “A venda para qualquer grupo estrangeiro é decepcionante. Como é que eles foram vender duas jóias como essas, tão importantes para o País?”
Segundo Rezende, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), aprovou R$ 49,4 milhões em subvenção econômica (investimento a fundo perdido) para pesquisas nas empresas nos últimos três anos – dos quais R$ 6,4 milhões já foram desembolsados. “São duas empresas que receberam investimentos do governo e, justo quando esse investimento estava amadurecendo, foram vendidas por um preço bastante módico”, disse. A venda para a Monsanto foi fechada por US$ 290 milhões (R$ 616 milhões).
O investimento público já desembolsado representa cerca de 6% do que foi investido pela Votorantim nas empresas – entre R$ 95 milhões e R$ 100 milhões. Os convênios com a Finep foram firmados por meio de editais públicos, em que muitas empresas foram beneficiadas. (…)
O Estado de S. Paulo, 05/11/2008.
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